Cara de um, focinho de outro: o humor da charge pela via da intergenericidade discursiva
DOI:
https://doi.org/10.11606/2316-9877.Dossie.2023.e219550Palavras-chave:
Semiolinguística, Charge, Gênero discursivo, Intergenericidade, HumorResumo
Tem como objeto de estudo quatro charges publicadas entre os anos de 2020 e 2022, em veículos jornalísticos e nas redes sociais de seus autores. O critério de seleção das peças pautou-se pela presença de traços típicos de outros gêneros discursivos na materialidade linguística e/ou visual, que incidem diretamente sobre o desencadeamento de efeitos de sentido humorísticos. Tendo em vista que o humor tem como prerrogativas gerais a exploração da oposição entre sério e não-sério, da incongruência entre diferentes isotopias e do efeito surpresa (Ramos, 2011), em perspectiva discursiva, pode ser concebido como uma estratégia que perpassa diversas situações de comunicação. Nesse sentido, embora nem sempre focalize o riso, o humor pode ser entendido como fio condutor do projeto intencional chargístico, cujo contrato comunicativo jornalístico-midiático orienta as restrições e liberdades do enunciador em prol de uma dupla visada: relatar um acontecimento público e, ao mesmo tempo, temperar a construção desse acontecimento com opinião, para captar (Charaudeau, 2008, 2010). Sabendo que essa orientação se manifesta em diferentes níveis textuais e na verbo-visualidade, intenta-se analisar de que maneira os textos selecionados exploram a intergenericidade (Marcuschi, 2008) com fins humorísticos, sem, contudo, se desviar do eixo contratual da charge.
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