O livro Jésus et Israël, de Jules Isaac, e a declaração Nostra Aetate: um diálogo bakhtiniano entre o ato responsável e responsivo

Resumo

Apresentado no I Congresso Internacional de Estudos Judaicos da Universidade de São Paulo.

O historiador e educador Jules Isaac foi um judeu que nasceu e viveu na França entre o final do século XIX e parte do século XX, período que envolve a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, onde ele desenvolveu uma ampla e profunda pesquisa sobre o antissemitismo.  Isaac tinha a proposta de alteração da catequese antijudaica da Igreja Católica como uma das formas de combatê-lo. Ao final de sua pesquisa, ele escreveu o livro Jésus et Israël, que foi publicado em 1948, contendo vinte e uma proposições para reformulação desta catequese. Um outro texto, que aponta a alteração desta catequese antijudaica da Igreja como combate ao antissemitismo, é a Nostra Aetate, declaração da Igreja católica que faz parte dos documentos finais do Concílio Vaticano II ocorrido entre os anos de 1962 e 1965. Esta declaração é vista como revolucionária pois foi a Igreja, por dezesseis séculos, quem elaborou e propagou esta catequese antijudaica. Pautados em pressupostos teóricos linguísticos do filósofo da linguagem Mikhail Bakhtin, sobre ato responsável e ato responsivo envolvendo discursos, tivemos como objetivo, por meio deste artigo, estabelecer uma relação entre estes dois textos e identificamos o livro Jésus et Israel, de Jules Isaac, como ato responsável numa rede de interdiscursos; e a declaração Nostra Aetate, da Igreja Católica,  como um ato responsivo ao discurso de Jules Isaac. Apontamos, como resultado de nossa análise, o livro Jesus e Israel, como elemento que oportunizou a criação de um espaço de narrativas onde o histórico discurso antijudaico da Igreja, existente nos documentos conciliares, pudesse ser rompido e a palavra diálogo se instalasse.