Numa terra estranha: sonho, diferença e alteração entre os Tikmũ’ũn (Maxakali)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.195930

Palavras-chave:

Sonhos, perspectivismo, xamanismo, parentesco, Maxakali

Resumo

A ideia de que o sonho seja qualquer coisa como uma “viagem da alma” é de uma recorrência etnográfica impressionante. O que se entende por “viagem” e “alma” nos mais variados contextos está longe, contudo, de ser algo evidente. Os Tikmũ’ũn, mais conhecidos como Maxakali (MG), costumam igualmente descrever sua experiência onírica como um deslocamento da “alma” (koxuk) por caminhos tortuosos e perigosos que costumam desembocar nas terras estranhas onde vivem seus parentes mortos e de onde o retorno nem sempre é fácil, se é mesmo possível. Porém, mais do que isso, é curioso notar como a experiência da viagem e do deslocamento, entre eles, possui paralelos com a sua experiência onírica. Desse modo, não somente o sonho é algo como uma “viagem” como suas viagens parecem remeter – bem como a estimular – a experiência onírica. Neste artigo, pretendo explorar estes paralelos entre “sonho” e “viagem”, bem como aqueles entre “sonho”, “corpo”, “doença” e “morte”.

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Biografia do Autor

  • Roberto Romero Ribeiro Júnior, Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Roberto Romero Ribeiro Júnior é doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional (UFRJ) e pesquisador do Núcleo de Antropologia Simétrica (NAnSi).

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Publicado

2022-11-25

Edição

Seção

Dossiê - Novas perspectivas sobre os sonhos ameríndios

Como Citar

Ribeiro Júnior, R. R. (2022). Numa terra estranha: sonho, diferença e alteração entre os Tikmũ’ũn (Maxakali). Revista De Antropologia, 65(3), e195930. https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.195930