Cuidado à saúde de crianças kaiowá e guarani: notas de observação de campo
DOI:
https://doi.org/10.7322/jhgd.19864Palavras-chave:
Saúde infantil, diarréia infantil, etnografia, indios Kaiowá e GuaraniResumo
Inicia-se uma discussão sobre as práticas de saúde e cuidado utilizadas pelos Kaiowá e Guarani da Terra Indígena de Caarapó no enfrentamento das doenças diarréicas na infância. Utilizou-se de uma contribuição etnográfica, através do uso da técnica da observação participante e de entrevistas aberta com moradores da comunidade. Em se tratando de uma sociedade que vivencia permanentes transformações de ordem social advindas das relações interétnicas e da sucessiva presença dos serviços de saúde, observa-se que o significado de diarréia infantil, assim como as decisões relativas à prevenção e ao seu tratamento, refletem comportamentos diferenciados e complexos. A diarréia, também conhecida como chiri, é definida através de sinais que, de certa forma, são semelhantes aos biomédicos. No entanto, nem sempre as explicações de causalidade e as formas de tratamento seguem, unicamente, a abordagem biomédica. A variedade de causas da doença diarréica entre as crianças indígenas implica na escolha do processo terapêutico, que pode ser desde a procura por um especialista tradicional, realização de chás e infusões e, ainda, procura pelos serviços de saúde. Tais explicações e formas de tratamento pressupõem a existência de um processo de negociação entre pessoas de uma mesma cultura e de culturas distintas. Neste sentido, os serviços de saúde ao tratar a criança com diarréia, devem considerar não apenas a perspectiva biomédica, mas também dialogar com a percepção e as práticas indígenas na identificação da causalidade, na definição do diagnóstico e do tratamento, sobretudo, pela coexistência destas práticas no contexto local.Downloads
Referências
Turner V. The ritual process. Chicago: Aldine Publishing; 1966.
Bhabha HK. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG; 1998.
Grünberg FP. Reflexões sobre a situação dos Guarani no Mato Grosso do Sul, Brasil. Brasília: EAG-CTI. 2000; 1-21.
Brand A. Biodiversidade, sócio-diversidade e desenvolvimento: os Kaiowá e Guarani no Estado de Mato Grosso do Sul. In: Costa RB (org).Fragmentação florestal e alternativas de desenvolvimento rural na região Centro-Oeste. Campo Grande: UCDB; 2003. p.175-204.
Pereira LM. Imagens Kaiowá do sistema social eseu entorno [tese]. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo; 2004.
Grünberg FP. Guarani: algumas notas. Brasília: EAG-CTI. 2004; p. 1-8.
Ministério da Saúde. Lei n. 9836, de 23 de setembro de 1999. Regulamentação do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena Brasília: Ministério da Saúde; 1999.
Fundação Nacional de Saúde. Política Nacional de Atenção a Saúde Indígena. Brasília: Fundação Nacional de Saúde; 2002.
Leite MS, Gugelmin SA, Santos RV, Coimbra Jr CEA. Perfis de saúde indígena, tendências nacionais e contextos locais: reflexões a partir do caso Xavánte, Mato Grosso. In: Coimbra Jr CEA, Santos RV, Escobar AL, organizadores. Epidemiologia e saúde dos povos indígenas no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz/Abrasco; 2003.p.105-26.
Ribas DLB, Sganzerla A, Zorzatto JR, Philippi ST. Nutrição e saúde infantil em uma comunidade indígena Teréna, Mato Grosso do Sul, Brasil. Cad Saúde Pública. 2001;2(17):323-31.
Pícoli RP, Carandina L, Ribas DLB. Saúde Materno-infantil e nutrição de crianças Kaiowá e Guarani, Área Indígena de Caarapó, Mato Grosso do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública; 2006; 22(1):223-227.
Pícoli RP, Carandina L, Ribas DLB. Hipoacusy Prevalence in Kaiowá and Guarani indigenous children. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant. 2006;6(2): 69-174.
Brand A, Pícoli RP. Mortalidade infantil entre os Kaiowá e Guarani de Mato Grosso do Sul. In: Ricardo B, Ricardo F org. Povos Indígenas no Brasil 2001/2005. São Paulo: Instituto Socioambiental; 2006. p. 795-98.
Thompson P. A voz do passado: a história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1992.
WHO (World Health Organization). A manual for the treatment of diarrhea for use by physicians and other senior health workers. Geneva: World Health Organization (WHO/CDD/SER/80.2 Rev.2). 1984.
Oliveira RC. Ação indigenista, eticidade e o diálogo Inter étnico. Estudos Avançados. 2000; 14(40): 213-230.
Laplantine F. Antropologia da doença. São Paulo: Martins; 2004.
Sahlins M. O “pessimismo sentimental” e a experiência etnográfica: por que a cultura não é um “objeto” em via de extinção. Mana. 1997;3(3Pt1): 41-73.
Langdon EJ. A Construção sociocultural da doença e seu desafio para a prática médica. In: Baruzzi RG, Junqueira C. (org). Parque Indígena do Xingu: saúde, cultura e história. São Paulo: Terra Virgem; 2005. p. 115-34.
Buchillet D. A Antropologia da Doença e os Sistemas Oficiais de Saúde. In: Buchillet D (org). Medicinas Tradicionais e Medicina Ocidental na Amazônia Belém: MPEG/CNPq/SCT/CEJUP/UEP;1991. p. 21-44.
Ministério da Saúde. Assistência e Controle das Doenças Diarréicas. Brasília: Ministério da Saúde;1993.
Morgado P. O Pluralismo médico Wayana-Apari:a intersecção entre a tradição local e a global. Cadernos de Campo. 1994; 4(1): 41-70.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
CODE OF CONDUCT FOR JOURNAL PUBLISHERS
Publishers who are Committee on Publication Ethics members and who support COPE membership for journal editors should:
- Follow this code, and encourage the editors they work with to follow the COPE Code of Conduct for Journal Edi- tors (http://publicationethics.org/files/u2/New_Code.pdf)
- Ensure the editors and journals they work with are aware of what their membership of COPE provides and en- tails
- Provide reasonable practical support to editors so that they can follow the COPE Code of Conduct for Journal Editors (http://publicationethics.org/files/u2/New_Code.pdf_)
Publishers should:
- Define the relationship between publisher, editor and other parties in a contract
- Respect privacy (for example, for research participants, for authors, for peer reviewers)
- Protect intellectual property and copyright
- Foster editorial independence
Publishers should work with journal editors to:
- Set journal policies appropriately and aim to meet those policies, particularly with respect to:
– Editorial independence
– Research ethics, including confidentiality, consent, and the special requirements for human and animal research
– Authorship
– Transparency and integrity (for example, conflicts of interest, research funding, reporting standards
– Peer review and the role of the editorial team beyond that of the journal editor
– Appeals and complaints
- Communicate journal policies (for example, to authors, readers, peer reviewers)
- Review journal policies periodically, particularly with respect to new recommendations from the COPE
- Code of Conduct for Editors and the COPE Best Practice Guidelines
- Maintain the integrity of the academic record
- Assist the parties (for example, institutions, grant funders, governing bodies) responsible for the investigation of suspected research and publication misconduct and, where possible, facilitate in the resolution of these cases
- Publish corrections, clarifications, and retractions
- Publish content on a timely basis