Ci, Mãe do Mato: o mito das amazonas às avessas em Macunaíma e o projeto modernista
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-2477.i30p32-46Palavras-chave:
Mito das amazonas, assimilação crítica, projeto modernistaResumo
O presente texto divide-se em duas partes: na primeira, trago considerações gerais e introdutórias sobre Mário de Andrade, seu arquivo da criação literária e a assimilação crítica que fez de outros textos, como os do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg, na elaboração de Macunaíma: o herói sem nenhum caráter (1978). No segundo momento deste trabalho discuto a representação do mito das amazonas guerreiras no terceiro capítulo da rapsódia, chamado Ci, Mãe do Mato, valendo-me de algumas correspondências, que configuram-se em material auxiliar para a interpretação da obra. Na escrita andradina, o mito das amazonas é descolonizado, porque recebe outros rumos e elementos que distorcem suas características fundantes, ou seja, Mário renega a cópia, ao se apropriar da versão clássica do mito de forma “antropofágica”. Desta perspectiva, Mário empresta à icamiaba brasileira um fundo sexual, carnal e perverso, uma vez que a amazona perde sua característica belicosa e se entrega arrebatadamente aos prazeres do amor junto ao herói. Essa assimilação crítica está inscrita no projeto estético e ideológico modernista, mas também ressoa elementos do Expressionismo alemão, de cuja vanguarda Mário teria sido influenciado no reconhecimento do mito primitivo.
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