Prorrogação para submissões no dossiê: "Territorializando corpos, gêneros e sexualidades"

2024-06-17

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CHAMADA PARA SUBMISSÕES NO DOSSIÊ: "TERRITORIALIZANDO CORPOS, GÊNERO E SEXUALIDADES"

Desde a década de 1970, o estudo sobre corpo e diferença no campo da Antropologia Social foi acompanhado por reflexões direcionadas ao espaço de observação. Fosse por seu aspecto etnográfico e a localização de estudos em sociedades não ocidentais, fosse pela forte presença de questionamentos das teorias feministas, a suposição de um espaço com características particulares esteve presente na construção das análises e problemas de pesquisa. Nessa agenda, contudo, o espaço tendia a ser percebido como um elemento cenográfico, um espaço de inscrições de normas culturais, sociais e formas de organização social a partir do qual o que concebemos como gênero e sexualidade se instauraram. Entre as décadas de 1980 e 1990, com a profusão de estudos sobre sexualidade, sociabilidades e regimes de identificação, esses aspectos ganharam novos contornos, passando a formar parte de um conjunto de análises mais elaborado e detalhado. Afinal, como o lugar forma parte das economias semânticas que conformam gênero ou sexualidade? Como corpo e território se fundem na constituição de categorias sociais significativas para a compreensão dos mundos sociais vividos?

A partir destas questões, a presente chamada visa reunir trabalhos que discutam os desafios e dilemas impostos à etnografia, metodologia e teoria antropológica ao considerar como territórios atuam na configuração das ideias e práticas de conhecimento relacionadas ao gênero, à sexualidade e ao corpo, considerando também suas dimensões interseccionais. A chamada busca reunir contribuições que tematizem e dialoguem com as questões apresentadas a partir de cenários etnográficos variados: periferias urbanas, contextos rurais e urbanos de pequena escala, quilombos e terras indígenas, garimpos e acampamentos, espaços corporativos e instituições, espaços de práticas científicas e especializadas, entre outras.

A partir de seu trabalho etnográfico e do diálogo com a teoria feminista, Marilyn Strathern argumentou em The Gender of the Gift que o gênero deveria ser interpretado como uma categoria fundamentalmente relacional, indo além de uma leitura “sobre” homens e mulheres. De modo análogo, a partir das contribuições de autoras como Esther Newton e seu estudo sobre performance e sociabilidade entre drag queen, a filósofa Judith Butler considera que o gênero deve ser entendido como uma cópia sem original, uma reprodução mimética inscrita a partir de uma gramática específica que encadeia corpo, gênero e desejo. A constituição desses elementos a partir de contextos e conjunções específicas tem sido objeto de interlocução da Antropologia já há bastante tempo, como mostraram os trabalhos de Dorine Kondo, Mariella Bacigalupo, Evelyn Blackwood, Tom Boellstorff, Marcia Ochoa, Richard Parker e outros. No âmbito das contribuições à antropologia e à produção de urbanidade, Nestor Perlongher propôs a territorialidade como um mecanismo para observar fluxos e movimentos que anteveem relações entre sexo, subjetividade e espaço urbano, a partir da experiência de prostituição viril. Experimentações teóricas e metodológicas semelhantes também permitiram considerar como categorias são co-produzidas e implicam formas de se relacionar com o território particulares, a exemplo do que ilustram os trabalhos de autoras como Philomena Essed, Lélia Gonzalez, Mara Viveros Vigoya e Avtar Brah. Essas propostas podem ser compreendidas na esteira do que Kimberlé Crenshaw, Patricia Hill Collins e Sirma Bilge e Carla Akotirene categorizam e descrevem como interseccionalidade, ou seja, as conexões e sobreposições entre marcadores sociais que constituem diferentes regimes de opressão e privilégio social. Assim, qual o papel do território na conformação de noções de corpo e diferença e como eles se articulam às experiências interseccionais?

O dossiê busca compreender: quais reelaborações essas intersecções lançam para a produção antropológica sobre sexualidade e gênero? Quais incitações teóricas-metodológicas são lançadas a partir da problematização do território? Quais reflexões éticas emergem dessas situações particulares? Buscamos pesquisas e reflexões etnográficas que abordem a diversidade e a diferença de gênero e sexualidade, tendo como eixo reflexivo o território e suas particularidades. Pretendemos, portanto, agregar reflexões instigadoras de questões que emergem de suas experiências e estudos, abordando questões relacionadas à sexualidade e ao gênero em suas pesquisas, provocando novas questões e reelaborações epistemológicas.

O novo prazo para envio de contribuições é 17 de julho de 2024 e as propostas podem ser apresentadas em português, espanhol ou inglês. Os textos deverão ser enviados exclusivamente via portal da Revista Cadernos de Campo (www.revistas.usp.br/cadernosdecampo), observando as normas de apresentação dos trabalhos e a política editorial da revista. Quaisquer dúvidas podem ser encaminhadas para a revista em cadcampo@gmail.com.

 

Organizadores                         

 João Victtor Gomes Varjão

Doutorando em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo e pesquisador no Núcleo de Estudos sobre Marcadores Sociais da Diferença.

E-mail: jvgomesvarjao@gmail.com.

                                                              

 Maiara Damasceno da Silva Santana

Etnóloga e doutora em Antropologia, mestra em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia.

E-mail: maiaramerico@gmail.com.

 

 Anne Alencar Monteiro

Doutoranda e mestra em Antropologia Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

E-mail: alencar.anne@gmail.com