Quarup: uma educação sentimental pelo povo
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2237-1184.v0i29p13-32Palavras-chave:
Romance de formação [Bildungsroman], povo, afetos, década de 1960Resumo
A década de 1960 não é apenas um período de profundas transformações sociais, técnicas e culturais, mas mudanças decisivas se produzem também no âmbito dos afetos dos sujeitos, seja dos sujeitos coletivos, seja dos individuais. Ao mesmo tempo, esses novos afetos que se formaram, por sua vez, vão influenciar a transformação social e cultural. O romance Quarup corresponde, em sua estrutura fundamental, a um romance de formação, apesar de apresentar — conforme a nossa leitura — duas modificações básicas, as quais exatamente correspondem às circunstâncias da década de 1960: o processo de aprendizagem do protagonista não mais se orienta em valores e normas (burgueses) aparentemente objetivos, mas sim na relação afetiva do protagonista com o “povo”. Com isso, contudo, o seu processo de aprendizagem necessariamente se torna ao mesmo tempo em uma experiência de “deseducação”, levando-o ao afastamento e à libertação dos valores e das normas tradicionais. No entanto, o povo enquanto sujeito, no qual essa transformação afetiva busca se orientar, nesta década entra mesmo em uma crise que é encenada no filme Terra em transe, de Glauber Rocha, tendo sido muito discutida por Fernando Gabeira, Roberto Schwarz e Caetano Veloso.