Ne dubita meminisse: o culto a César, das origens plebeias à hegemonia
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2179-5487.20.2024.225992Palavras-chave:
Roma Antiga , Júlio César, plebe, divinização, Fórum RomanoResumo
Este artigo tem por objetivo analisar o processo memorialístico que deu origem ao culto de Júlio César no coração da antiga Roma, o Fórum Romano, no intervalo de quarenta anos, desde o funeral do ditador em março de 44 a.C. até a década de 10 a.C., momento de consolidação do Principado de Augusto. Neste ínterim, a lateral sul da praça sofreu imensas transformações: primeiro assistiu às exéquias de César capitaneadas pelas massas subalternas presentes no Fórum após a divulgação da notícia de seu assassinato por membros da elite romana; depois abrigou um monumento improvisado pela plebe urbana e veteranos do ditador em torno do qual se gestou o primeiro culto a César na capital imperial; por fim, este local de culto foi aos poucos sendo fagocitado pela classe hegemônica conforme o Principado Augustano se fortalecia, culminando na construção do Templo do Divino Júlio. Por um lado, buscamos compreender as razões que teriam levado as classes subalternas a tomar a frente neste processo. Por outro, veremos de que forma a classe dominante se apropriou desta iniciativa popular para reassumir o controle sobre a memória de um de seus membros, César. Para tanto, tomamos o Fórum Romano enquanto organismo, no sentido gramsciano da palavra. Dada a importância capital deste espaço na vida política de Roma por agrupar diferentes parcelas sociais, lemos o Fórum como um organismo que constrói o consenso mediante o atrito e a participação assimétrica das partes ali envolvidas.
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