Bullying nas escolas públicas e privadas: os efeitos de gênero, raça e nível socioeconômico
DOI:
https://doi.org/10.1590/S1678-4634202450264614porPalavras-chave:
Bullying, Escolas, Ensino fundamental, Violência na escolaResumo
O artigo investiga os efeitos dos marcadores sociais de gênero, raça e nível socioeconômico sobre o bullying entre os alunos do 9º ano do ensino fundamental no Brasil. O objetivo é verificar se o fenômeno está relacionado com hierarquias de poder estabelecidas na sociedade, de modo que alunos integrantes dos grupos sociais privilegiados na hierarquia social (isto é, homens, brancos e de nível socioeconômico mais elevado) tendem a praticar mais bullying e discentes de grupos sociais desfavorecidos (mulheres, negros e de nível socioeconômico mais baixo) tendem a sofrer mais bullying . Analisamos dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2015 a partir de Modelos Lineares Generalizados Hierárquicos (MLGH). As análises são feitas separadamente para escolas públicas e privadas e os diferentes tipos de envolvimento dos alunos com o bullying , seja como vítima, agressor e vítima-agressor. Os resultados apontam que, apenas no que se refere ao nível socioeconômico, podemos afirmar que o bullying reproduz a hierarquia de status presente na sociedade. Tanto na escola pública quanto na privada, os alunos de maior nível socioeconômico estão mais propensos a praticarem, enquanto os de menor nível estão mais propensos a sofrerem bullying . Quanto ao gênero, verifica-se que os alunos do sexo masculino têm maior propensão ao envolvimento com o bullying do que as meninas, seja como vítima, agressor ou vítima-agressor. Os diferenciais são mais expressivos nas escolas privadas que nas públicas. No que se refere à raça, observa-se que o envolvimento com o bullying permeia os grupos raciais em múltiplos sentidos.
Downloads
Referências
ARRETCHE, Marta (org.). Trajetórias das desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos cinquenta anos. São Paulo: Unesp; CEM, 2015.
BARBOSA, Maria Eugênia Ferrão; FERNANDES, Cristiano. Modelo multinível: uma aplicação a dados de avaliação educacional. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, v. 1, n. 22, p. 135-154, 2000.
BATISTA, Elise Helena Morais. Bullying e preconceitos étnico-raciais. Revista Poiésis, Tubarão, v. 7, n. 12, p. 302-323, 2013.
BAUMAN, Sheri. Cyberbullying: what does research tell us? Theory Into Practice, London, v. 52, n. 4, p. 249-256, 2013.
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk, 2007.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
BOURDIEU, Pierre. Escritos de educação. Org. de M. A. Nogueira e A. Catani. Petrópolis: Vozes, 1998.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. Saeb 2019: indicador de nível socioeconômico do Saeb 2019: nota técnica. Brasília, DF: INEP, 2021.
CAMACHO, Luiza Mitiko Yshiguro. As sutilezas das faces da violência nas práticas escolares de adolescentes. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 27, p. 123-140, jun. 2001.
D’ANGELO, Luis A.; FERNÁNDEZ, Daniel R. Clima, conflictos y violencia en la escuela. Buenos Aires: Fondo de las Naciones Unidas para la Infancia (Unicef), 2011.
DAKE, Joseph A.; PRICE, James H.; TELLJOHAN, Susan K. The nature and extent of bullying at school. Journal of School Health, Bloomington, v. 73, n. 5, 2003.
DEBARBIEUX, Éric. A violência na escola francesa: 30 anos de construção social do objeto (1967-1997). Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 27, n. 01, p. 163-193, jun. 2001.
FERRARO, Alceu Ravanello. Escolarização no Brasil: articulando as perspectivas de gênero, raça e classe social. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 2, p. 505-526, ago. 2010.
GRUSKY, David B.; SZELÉNYI, Szonja (org.). The inequality reader: contemporary and foundational readings in race, class, and gender. 2. ed. New York: Routledge, 2018.
GUIMARÃES, Nadya Araujo. Entre marolas e tsunamis: as trajetórias laborais dos jovens brasileiros. Futuribles, Paris, v. 4, n. 4, p. 9-32, 2021.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Sidra: Sistema IBGE de recuperação automática. Rio de Janeiro: IBGE, 2023. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/7138#resultado . Acesso em: 26 mar. 2023.
» https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/7138#resultado
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar: 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2016.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar: 2019. Rio de Janeiro: IBGE, 2021.
JUVONEN, Jaana; GRAHAM, Sandra. Bullying in schools: the power of bullies and the plight of victims. Annual Review of Psychology, San Mateo, v. 65, p. 159-185, 2014.
MALTA, Deborah Carvalho et al. Bullying nas escolas brasileiras: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 2009. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 3065-3076, 2010.
MARCOLINO, Emanuela de Castro et al. Bullying: prevalência e fatores associados à vitimização e à agressão no cotidiano escolar. Texto e Contexto - Enfermagem, Florianópolis, v. 27, n. 1, 2018.
MEARS, Daniel P.; MOON, Melissa M.; THIELO, Angela J. Columbine revisited: myths and realities about the bullying–school shootings connection. Victims & Offenders, London, v. 12, n. 6, p. 939-955, 2017.
MEDEIROS, Marcelo; BARBOSA, Rogério Jerônimo; CARVALHAES, Flávio. Educational expansion, inequality and poverty reduction in Brazil: a simulation study. Research in Social Stratification and Mobility, Amsterdã, v. 66, abr. 2020.
MELLO, Flávia Carvalho Malta et al. A prática de bullying entre escolares brasileiros e fatores associados, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 9, p. 2939-2948, 2017.
MELLO, Flávia Carvalho Malta et al. Bullying e fatores associados em adolescentes da Região Sudeste segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 19, n. 4, p. 866-877, out./dez. 2016.
MENESINI, Ersilia; SALMIVALLI, Christina. Bullying in schools: the state of knowledge and effective interventions. Psychology, Health & Medicine, London, v. 22, p. 240-253, 2017.
MONT’ALVÃO, Arnaldo. Estratificação educacional no Brasil do século XXI. Dados, Rio de Janeiro, v. 54, n. 2, p. 389-430, 2011.
MUNIZ, Jeronimo Oliveira. Inconsistências e consequências da variável raça para a mensuração de desigualdades. Civitas, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. e62-e86, abr./jun. 2016.
NELSON, Helen J. et al. Preadolescent children’s perception of power imbalance in bullying: a thematic analysis. PLoS One, São Francisco, v. 14, n. 3, 2019.
OLIVEIRA, Wanderlei Abadio et al. Variáveis associadas à prática do bullying em uma amostra nacional de estudantes. Adolescência & Saúde, Rio de Janeiro, v. 15, n. 3, p. 69-80, 2018.
OLWEUS, Dan. Bully/victim problems in school: facts and intervention. European Journal of Psychology of Education, Hanover, v. 12, n. 4, p. 495-510, 1997.
OLWEUS, Dan. Conductas de acoso y amenaza entre escolares. Madrid: Morata, 1998.
OLWEUS, Dan. School bullying: development and some important challenges. Annual Review of Clinical Psychology, San Mateo, v. 9, p. 751-780, mar. 2013.
PERES, Maria Fernanda Tourinho (coord.) et al. Violência, bullying e repercussões na saúde: resultados do Projeto São Paulo para o desenvolvimento social de crianças e adolescentes (SP-PROSO). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2018.
PERO, Valéria; SZERMAN, Dimitri. Mobilidade intergeracional de renda no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, Brasília, DF, v. 38, n. 1, p. 1-35, 2008.
PICANÇO, Felícia; MORAIS, Juliana. Estudos sobre estratificação educacional: síntese dos principais argumentos e desdobramentos. Educação & Sociedade, Campinas, v. 37, n. 135, p. 391-406, 2016.
RAUDENBUSH, Stephen W.; BRYK, Anthony S. Hierarchical linear models. Thousand Oaks: Sage, 1992.
RIBEIRO, Carlos Antonio Costa. Classe, raça e mobilidade social no Brasil. Dados, Rio de Janeiro, v. 49, n. 4, p. 833-873, 2006.
ROSEMBERG, Fúlvia; AMADO, Tina. Mulheres na escola. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 80, p. 62-74, 1992.
ROTHMAN, Robert A. Inequality & stratification: race, class, and gender. New York: Routledge, 2016.
SCALON, Celi; SALATA, André. Uma nova classe média no Brasil da última década? O debate a partir da perspectiva sociológica. Revista Sociedade e Estado, Brasília, DF, v. 27, n. 2, p. 387-407, 2012.
SENKEVICS, Adriano S.; CARVALHAES, Flavio; RIBEIRO, Carlos Antonio Costa. Mérito ou berço? Origem social e desempenho no acesso ao ensino superior. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 52, p. 1-25, 2022.
SILVA, Cíntia Santana e. A opressão entre os muros da escola: o bullying entre estudantes da rede estadual de ensino básico de Minas Gerais. 2014. 116 f. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) – Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho, Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte, 2014.
SILVA, Cíntia Santana e; COSTA, Bruno Lazzarotti Diniz. Opressão nas escolas: o bullying entre estudantes do ensino básico. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 46, n. 161, jul./set. 2016.
SILVA, Jorge Luiz da et al. Vitimização por bullying em estudantes brasileiros: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). Texto e Contexto - Enfermagem, Florianópolis, v. 27, n. 3, 2018.
SOARES, José Francisco; ALVES, Maria Teresa Gonzaga; FONSECA, José Aguinaldo. Trajetórias educacionais como evidência da qualidade da educação básica brasileira. Revista Brasileira de Estudos de População, Rio de Janeiro, v. 38, p. e0167, 2021.
STELKO-PEREIRA, Ana Carina; WILLIAMS, Lúcia Cavalcanti de A. Reflexões sobre o conceito de violência escolar e a busca por uma definição abrangente. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, v. 18, n. 1, p. 45-55, 2010.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Educação e Pesquisa
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
A publicação do artigo em Educação e Pesquisa implica, automaticamente, por parte do(s) autor(es) a cessão integral e exclusiva dos direitos autorais da primeira edição para a revista, sem quaisquer honorários.
Após a primeira publicação, os autores têm autorização para assumir contratos adicionais, independentes da revista, para a divulgação do trabalho por outros meios (ex.: repositório institucional ou capítulo de livro), desde que citada a fonte completa, com as referências da mesma autoria e dos dados da publicação original.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões da revista.
