Dos cadernos de juventude a de L’amour: a elaboração de uma matriz narrativa nos primeiros escritos de Stendhal

Resumo

Esse artigo retorna aos cadernos de juventude de Stendhal para abrir um debate no campo dos estudos em crítica genética em torno da difícil questão da improvisação no processo de gênese de um autor paradigmático. No decorrer da intensa atividade de reflexão que desenvolve nesses cadernos, Stendhal lança os alicerces de uma matriz narrativa que alcançará sua forma efetiva em seu ensaio De l’Amour. A luz dos cadernos, a teoria da cristalização elaborada no ensaio revela-se funcionar como uma espécie de matriz ou de pauta destinada a orientar o fluxo da escrita através do processo de criação. Sem atrelar o fluxo da escrita à rigidez de um programa preestabelecido, essa matriz opõe uma força interna de coesão à desordem e às resistências provisórias que ameaçam a construção da narrativa, ao mesmo tempo em que preserva a abertura do processo da escrita à improvisação, aos acidentes fortuitos, à possibilidade incessantemente renovada de novos rumos e bifurcações.