Haroldo de Campos e o sujeito da tradução monstruosa
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511.tradterm.1998.49524Palavras-chave:
Tradução, monstruosidade, visibilidade.Resumo
Estudos que analisam o discurso de Haroldo de Campos (Souza, 1986; Bassnet, 1993; Vieira, 1994) e que versam sobre a tradução observam que o autor, tendo a antropofagia como um dos suportes teóricos para o seu projeto de escritura, estende para a sua prática tradutória a filosofia de devoração, transformando as imagens encontradas no texto original num pre-texto para elucidar o processo de tradução no contexto da literatura brasileira. Esses estudos analisam a metáfora de Haroldo, da tradução como vampirização, presente no posfácio de Deus e o Diabo no Fausto de Goethe, como estreitamente relacionada ao ato antropofágico de devoração do outro visando à renovação. Deixam de lado, entretanto, outras interpretações possíveis daquela imagem. Este trabalho propõe uma leitura da metáfora da vampirizição, focalizando a noção de monstro, a figura do vampiro no Fausto de Goethe e a relação dos temas do vampiro e do Fausto como elementos norteadores da referida metáfora. A tradução como vampirização, ou o tradutor como vampiro, são aqui analisados como construções discursivas que, embora contribuam para uma desejada visibilidade do tradutor e sua afirmação como sujeito da tradução, podem, entretanto, representar a ambigüidade e a contaminação das relações lingüísticas interculturais. O monstro e a monstruosidade como construções discursivas para o tradutor e a tradução anunciam um sujeito inevitavelmente contaminado pelo desejo ambivalente de anular e simultaneamente dar vida eterna ao co-criador da obra.
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