Fake news e educação à luz dos afetos em Baruch Espinosa

Autores

  • Daniel Calbino Pinheiro Universidade Federal de São João del Rei
  • Fabio de Barros Silva Universidade Federal de São João del Rei

DOI:

https://doi.org/10.1590/S1678-4634202450263117

Palavras-chave:

Notícias falsas, Espinosa, Desinformação, Afetos

Resumo

O elevado volume de notícias falsas, na última década, tem mobilizado ações no intuito de promover suas correções. Na educação, emergem instrumentos que visam a capacitar os estudantes para reconhecer informações enviesadas. Apesar da sua importância, nem sempre essas tentativas são suficientes, e em alguns casos podem ter efeito contrário, aumentando a convicção na desinformação. Neste contexto, a partir da teoria dos afetos de Baruch Espinosa (1632-1677), o objetivo geral deste ensaio consiste em trazer indícios que ajudem a compreender as crenças nas fake news e, consequentemente, em pensar uma educação que permita maior efetividade nas suas correções. Em termos metodológicos, propõe-se, no aprofundamento da investigação bibliográfica, resgatar as reflexões filosóficas, em especial, na obra “Ética – Demonstrada em ordem Geométrica”. Os achados apontam que a inovação ontológica no projeto espinosano consiste em indicar que os homens usam pouco a razão na constituição ética da sociedade, uma vez que são movidos por afetos que interferem nas formas como se valora o bem e o mal. Isso abre espaço para uma analogia com a dinâmica das fake news, uma vez que, nem sempre, a falta de escolaridade é o fator mais relevante para se acreditar em notícias falsas. Em contraponto, o pensamento do filósofo pode ser útil para se pensar em formas educacionais de correções das fake news, a partir da concatenação e ordenação dos afetos, em situações que atravessam as leituras de notícias falsas.

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Publicado

2024-02-21

Como Citar

Fake news e educação à luz dos afetos em Baruch Espinosa. (2024). Educação E Pesquisa, 50, e263117. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202450263117