Da fome à letra: deslocamentos íntimos e geográficos em direção à comida

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DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2023.208172

Palavras-chave:

Comida, Deslocamento, Diário, Fome, Literatura brasileira

Resumo

Nos movimentos em um território, que não é campo nem cidade, as narrativas sobre a fome e a falta delineiam percursos registrados em diários: escritas do (mais ou menos) íntimo. O cotidiano, desse modo, registra-se pela busca por comida, mas também pelos momentos compartilhados e de compartilhamento de comida em As mulheres de Tijucopapo (1982), de Marilene Felinto; Autobiografia precoce (1940) e Parque industrial (1933), de Patrícia Galvão; Casa de alvenaria (1961), Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960) e Diário de Bitita (1986), de Carolina Maria de Jesus; e Os supridores (2020), de José Falero. As narrativas acontecem em terrenos reais ou fictícios, mas, em ambos os casos, descrevem e percorrem uma geografia da fome (CASTRO, 1984). Entre a busca por comida e o encontro, mulheres, homens, crianças e trabalhadoras/es são corpos em deslocamento. Em direção à comida: o que se escreve? Diários, cartas, narrativas em primeira pessoa, narrativas em terceira pessoa. Do singular ao plural. Singulares e plurais. Apesar da fome, a voz própria escreve, grita, ecoa.

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Publicado

2023-06-30

Como Citar

Da fome à letra: deslocamentos íntimos e geográficos em direção à comida. (2023). Opiniães, 22, 374-397. https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2023.208172