“Sei quem eu sou, não sou os seus medos”

Monstruosidade, categorias emocionais e autodeterminação em narrativas de mulheres trans e travestis

Authors

  • João Pedro Barros Klinkerfus UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
  • Diana Maciel Dias UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2237-2423.v11i1pe00112008

Keywords:

Mulheres trans e travestis, Monstruosidade, Gênero, Antropologia das emoções, Autodeterminação

Abstract

Neste artigo analisamos o conto “Dançando pelo céu depois de toda chuva”, que conta a história de duas personagens transgêneras, vistas como monstros, passando pelos conflitos da transfobia real e do terror sobrenatural. Utilizamos a ideia de monstruosidade para mostrar como as protagonistas são apresentadas como criaturas e/ou como seres humanos. A partir dos estudos de gênero decoloniais e transfeministas, destacamos como pessoas trans são representadas como anomalias e a suposta binaridade de gênero. Através da Antropologia das emoções, analisamos as categorias emocionais acionadas no conto, especialmente nojo, ódio, medo e raiva; e a relação delas com as narrativas da transgeneridade. Concluímos que a representação de pessoas trans de forma humana e não como estereótipos está ligada ao fato dela ter sido escrita por uma mulher trans que, por meio da autodeterminação, consegue complexificar essas personagens e história.

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biographies

  • João Pedro Barros Klinkerfus, UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

    Graduando do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atuiei como bolsista de iniciação científica PIBIC/CNPq no âmbito do projeto “Desigualdades, conflitos e moralidades em perspectiva etnográfica” entre 2020 e 2022, sob orientação da professora Dra. Flavia Medeiros (ANT/UFSC). Deag queen e pesquisador na área da Antropologia, trabalho com os temas de segurança pública, violência, narrativas e terror.

  • Diana Maciel Dias, UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

    Graduanda do curso de Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Integro o Núcleo de Aquilombamento de Intelectualidades Afrotranscentradas (Núcleo Aya). Coordenei grupo de acolhimento (TRANS)ITA UFSC e atuei como estagiaria na Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidades da UFSC.

References

ABRAI (Associação Brasileira de Intersexos). O que é ser Intersexo. [s. d.].

ABU-LUGHOD, Lila; LUTZ, Catherine. Introduction: Emotion, discourse and the politics of everyday life. In: LUTZ, C.; ABU-LUGHOD, L. (org.). Language and the Politics of Emotion. Cambridge: Cambridge University Press, 1990, p. 1-23.

ALVES, Pedro; POLATO, Amanda. Ativista intersexo passou por 7 cirurgias para corrigir mutilação na infância: 'Sinto que algo meu foi roubado'. G1 Pernambuco, 25 jun. 2021.

BENTO, Berenice. O que é transexualidade. São Paulo: Brasiliense, 2008.

BERNSAU, Brenda. Dançando pelo céu depois de toda chuva. In: BERNSAU, Brenda; MARIA, Jonas; LIMÃO; GABRIEL, Koda. Vozes Trans. Rio de Janeiro: Se Liga, 2021. p. 65-106.

BERNSAU, Brenda; MARIA, Jonas; LIMÃO; GABRIEL, Koda. Vozes Trans. Rio de Janeiro: Se Liga, 2021.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

CARROLL, Nöel. A filosofia do horror ou os paradoxos do coração. Campinas: Papirus, 1999. Tradução de Roberto Leal Ferreira.

COHEN, Jeffrey Jerome. A cultura dos monstros: sete teses. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Pedagogia dos monstros: os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 23-60.

COLLINS, Patricia H. Aprendendo com a outsider whithin: a significação sociológica do pensamento feminista negro. Revista Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 99-127, 2016.

DAMATTA, Roberto. A obra literária como etnografia: notas sobre as relações entre literatura e etnografia. In: Conta de mentiroso: sete ensaios de antropologia brasileira. Rio de Janeiro: Rocco, 1993a, cap. 2, p. 35-58.

DAMATTA, Roberto. Os discursos da violência no Brasil. In: Conta de mentiroso: sete ensaios de antropologia brasileira. Rio de Janeiro: Rocco, 1993b, cap. 7, p. 175-197.

DE SÁ, Daniel Serravalle. Prefácio: expressões do horror. In: MARKENDORF, Marcio; RIPOLL, Leonardo (Org.). Expressões do horror: escritos sobre cinema de horror contemporâneo. Florianópolis: Biblioteca Universitária Publicações, 2017. p. 6-27.

DÍAZ-BENÍTEZ, María Elvira. A monstruosidade da humilhação: uma etnografia entre mulheres agredidas com agentes químicos. Anuário Antropológico, [S.L.], n. 463, p. 187-206, 20 set. 2021. OpenEdition.

DÍAZ-BENÍTEZ, María Elvira; GADELHA, Kaciano; RANGEL, Everton. Nojo, humilhação e desprezo: uma antropologia das emoções hostis e da hierarquia social. Anuário Antropológico, [S.L.], n. 463, p. 10-29, 20 set. 2021. OpenEdition.

DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. São Paulo: Perspectiva, 2014.

EFREM FILHO, Roberto. À queima-roupa: rebaixamento, prazer e desejo em casos de violência policial contra travestis. Anuário Antropológico, [S.L.], n. 463, p. 30-48, 20 set. 2021. OpenEdition.

FRANKENHOOKER. Direção de Frank Henenlotter. Produção de Frank K. Isaac; Edgar Ievins; James Glickenhaus. Roteiro: Frank Henenlotter; Robert Martin. Estados Unidos: Levins-Henenlotter; Shapiro-Glickenhaus Entertainment, 1990. (85 min.), son., color.

GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

HÉRITIER, Françoise. Masculino/feminino. In: ROMANO, Ruggiero (dir.). Enciclopédia Einaudi: Volume 20. Parentesco. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1989. p. 11-26.

JANSSON, Siv. Publisher’s introduction. In: SHELLEY, Mary. Frankenstein. Hertfordshire: Wordsworth Classics, 1999, p. vii-xx.

KLINKERFUS, J. P. A monstruosidade de tudo que é negro: a antinegritude do cinema de horror às páginas dos jornais. Ensaios, v. 18, p. 49-71, 2021.

KLINKERFUS, J. P. A família e a vida trans: contribuições sobre o parentesco no desenvolvimento socioeconômico de mulheres trans e travestis. Revista Textos Graduados, [S. l.], v. 8, n. 1, p. 118–134, 2022.

LA PIEL que Habito. Direção de Pedro Almodóvar. Produção de Esther García; Agustín Almodóvar; Bárbara Peiró. Roteiro: Pedro Almodóvar; Thierry Jonquet. Espanha: El Deseo; Tve; Filmnation Entertainment; Canal+ España; Icaa; Blue Haze Entertainment, 2011. (120 min.), son., color.

LEPRECHAUN: in the Hood. Direção de Rob Spera. Roteiro: Rob Spera; Jon Huffman; Doug Hall; William Wells; Alan Reynolds. 2000. (90 min.), son., color.

LUGONES, María. Rumo a um feminismo decolonial. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 935-952, 2014.

MARTENDAL, Laura. Experiência(s) Profissional(s)?: Relatos de mulheres transexuais. 2015. 60 f. TCC (Graduação) - Curso de Serviço Social, Centro Socioeconômico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.

MAUSS, Marcel. A expressão obrigatória de sentimentos (Rituais orais funerários australianos) (1921). In.: Ensaios de Sociologia. São Paulo: Editora Perspectiva, 1981, cap. 6, p. 325-335.

MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte e Ensaios, [s. l.], n. 32, p. 123-151, dez 2016. Revista do ppgav/eba/ufrj.

MOIRA, Amara. Fazendo histórias. In: BERNSAU, Brenda; MARIA, Jonas; LIMÃO; GABRIEL, Koda. Vozes Trans. Rio de Janeiro: Se Liga, 2021. p. 176-181.

NASCIMENTO, Letícia Carolina do. Transfeminismo. São Paulo: Editora Jandaíra, 2021.

NAZÁRIO, Luiz. Esboço para uma teoria da monstruosidade. In: Da natureza dos monstros. São Paulo: Arte & Ciência, 2003. p. 7-28.

OYĚWÙMÍ, Oyèrónkẹ́. The invention of women: making an African sense of Western gender discourses. Minneapolis, MN: University of Minnesota Press, 1997.

OYĚWÙMÍ, Oyèrónkẹ́. Conceptualizing Gender: The Eurocentric Foundations of Feminist Concepts and the challenge of African Epistemologies. African Gender Scholarship: Concepts, Methodologies and Paradigms. CODESRIA Gender Series. Volume 1, Dakar: CODESRIA, 2004,

PATEL, Nigel. Violent cistems: trans experiences of bathroom space. Agenda, p. 51-63, 2017.

PHOTOPOULOS, Julianna. The future of sex in elite sport. Nature, [s .l.], v. 592, n. 7852, p. 12-15, 31 mar. 2021.

RUIZ, Melissa Salinas. Transmedicalismo, corporalidades e sociedade. Research, Society And Development, [S.L.], v. 10, n. 11, p. 1-11, 22 ago. 2021. Research, Society and Development.

SCHUCH, Patrice. A moral em questão: a conformação de um debate em antropologia. In: WERNECK, A.; CARDOSO DE OLIVEIRA, L. R. (Org.). Pensando bem: estudos de sociologia e antropologia da moral. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p. 92-106.

SEVCENKO, Nicolau. Entre o céu e o inferno. In: Arte pública. São Paulo: SESC, 1998, p. 136-144. Trabalhos apresentados nos seminários de Arte Pública realizados pelo SESC e pelo USIS (1995-1996).

SHELLEY, Mary. Frankenstein. Hertfordshire: Wordsworth Classics, 1999.

SILENCE of the Lambs. Direção de Jonathan Demme. Produção de Ronald M. Bozman; Edward Saxon; Kenneth Utt; Gary Goetzman; Larry Jackson. Roteiro: Thomas Harris; Ted Tally. Estados Unidos: Orion Pictures; Strong Heart/Demme Production, 1991. (118 min.), son., color.

SILVA, Maurício Roberto da; DICKMANN, Ivo; BERNARTT, Maria de Lourdes. “FORA TEMER”: Para além do ódio de classe – a resistência ativa!. Revista Pedagógica, [s. l.], v. 18, n. 38, p. 7-14, 2016.

SLEEPAWAY Camp. Direção de Robert Hiltzik. Produção de Robert Hiltzik; Jerry Silva; Michele Tatosian. Roteiro: Robert Hiltzik. Estados Unidos: American Eagle; U.s. Films, 1983. (88 min.), son., color.

STRYKER, Susan. My words to Victor Frankenstein above the village Chamounix: performing transgender rage. In: STRYKER, Susan; WHITTLE, Stephen (Ed.). The transgender studies reader. New York: Routledge, 2006, cap. 19, p. 244-256.

SUÁREZ, César. O revolucionário direito ao ódio de classe. PCB - Partido Comunista Brasileiro, 29 mar. 2022. Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB).

TSRI, Kwesi. Africans are not black: why the use of the term ‘black’ for Africans should be abandoned. African Identities, v. 14, n. 2, p. 147-160, 2016.

VÍCTORA, Ceres; COELHO, Maria Claudia. A antropologia das emoções: conceitos e perspectivas teóricas em revisão. Horizontes Antropológicos, [Online], n. 54, p. 7-21, 2019.

Published

2024-08-25

How to Cite

Klinkerfus, J. P. B., & Dias, D. M. (2024). “Sei quem eu sou, não sou os seus medos”: Monstruosidade, categorias emocionais e autodeterminação em narrativas de mulheres trans e travestis. Primeiros Estudos, 11(1). https://doi.org/10.11606/issn.2237-2423.v11i1pe00112008