Trabalho, desemprego e condições de saúde: experiências de pessoas egressas do sistema prisional
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.cpst.2023.194082Palavras-chave:
Trabalho, Desemprego, Saúde, Egresso e egressa do sistema prisionalResumo
Estudos apontam o crescimento dos agravos na saúde de pessoas em situações de desemprego, sobretudo na saúde psíquica. Apesar dessa constatação, são escassos os trabalhos que abordam a relação entre desemprego e saúde em grupos marginalizados, como o de egressos(as) do sistema prisional. Tendo em vista essa escassez, este artigo busca conhecer os impactos do desemprego nas condições de saúde dessas pessoas e as formas de manejo que lançam mão para resistir e sobreviver em situações adversas, produzindo saúde. A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas com 25 egressos(as) do sistema prisional no Nordeste do Brasil, orientada pelos referenciais teórico metodológicos da Ergologia, da Psicossociologia do Trabalho e pela concepção de saúde de Georges Canguilhem. Os resultados apontam a saúde e o trabalho como recursos e como objetivos dessas pessoas, no entanto, as exigências de adaptação ao cárcere levam à incorporação da cultura prisional, o que retira a capacidade de ser normativo(a), lançando esses(as) egressos(as) em uma situação de dependência incompatível com a produção de saúde. Tal contexto é agravado pela dificuldade de inserção em atividade remunerada e pela saúde já degradada. No trabalho, esperam produzir saúde e reconstruir a vida.
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