Sobre a interpretação econômica da história em Gilberto Freyre (1933-1956)
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2023.37107.007Palavras-chave:
Gilberto Freyre, Interpretação econômica da história, Economia, CulturaResumo
O presente artigo propõe-se a analisar a maneira pela qual se apresentou a relação entre economia e história na obra de Gilberto Freyre, particularmente em Casa-grande & Senzala e Sobrados e Mucambos. Durante sua formação em Columbia nos anos 1920, o autor entrou em contato com o movimento da New History americana que, de maneira similar ao movimento dos Annales na França, propunha uma nova forma de pensar a História. As “novas histórias” forjadas no bojo dos anos 1920 e 1930 buscavam desconstruir alguns pressupostos da Historiografia do século XIX, particularmente a pretensão desta em se equiparar às demais ciências, buscando, a partir dos documentos, reconstituir os fatos tal como “teriam acontecido”. Influenciado por Barnes e Seligman, professores, respectivamente, de História Social e de Economia Política em Columbia, Gilberto Freyre repensou a formação social brasileira a partir da categoria patriarcado, utilizada, pelo autor, não somente como expressão síntese da organização social brasileira, mas também como critério de periodização. A formação do patriarcado rural, durante o período colonial, e sua decadência a partir da chegada da corte em 1808, foram analisadas por Freyre a partir de sua materialidade, reveladas nas formas arquitetônicas, dietas alimentares, vestuário, mobiliário, ecologia. O patriarcado como categoria de periodização e sua dimensão material compuseram, dessa maneira, uma interpretação econômica da história muito singular, que é objeto deste artigo.
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