Psiquiatria soviética e psicanálise durante a Guerra Fria: debates e narrativas dissidentes na Iugoslávia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/0103-6564e230162

Palavras-chave:

história da psicanálise, psicanálise, Pavlov (Ivan), Freud, psiquiatria

Resumo

O principal objetivo deste artigo é analisar como as teorias psicanalíticas foram percebidas por alguns representantes da psiquiatria soviética durante a Guerra Fria e como alguns psicanalistas/psiquiatras do Leste Europeu se tornaram dissidentes das abordagens soviéticas pavlovianas. O “freudismo” era considerado uma ideologia burguesa pela psiquiatria soviética e não foi bem aceito na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e em outros estados socialistas durante a Guerra Fria. Entretanto, as restrições à psicanálise não ocorriam apenas na Europa Oriental, já que Freud também era severamente criticado pelos psiquiatras do Oeste Europeu. Nesse sentido, o nosso objetivo é estudar esse debate intelectual por meio de uma perspectiva histórica global, evitando a comum dicotomização “entre blocos” no que diz respeito à saúde mental. Para tal propósito, vamos analisar o artigo “Freudism – A Reactionary Manifestation of Bourgeois Ideology” (1958), escrito por D. Fedotov, e algumas descobertas recentes da psicanálise iugoslava entre os anos 1960 e 1980.

Downloads

Biografia do Autor

  • Tiago Pires, Institute of Ethnology and Folklore Studies

    Institute of Ethnology and Folklore Studies with Ethnographic Museum Bulgarian Academy of Sciences, Sofia, Bulgária

Referências

Antić, A. (2012). Psychiatry at war: psychiatric culture and political ideology in Yugoslavia under the nazi occupation (PhD dissertation). School of Arts and Sciences, Columbia University, New York.

Antić, A. (2018). Imagining Africa in Eastern Europe: Transcultural Psychiatry and Psychoanalysis in Cold War Yugoslavia. Contemporary European History, 28(2), 234-251. doi: 10.1017/S0960777318000541.

Antić, A. (2022). Non-Aligned Psychiatry in the Cold War: Revolution, Emancipation and Re-Imagining the Human Psyche. Cham, Switzerland: Palgrave Macmillan.

Bullard, A. (2007). Imperial Networks and Postcolonial Independence: The Transition from Colonial to Transcultural Psychiatry. In S. Mahone & M. Vaughan (Eds.), Psychiatry and Empire. Cambridge Imperial and Post-Colonial Studies. Basingstoke: Palgrave Macmillan.

Carothers, J. C., & World Health Organization (1953). The African mind in health and disease: a study in ethnopsychiatry. Recuperado de https://apps.who.int/iris/handle/10665/41138

Clavurier, V. (2013). Real, simbólico, imaginário: da referência ao nó. Estudos de Psicanálise, (39), 125-136. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372013000100015

Danto, E. A. (2019). As clínicas públicas de Freud. Psicanálise e justiça social, 1918-1938. São Paulo, SP: Perspectiva.

De Martino, E. (2023). La terra del rimorso. Torino: Einaudi. (Trabalho original publicado em 1961).

Deleuze, G., & Guattari, F. (2010). O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo, SP: 34. (Trabalho original publicado em 1972)

Delille, E. (2016). On the history of cultural psychiatry: Georges Devereux, Henri Ellenberger, and the psychological treatment of Native Americans in the 1950s. Transcultural Psychiatry, 53(3), 392-411. doi: 10.1177/1363461516649832

Devereux, G. (1970). Essais d’ethnopsychiatrie Générale. Paris: Gallimard.

Einstein, A., & Freud, S. (2017) Porquê a Guerra? Reflexões sobre o destino do mundo. Lisboa: 70. (Trabalho original publicado em 1933)

Etkind, A. (1997). Eros of the Impossible: The History of Psychoanalysis in Russia. Boulder: Westview.

Fedotov, D. (1959). Freudianism-A Reactionary Manifestation

of Bourgeois Ideology. Political Research, Organization

and Design, 3(2), 35-38. doi: 10.1177/000276425900300206

Freud, S. (1996) Observações sobre o amor transferencial (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise III) (1915 [1914]). In S. Freud, O caso Schreber, artigos sobre técnica e outros trabalhos (1911-1913) (pp. 177-188). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1914).

Freud, S. (2011). O Eu e o Id, “Autobiografia” e outros textos (1923-1925) (Obras Completas vol. 16). São Paulo, SP: Companhia das Letras.

Freud, S. (2013). O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos (1930-1936) (Obras Completas vol. 18). São Paulo, SP: Companhia das Letras.

Herzog, D. (2017). Cold War Freud: Psychoanalysis in an Age of Catastrophes. Cambridge: Cambridge University Press.

Lacan, J. (2002) Le séminaire, livre XXII: R.S.I (1974-1975). Paris: Éd. hors commerce de l’Association Freudienne Internationale.

Laplantine, F. (2010). Antropologia da Doença. São Paulo, SP: WMF Martins Fontes.

Marks, S. (2018) Suggestion, persuasion and work: Psychotherapies in communist Europe. European Journal of Psychotherapy & Counselling, 20(1), 10-24. doi: 10.1080/13642537.2017.1421986

Matić, V. (1976). Psihoanaliza mitske prošlosti I. Beograd: Prosveta.

Matić, V. (1979). Paleopsihologija. In V. Matić, Psihoanaliza mitske prošlosti II. Beograd: Prosveta.

Matić, V. (1983). Psihoanaliza mitske prošlosti III. Beograd: Prosveta.

Péteri, G. (2004). Nylon Curtain – Transnational and Transsystemic Tendencies in the Cultural Life of State-Socialist Russia and East-Central Europe. Slavonica, 10(2), 113-123. doi: 10.1179/sla.2004.10.2.113

Petrov, C. (1941). Психология И Психопатология На Религиозното Чувство [Psychology and psychopathology of religious feeling]. Sofia: Hudozhnik.

Plotkin, M. B. (2001). Freud in the Pampas: The emergence and development of a psychoanalytic culture in Argentina. Stanford, CA: Stanford University Press.

Richebächer, S. (2017) Uma ligação perigosa com o poder: a psicanálise na Rússia bolchevique. Lacuna, 1(7), 2-22. Recuperado de https://revistalacuna.com/2019/08/07/n-7-1/

Risso, M., & Böker, W. (2000). Sortilegio e delirio. Psicopatologia delle migrazioni in prospettiva transculturale. Napoli: Liguori Editore. (Trabalho original publicado em 1964).

Roudinesco, E. (2016). Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.

Savelli, M. (2013). The Peculiar Prosperity of Psychoanalysis in Socialist Yugoslavia. The Slavonic and East European Review, 91(2), 262-288. doi: 10.5699/slaveasteurorev2.91.2.0262

Savelli, M., & Marks, S. (2015). Communist Europe and Transnational Psychiatry. In M. Savelli, & S. Marks (Eds.), Psychiatry in Communist Europe. New York: Palgrave Macmillan.

Sharankov, E. (1980). Feuergehen: Psychologisch-physiologische und historisch-geographische Untersuchung des Nestinarentums in Bulgarien. Stuttgart: Hippokrates Verlag. (Trabalho original publicado em 1947).

Teodorski, M. (2021). Konceptualne osnove paleopsihologije Vojina Matića u kontekstu srpske etnologije [The Conceptual Foundations of Vojin Matić‘s Paleopsychology in the Context of Serbian Ethnology]. Етноантрополошки проблеми, 16(2), 353-374. doi: 10.21301/eap.v16i2.2

Downloads

Publicado

04/01/2025

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Psiquiatria soviética e psicanálise durante a Guerra Fria: debates e narrativas dissidentes na Iugoslávia. (2025). Psicologia USP, 36, e230162. https://doi.org/10.1590/0103-6564e230162