O Bixiga em disputa: ambiente, cultura, memória e interesses imobiliários
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1980-4466.v19i37p130-157Palavras-chave:
Mercado imobiliário, Tombamento, Planejamento territorial urbanoResumo
O Bixiga, na região central da cidade de São Paulo, vive uma situação crítica de ameaça à preservação do seu patrimônio cultural e ambiental, associada ao forte impacto provocado pelo avanço de interesses imobiliários. Novos edifícios aprovados recentemente pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo no seu território, criam precedentes temerários para que outros empreendimentos sejam igualmente aprovados num futuro breve. Desperta preocupação especial a vulnerabilidade da área conhecida como Grota do Bixiga, não obstante a existência de uma legislação de proteção pactuada desde o início dos anos 2000. Esse enfoque permite abordar o amplo processo de estudo, inventariação e consolidação de um conhecimento produzido no âmbito do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), iniciado nos anos 1980, que articula os bens arquitetônicos aos elementos estruturadores da trama urbana e às relações sociais que não só povoam a memória do lugar, mas se mantêm vivas nas práticas culturais do presente. Permite ainda tratar dos impasses entre as políticas de preservação do patrimônio cultural e as políticas urbanas de caráter mais abrangente. Por fim, propicia analisar outra camada de memória latente, desvelada pelas descobertas ligadas às escavações realizadas para a construção da Estação da Linha Laranja do Metrô. Os recentes achados arqueológicos despertam o debate a respeito da origem da ocupação do bairro associada à presença do Quilombo Saracura, propiciando o fortalecimento da memória da população negra, por sua representatividade, e por sua persistência no tempo, como um elemento essencial da cultura do lugar, que não se admite apagar, nem tampouco invisibilizar.
Downloads
Referências
ARANTES, Antônio Augusto. Para que afinal servem os conselhos de patrimônio? Jornal Nexo, Ensaio, 23 abr. 2019. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/para-que-servem-afinalos-conselhos-de-patrimonio. Acesso em: 15 jun. 2022.
BAFFI, Mirthes Ivany Soares. O Igepac-SP e outros inventários da Divisão de Preservação do DPH: um balanço. Revista do Arquivo Municipal: 30 anos de DPH 1975-2005, São Paulo, v. 204, p. 169-191, 2006.
D’ALAMBERT, Clara C.; FERNANDES, Paulo César G. Bela Vista: a preservação e o desafio da renovação de um bairro paulistano. Revista do Arquivo Municipal: 30 anos de DPH1975-2005, São Paulo, v. 204, p. 151-168, 2006.
DIAS, Guilherme Soares. Sítio arqueológico é encontrado no Bixiga em construção do metrô em SP. Guia Negro, Destaques, São Paulo, 5 jul. 2022. Disponível em: https://encurtador.com.br/6qiPt. Acesso em: 16 jun. 2022.
HIKIJI, Rose Satiko. Gitirana; SILVA, Adriana de Oliveira. Bixiga em artes e ofícios. São Paulo: Edusp, 2014.
INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL – DEPARTAMENTO DE SÃO PAULO. Grota do Bixiga em debate. Youtube, 18 maio 2021. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=T2p14uk4cGk18/05/2021. Acesso em: 20 abr. 2023.
MELO, Carina Mendes dos Santos. Entornos de bens culturais: reflexões sobre os processos de identificação e gestão. 2020. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) — Escola de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2020.
MOTTA, Lia; THOMPSON, Analucia. Entorno de bens tombados. Rio de Janeiro: Iphan/Copedoc, 2010.
MUNIZ, Claudia Andreoli. Os cortiços no patrimônio: projetos, estratégias e limites nas práticas do Departamento do Patrimônio Histórico na Bela Vista, em São Paulo, nos anos 1980. 2020. Dissertação (Mestrado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) — Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.
NITO, Mariana Kimie da Silva. Entorno de bens tombados e desafios entre legislação, técnica e valores urbanos. Revista arq.urb, São Paulo, v. 26, p. 138–157, 2019. Disponível em: https://revistaarqurb.com.br/arqurb/article/view/31. Acesso em: 10 abr. 2023.
NITO, Mariana Kimie da Silva. Entorno do patrimônio: políticas de preservação urbana em Belém, Pelotas e São Paulo. 2023. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) — Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2023.
SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA (São Paulo). Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental. Resolução 01/93. Prefeitura Municipal de São Paulo, 1993. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/1aeb7_01_APT_Bairro_Bela_Vista.pdf. Acesso em: 12 abr. 2023.
SÍTIO arqueológico é encontrado durante escavação de obra do Metrô no Bixiga, na área da antiga quadra da escola de samba Vai-Vai. G1, São Paulo, 15 jun. 2022. Disponível em: https://encurtador.com.br/ZzcER. Acesso em: 15 jun. 2022.
TOURINHO, Andréa de Oliveira; RODRIGUES, Marly. Patrimônio ambiental urbano: uma retomada. Revista CPC, São Paulo, n. 22, p.70-91, 2016. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1980-4466.v0i22p70-91. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/cpc/article/view/111915. Acesso em: 12 abr. 2023.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Eneida de Almeida, Flávia Brito do Nascimento
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
- Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Os autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho on-line (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).