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Mon, 24 Feb 2025 in Comunicação & Educação
Comunicação Pública e Universidades: Análise Sistemática das Pesquisas Nacionais e Internacionais
Resumo
Este artigo apresenta uma bibliometria e uma revisão sistemática de pesquisas sobre comunicação pública e universidades realizadas no Brasil e no mundo. O objetivo é colaborar para uma sistematização das pesquisas voltadas para a relação entre comunicação pública e universidades e para a atuação de profissionais da área. As bases de dados consultadas foram Scopus, Banco Nacional de Teses e Dissertações e anais da Compós e Compolítica. Os achados internacionais demonstram foco na comunicação estratégica e na gestão de comunicação. A produção nacional enfatiza a presença nas mídias sociais e divulgação científica.
Main Text
1. INTRODUÇÃO
Como pesquisadores, estamos sempre estudando. Para Mills1, ao construir o artesanato intelectual e desenvolver nosso problema de pesquisa, devemos observar o mundo e as temáticas que envolvem nosso objeto. Ao examinar o que outros autores produziram, é possível aprender diretamente repetindo os pontos do autor; aceitar ou refutar suas teorias e inferências; tomar sugestões para nossas próprias elaborações e projetos.
Tomando a última possibilidade, este artigo apresenta uma bibliometria e revisão sistemática de pesquisas internacionais sobre comunicação pública e universidades, realizadas de 2003 a 2022, a partir da base de dados Scopus, utilizando o software Bibliometrix para análises matemáticas e geração de gráficos.
Complementando o estudo, também realizamos uma análise sistemática das pesquisas desenvolvidas no Brasil entre 2013 e 2022, sobre comunicação pública e instituições federais de ensino superior. As bases de dados consultadas foram Banco Nacional de Teses e Dissertações e anais da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós) e da Associação de Pesquisadores em Comunicação Política (Compolítica).
O objetivo deste trabalho é colaborar para uma sistematização das pesquisas voltadas para a relação entre comunicação pública e universidades, além de auxiliar na prática de profissionais que atuam na comunicação dessas instituições, tão importantes para a manutenção e divulgação de temas de interesse público na sociedade.
Para contextualizar os resultados apresentados, partimos do conceito de comunicação pública apresentado por Pierre Zémor (2009b, p. 189):
troca e compartilhamento de informações de utilidade pública ou de compromissos de interesses gerais. Ela contribui para a conservação dos laços sociais. A responsabilidade disso compete às instituições públicas; ou seja, às administrações do Estado, aos serviços das coletividades territoriais, aos estabelecimentos, empresas, organismos encarregados de cumprir uma missão de interesse coletivo2.
Complementando o conceito, utilizamos as categorias apresentadas por Brandão3 para visualizar melhor as aplicações e discussões levantadas:
1. Comunicação Institucional: da instituição com seus públicos com o objetivo de fortalecer a imagem da instituição. São os planos, as políticas, os produtos de comunicação que falam da instituição e buscam estabelecer um relacionamento sistemático e permanente com os públicos (Bueno, 2009).
2. Comunicação Científica: por meio da divulgação da ciência e do conhecimento científico. Há aqui uma preocupação com o papel da ciência para o desenvolvimento da sociedade e da cidadania, característica das universidades públicas.
3. Comunicação do Estado e/ou Governamental: das instituições governamentais com o cidadão, na divulgação de serviços públicos, na prestação de contas, no estímulo à participação no debate das políticas públicas.
4. Comunicação Política: com o objetivo de promover atores políticos, dentro ou fora de campanhas eleitorais.
5. Comunicação Comunitária e/ou Alternativa: realizada pela sociedade civil organizada, ou seja, por organizações comunitárias e movimentos populares com o objetivo de mobilização social.
Entendendo a comunicação pública como uma comunicação que estimula o debate de temas de interesse público4, levantamos as pesquisas nacionais e mundiais que tratam do tema e do modo como ele é discutido e aplicado no cenário acadêmico.
2. BIBLIOMETRIA DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA INTERNACIONAL
A bibliometria se caracteriza pela análise da produção científica sobre determinado tema, buscando obter “indicadores que retratam o grau de desenvolvimento de uma área do conhecimento de um campo científico ou de saber”5.
A pesquisa foi realizada na base de dados Scopus no dia 13 de maio de 2023. No campo “Article title, Abstract, Keywords”, buscamos as palavras-chave “public communication” AND “public administration” OR “government” OR “public institution” OR “university”. Encontramos 621 artigos no total. Ao restringir a busca para os últimos 20 anos (entre 2003 e 2022), reduzimos a amostra para 565 artigos. Uma nova restrição por áreas do conhecimento - Ciências Sociais, Artes e Humanidades, Administração e afins, Ciência da Decisão, Ciência da Computação e Multidisciplinar - resultou em 436 textos. Por fim, utilizamos a base de 300 artigos finais publicados, descartando artigos no prelo, resenhas e outros trabalhos. Os dados gerados foram inseridos no software Bibliometrix para análises matemáticas e geração de gráficos.
Iniciamos a análise pelas fontes de pesquisa. As revistas com maior número de publicações são Public Relations Review, Public Understanding of Science (ambas publicadas em língua inglesa, com 8 artigos cada), Profesional de la Información e Revista Latina de Comunicación Social (ambas publicadas em língua espanhola, com 7 artigos cada), como observado na Figura 1.
Os autores mais relevantes são Dave Gelders (Escola de Pesquisa em Comunicação de Massa de Lovaina, Bélgica) com 8 publicações; Pedro Molina Rodríguez-Navas e Nuria Simelio Sola (ambos da Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha) com 5 publicações cada, conforme demonstrado na Figura 2.
A maior parte das publicações são da Universidade Autônoma de Barcelona, que aparece duas vezes na Figura 3 (escrito em espanhol e em catalão), totalizando 13 publicações. Esse fato decorre em função de dois dos autores que mais publicam (Molina e Simelio) serem professores desta universidade.
Apesar do grande número de publicações oriundas da Universidade Autônoma de Barcelona, a Espanha (linha verde) aparece em segundo lugar entre os países que mais publicam sobre o tema ao longo dos anos. O primeiro lugar é dos Estados Unidos da América (linha rosa) e o terceiro do Reino Unido (linha azul), o que pode ser observado na Figura 4.
Retirando a palavra-chave “public communication”, que foi utilizada como termo de busca na base de dados Scopus, as palavras associadas que mais aparecem nas pesquisas são: “social media” (25), “transparency” (19), “covid-19” (13) e “science communication” (13). A nuvem de palavras apresentada na Figura 5 é formada por palavras-chave definidas pelos autores no campo “keywords” dos artigos.
Aqui, é possível fazer algumas inferências. Apesar da pesquisa trazer artigos dos últimos 20 anos, a palavra-chave “covid-19”, doença que surgiu a partir de 2019 apenas, já é uma das mais citadas, o que indica uma grande produção científica em torno do tema, inclusive na área de comunicação. Além disso, a palavra-chave “science communication” possivelmente aparece em destaque, pois um dos termos de pesquisa foi “university”, ou seja, muitos dos artigos publicados em torno de comunicação pública em universidades provavelmente são investigações acerca da comunicação da ciência ou divulgação científica.
É possível observar quais tópicos são mais citados ao longo dos anos na Figura 6. Observamos que artigos sobre “covid-19” e “crisis communication” começaram a ser publicados a partir de 2019. Entendemos que a doença surgiu neste ano, mas a comunicação de crise já era tema de pesquisa anteriormente, porém inferimos que, a partir da pandemia mundial, esse aspecto da comunicação pública se tornou mais evidente nas investigações.
As pesquisas sobre comunicação pública da ciência e mídias sociais passaram a ocorrer de forma mais evidente a partir de 2016. É provável que a emergência das mídias sociais e a interlocução das universidades com a comunidade nesse meio tenha estimulado a pesquisa sobre divulgação científica. Ainda sobre mídias sociais, percebe-se uma migração de pesquisas em torno do Facebook (2014-2019) para Twitter (2017-2020). É possível que nos próximos anos se intensifiquem artigos publicados sobre outras redes mais recentes como Instagram e TikTok. Numa análise rápida, conseguimos observar que estudos mais gerais sobre retórica, comunicação, governo e relações públicas são mais perenes ao longo do tempo por serem conceitos mais abrangentes.
Ainda sobre as palavras-chave, é possível observar a ocorrência conjunta de alguns termos e fazer inferências sobre as tendências de pesquisa na área. No cluster em vermelho da Figura 7, o termo principal “public communication” aparece atrelado às palavras-chave “transparency”, “citizen participation” (participação cidadã), “strategic communication”, “institutional communication”, “accountability”, “public administration”, “internet”, “web 2.0”, “journalism” e “fake news”. Como um dos termos buscados foi “university”, aparece também neste cluster a palavra-chave “public communication of science”.
No cluster roxo, percebemos uma tendência relacionada à comunicação pública nas mídias sociais (“social media”), relacionada a “political communication”, “Twitter”, “Facebook” e ao método de pesquisa “content analysis” (análise de conteúdo). Um cluster pequeno, em azul, indica a pesquisa de “governamental communication” em conjunto com o “Twitter” e com o método “critical discourse analysis” (análise crítica de discurso). Por fim, o cluster verde, que também observamos no gráfico anterior concentrado nos anos 2020 a 2023, conecta os estudos de comunicação pública a “covid-19”, “coronavirus” e “crisis communication”.
Entre os trabalhos encontrados nesta busca, a maioria trata da comunicação realizada por órgãos governamentais (prefeituras, ministérios), com foco na governança, na presença digital de personalidades políticas, crise da Covid-19 e outras crises como desastres naturais. Villodré6 avaliou teoricamente forças e fraquezas do uso das mídias sociais pela administração pública, entrecruzando conceitos de governo aberto e governança pública inteligente. O autor fez uma revisão teórica e prática dos modelos teóricos para estudar a adoção de tecnologias digitais pelo setor público, evidenciando como as redes podem ampliar as formas de comunicação e facilitar a prestação de serviços, porém alertando para a falta de estudos sobre os cuidados necessários com as lógicas algorítmicas das plataformas. Para além desse autor, aprofundamos a análise naqueles que mais podem contribuir com a temática em questão, comunicação pública realizada pelas universidades.
Simancas-González e García-López7 avaliaram, por meio de entrevistas com profissionais, como ocorre a gestão da comunicação nas universidades espanholas. Os resultados mostraram uma predominância na gestão de imagem, com foco na internacionalização, com atendimento à imprensa e produção de conteúdo em mídias próprias (sites, blogs, mídias sociais), porém com um caráter pouco estratégico e mais difusionista de informação.
Ainda no contexto da educação superior espanhola, López-Pérez e Olvera-Lobos8 avaliaram a comunicação da ciência das universidades e dos centros de investigação científica da Espanha em blogs e mídias sociais como Facebook, Twitter e YouTube por meio do número de seguidores e da frequência de posts. Na época do estudo (2014), a presença não ultrapassava os 40%.
Já no contexto da Suíça, Fürst et al.9 realizaram uma survey com a direção de 196 universidades suíças para verificar o papel da comunicação da ciência junto ao público. Os resultados mostraram uma comunicação cada vez mais profissional e estratégica com o objetivo de construir uma reputação pública e competir com outras universidades.
Por fim, Rowe10 avaliou a midiatização das universidades a partir da divulgação da produção de conhecimento, sugerindo que as práticas de comunicação pública das instituições transformam-nas em salas de imprensa gigantes, mobilizando pesquisadores e jornalistas para a divulgação científica midiatizada. Percebemos que ainda há poucos trabalhos no mundo sobre a comunicação pública realizada por universidades. Por isso, ampliamos a pesquisa para teses, dissertações e artigos desenvolvidos no Brasil.
3. PRODUÇÃO BRASILEIRA SOBRE COMUNICAÇÃO PÚBLICA E UNIVERSIDADES
Com o objetivo de estender esta investigação ao âmbito da produção científica no Brasil, realizamos também uma meta-análise sobre comunicação e universidades nos aspectos quantitativo (quantidade de produção) e qualitativo (diferentes enfoques) nos últimos dez anos. Para tanto, os termos “comunicação” e “universidade” foram pesquisados no campo “Assunto” do Banco Nacional de Teses e Dissertações no dia 14 de janeiro de 2023. Foram encontrados 74 trabalhos que, de fato, alinham essas duas temáticas na pesquisa.
A partir de uma breve análise bibliométrica, encontramos 62 dissertações de mestrado e 12 teses de doutorado. A maioria das pesquisas foi realizada nos anos 2015 (15), 2019 (13) e 2018 (10), respectivamente. As universidades que mais produzem são Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) com nove trabalhos, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade de Brasília (UnB), ambas com seis trabalhos cada. Como já era esperado, os programas de pós-graduação são, majoritariamente, das áreas de Comunicação e afins (19), Gestão ou Administração Pública (14), Educação e afins (12). Além dos termos “comunicação” e “universidade”, as palavras-chave mais citadas nas pesquisas são “tecnologias da informação e comunicação/TICs” (18), “divulgação/comunicação científica” (13), “redes/mídias sociais” ou “comunicação digital” (10).
Iniciando pela discussão sobre presença e reputação das universidades nas redes e mídias sociais, Stasiak11 abordou uma visão positiva quanto à presença das instituições federais de ensino superior nas mídias sociais, mencionando uma descentralização do polo emissor característico dos veículos tradicionais. Em seu estudo de caso, a autora analisou o conteúdo e a atuação da Universidade Federal de Goiás (UFG) nas mídias sociais em oposição a uma tendência de comunicação mais verticalizada e transmissionista de meios como rádio, TV e mídia impressa. Na mesma linha, Muniz12 analisou, por meio de entrevistas e observação direta, as práticas de comunicação e a necessidade de midiatização da Biblioteca da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) num ambiente web 2.0, alinhado ao olhar mais otimista dos estudiosos da internet daquela década, que viam a internet e as mídias sociais como possibilidade de horizontalizar e tornar a comunicação mais acessível de todos para todos.
Ainda sobre midiatização da ciência, Costa13 analisou, por meio de uma pesquisa exploratória e de conteúdo, os portais das universidades federais da região Nordeste com o objetivo de identificar o uso de tecnologias digitais. O autor constatou que das 18 universidades federais, apenas cinco realizaram ações sistemáticas de Comunicação Pública da Ciência.
Silva14 também estudou a presença das universidades - 12 instituições avaliadas com conceito 5 do Cadastro e-MEC de Instituições e Cursos de Educação Superior - em plataformas digitais, avaliando, pela metodologia de análise de conversação, como elas usaram essas plataformas para interação com o público numa perspectiva de ouvidorias virtuais, considerando os sites de redes sociais uma virtualização do tradicional “fale conosco”. Em sua análise, identificou que predomina a interação assíncrona com os públicos e que as instituições não consideravam seus sites e perfis no Twitter como canais de ouvidoria. Veloso15 analisou, por meio da netnografia e da Análise de Redes Sociais online (ARS), a presença da Universidade Federal da Bahia (UFBA) nas mídias sociais para disseminação de conteúdo, criticando a falta de uma troca mais dialógica no uso institucional dessas mídias.
Lima16, quando avaliou a presença de universidades mineiras nas mídias sociais, também salientou a falta de interatividade e conversação. Porém, valorizou a divulgação científica com uma linguagem mais solta, típica desse ambiente virtual e identificada a partir de uma análise de conteúdo híbrida. Também com viés de divulgação científica, Souza17 realizou uma observação sistemática e entrevistas em profundidade com criadores de conteúdo para demonstrar como o Museu da Universidade Federal do Pará (UFPA) se colocava nas mídias sociais para aumentar a interação com os públicos e como essa experiência online possibilitou modificar e complementar a visitação offline. Já Toniazzo18 analisou o conteúdo de divulgação científica de três instituições públicas de ensino superior do estado de Roraima e constatou ainda pouca produção sobre o tema, sugerindo o marketing de conteúdo como estratégia de comunicação.
Caetano19 avaliou a presença das universidades públicas federais no Facebook, relacionando esta presença com as diretrizes presentes na Política de Comunicação das instituições através de análise documental, avaliação da presença online e entrevista com profissionais que atuavam na área. A pesquisa identificou que menos de um quarto das universidades federais possuíam uma Política formalizada e que estas apresentaram normativas e melhores resultados de comunicação e de participação pública na mídia social.
Já Tropiano20 ao analisar a fanpage #UERJResiste, abordou não apenas a presença da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) nas mídias sociais, como também o movimento social em rede criado pela instituição no período em que teve suas atividades suspensas no ano de 2017, durante uma crise do governo do estado do Rio de Janeiro.
Também investigamos artigos publicados nos últimos 10 anos sobre as temáticas comunicação pública, universidade e mídias sociais nos anais da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós) e da Associação de Pesquisadores em Comunicação Política (Compolítica). Encontramos oito artigos no site da Compolítica e quatro no site da Compós. Os anos com maior número de publicações são 2023 (com seis artigos) e 2017 (com dois). As universidades que mais publicam sobre os temas são a Universidade Federal do Paraná (UFPR) com três artigos e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com dois artigos. As palavras-chave mais citadas nas pesquisas são “Comunicação Pública” (com sete menções); “Redes sociais/Mídias sociais/Redes digitais” ou “Twitter” (com quatro menções); “Divulgação/Produção científica”; “Comunicação institucional” e “Universidades federais/públicas” (com duas menções cada).
Num âmbito mais teórico da comunicação pública, Massuchin et al.21 realizaram uma análise bibliométrica de 276 trabalhos sobre comunicação pública. Com isso, detectaram uma predominância de pesquisas no Sul e Sudeste sobre comunicação do Estado e seu cruzamento com a comunicação política, além da consolidação da comunicação digital por meio das mídias sociais. Carnielli22 fez uma revisão bibliográfica e uma reflexão sobre como violações nos princípios da comunicação pública (crítica, aberta ao debate e plural) são produzidas por uma comunicação sistematicamente distorcida e cínica sustentada por assimetrias de poder entre os interlocutores, a qual impõe barreiras à interação dialógica.
Miola e Marques23 mapearam a literatura sobre comunicação pública para reconhecer as iniciativas midiáticas desenvolvidas pelas instituições do Estado brasileiro, a partir de uma análise de conteúdo. As práticas indicaram aproximação com cidadãos e representantes por meio do incentivo à participação; melhora nos fluxos administrativos e entrega de serviços; transparência e prestação de contas dos governos, comunicação estratégica e construção de imagem.
No âmbito das universidades públicas, Alves24 buscou identificar as práticas comunicacionais e as políticas de comunicação das universidades federais brasileiras a partir de análise documental e pesquisa exploratória nos sites das 59 universidades. Ao não encontrar políticas de comunicação institucionalizadas na época, o autor quantificou a atuação da comunicação dessas instituições em jornal impresso e nas mídias sociais (Facebook e Twitter). A falta de periodicidade e de interação entre as publicações demonstrou pouco planejamento das ações e a necessidade de uma política de comunicação para guiar o trabalho.
Ribeiro et al.25 defenderam a importância da divulgação científica para a formação cidadã ao analisarem a formação de públicos e a relação com a sociedade estabelecida através do projeto Pergunte aos Cientistas, da Agência Escola de Comunicação Pública da UFPR, no qual a população podia esclarecer dúvidas sobre a Covid-19 com pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento.
Falando no papel de formação da cidadania das universidades, Oliveira et al.26 descreveram e analisaram experiências de comunicação de três universidades: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) com o Podcasts A3 para a veiculação de entrevistas com pesquisadores e o Selo ODS para a agregação de reportagens de ciência relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; Universidade de Brasília (UnB) com a Revista Darcy de jornalismo científico e cultural; e Universidade Federal da Paraíba (UFPB) com a estratégia de comunicação mobilizada em torno do Comitê de Políticas de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (CoMu). Os casos analisados reafirmam a importância da comunicação pública e científica para o fortalecimento da cidadania e participação social, além de indicarem a pertinência de políticas de comunicação nas universidades, da construção de redes interinstitucionais de intercâmbio e da produção transmídia.
Relacionando com o âmbito político, Prudencio e Nascimento27 analisaram o conteúdo de 14.533 comentários no Facebook e YouTube sobre o corte de verbas das universidades e institutos federais anunciado pelo governo federal em 2019. Os resultados identificaram a polarização e uma falta de debate mais profunda sobre o tema, demonstrando que o ambiente digital, apesar de ampliar a discussão, não é propício para a deliberação.
Souza28 identificou o modo como as instituições federais de ensino superior reagiram ao discurso evocado pelo ex-ministro da Educação Abraham Weintraub (abril/19 a junho/20) quanto a sua atuação, analisando o conteúdo das notícias publicadas nos portais das Universidades Federais do Amazonas (UFAM) e do Pará (UFPA). A autora identificou reações de seletividade temática e de silenciamento quanto a polêmicas. Já Sousa29 analisou a aplicação das restrições comunicacionais nas redes sociais das universidades federais brasileiras durante o período das eleições de 2022, por meio da coleta de textos nas mídias sociais. Identificou problemas na aplicação das medidas, no entendimento das restrições e na ausência do exercício de um papel mais formativo e de construção da cidadania.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise realizada na produção científica internacional, percebemos maior número de investigações sobre a relação comunicação pública e universidades na Espanha, com foco na comunicação estratégica e na gestão de comunicação em universidades, caracterizando uma comunicação pública institucional30. Já na produção nacional, os pesquisadores da área estudaram as estratégias de comunicação e de relacionamento das instituições federais de ensino superior nas mídias sociais, em especial, para divulgação científica ou, como categoriza Brandão31, comunicação pública científica.
A bibliometria permite analisar a produção internacional de forma mais abrangente, possibilitando avaliar periódicos e países que mais publicam, além de inferir sobre temas adjacentes importantes que conectam as temáticas comunicação pública e universidade, como: divulgação científica, pandemia de coronavírus, governança. E ainda permite avaliar tendências de pesquisas na área, como as análises em mídias sociais.
As pesquisas acadêmicas sobre comunicação e universidades ainda buscam explicar e entender o papel da comunicação nessas instituições ou, ainda, analisar e sugerir a presença das universidades nas mídias sociais. A necessidade de estar presente nessas mídias já está comprovada. O que falta são estudos mais recentes e críticos sobre a disputa por atenção nas plataformas digitais.
A atuação da comunicação dessas instituições nas plataformas digitais é de extrema importância para levar aos usuários temas de interesse público, serviços públicos de qualidade como educação superior, pesquisas, checagem de fatos e informações verídicas em um ambiente regido por algoritmos que definem quais notícias e informações chegam até os usuários.
Resumo
Main Text
1. INTRODUÇÃO
2. BIBLIOMETRIA DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA INTERNACIONAL
3. PRODUÇÃO BRASILEIRA SOBRE COMUNICAÇÃO PÚBLICA E UNIVERSIDADES
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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