Contribuições de uma leitura fleckiana do movimento Anti-Vaxx para a compreensão do negacionismo científico

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2178-6224v19i1p65-81

Palavras-chave:

Epistemologia, Ludwik Fleck, sociologia da ciência, negacionismo científico, Vacinas

Resumo

Este artigo aborda a carreira, interesses profissionais e o contexto sócio-político em que viveu Ludwik Fleck A seguir, foca nos conceitos de “estilo de pensamento” e “coletivo de pensamento” que fazem parte de sua epistemologia. O objetivo é a partir deles e de outros elementos da epistemologia de Fleck compreender o processo histórico-cultural envolvido no negacionismo científico em relação à vacina. Para isso, utilizaremos alguns exemplos históricos. Consideramos que o movimento antivacinas é representado por um grupo de pessoas que pertencem, predominantemente, a círculos exotéricos em termos políticos, expressando dogmaticamente os interesses políticos desses grupos. Os manifestantes contra a vacina se posicionam como defensores das liberdades individuais, desconfiando da máquina pública e compreendendo o estado como uma entidade controladora e invasiva.

Biografia do Autor

  • Marllon Rosa, Universidade Estadual de Londrina

    É professor de Biologia e Biotecnologia da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte do Paraná, atuando no Ensino Médio. É professor de História, Filosofia e Sociologia do "Curso (r)evolução: preparatório para o ingresso no Ensino Superior", além de atuar como Coordenador Pedagógico no mesmo curso. Possui Graduação em Ciências Biológicas - Licenciatura Plena - pela Universidade Federal de Lavras (2020), possui Graduação em andamento em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), possui Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática na área de concentração de História e Filosofia da Ciência na UEL (2023) e Doutorado em andamento no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática (PECEM) da UEL na área de concentração de História e Filosofia da Ciência e da Matemática. Desenvolve pesquisas em Epistemologia de Ludwik Fleck sob a ótica marxista e estudos marxistas sob a perspectiva de György Lukács, pensando a ciência e a educação científica sob a luz do materialismo histórico-dialético a partir da ontologia do Ser Social, mobilizando as categorias de Trabalho, Reprodução, Ideologia e Alienação/Estranhamento. Faz parte do Projeto de Pesquisa Universal financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) chamado "Ciência Cidadã e Educação Básica: Análise de perfil, engajamento e experiência dos participantes" proposto pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do projeto "Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (NAPI) Educação para a Ciência e Divulgação Científica: implementação e análise do desenvolvimento e impacto do Ciência Cidadã na Escola". É membro do Grupo de Pesquisa em Ensino e Epistemologia da Ciência (GPEEC) vinculado ao PECEM da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Foi professor bolsista de Biologia, Filosofia e Sociologia no Programa de Apoio Pré- Universitário/UFLA (2018-2020), foi professor de Ciências Biológicas no Centro para o Desenvolvimento do Potencial e Talento (CEDET) de Lavras-MG e monitor da disciplina de Biofísica dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas (2019-2020) da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Foi membro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) Interdisciplinar (2017-2018) na Universidade Federal de Lavras (UFLA). Tem interesse nas seguintes áreas: História, Filosofia e Sociologia da Ciência e da Biologia; Epistemologia de Ludwik Fleck; Ontologia lukacsiana; Estudos Marxistas; Ensino de Ciências e Biologia, Educação Científica e Ambiental; Construção de Materiais Didático-pedagógicos.

  • Mariana Aparecida Bologna Soares de Andrade, Universidade Estadual de Londrina

    Professora Associada B no Departamento de Biologia Geral da Universidade Estadual de Londrina, Professora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática - UEL. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2003), graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2001), Mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Para a Ciência pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2007) e Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Para a Ciência pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2011). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino de Ciências atuando principalmente nos seguintes temas: ensino de biologia, epistemologia da biologia, aprendizagem baseada em problemas, resolução de problemas.

Referências

BARBOSA, Cinthia Mirelly Gomes. Para pensar o negacionismo na atualidade: algumas modalidades e expressões deste fenômeno. Boletim do Tempo Presente, 11 (9): p. 26-28, 2022. Disponível em: <https://periodicos.ufs.br/tempopresente/article/view/18173>. Acesso em: 13 jun. 2024.

BELTRÃO, Renata Paula Lima et al. Perigo do movimento antiva-cinas: análise epidemio-literária do movimento antivacinação no Brasil. Revista Eletrônica Acervo Saúde, 12 (6): p. e3088-e3088, 2020. DOI: https://doi.org/10.25248/reas.e3088.2020.

CAMARGO JÚNIOR., Kenneth Rochel de. Lá vamos nós outra vez: a reemergência do ativismo antivacinas na Internet. Cadernos de Saúde Pública, 36 (1): p. 1-8, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311X00037620.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadãos ativos: a Revolta da Vaci-na. In: Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi, 1999.

CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 2017.

COHEN, Robert; SCHNELLE, Thomas. Cognition and fact: materials on Ludwik Fleck. Boston: Boston Studies in the Philosophy of Science, 1986.

CONDÉ, Mauro. 2016. Ludwik Fleck’s reception in Brazil: from an anonymous visitor to a renowned thinker. Transversal: International Journal for the Historiography of Science, 1: 46-51, 2016. DOI: https://doi.org/10.24117/2526-2270.2016.i1.07.

CRESCÊNCIO, Cintia Lima. A revolta da vacina: higiene e saúde como instrumentos políticos. Biblos, 22 (2): p. 57-73, 2008. Dis-ponível em: <https://periodicos.furg.br/biblos/article/view/962>. Acesso em: 13 jun. 2024.

D’ALÒ, Gian Loreto ZORZOLI, Ermano; CAPANNA, Alessan-dra; GERVASI, Giuseppe; TERRACIANO, Elisa; ZARATTI, Laura; FRANCO, Elisabetta. Frequently asked question on seven rare adverse following immunization. Journal of Preventive Medicine and Hygiene, 58 (1): p. E13-E26, 2017. DOI: https://doi.org/10.15167/2421-4248/jpmh2017.58.1.659.

FEIJÓ, Ricardo Becker; SÁFADI, Marco Aurélio P. Imunizações: três séculos de uma história de sucessos e constantes desafios. Jornal de Pediatria, 82 (3): p. 1-3, 2006. DOI: https://doi.org/10.1590/S0021-75572006000400001.

FERNANDES, Tania. Vacina antivariólica: seu primeiro século no Brasil (da vacina jenneriana à animal). História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 6 (1): p. 29-51, 1999. DOI: https://doi.org/10.15167/24214248/jpmh2017.58.1.659.

FLECK, Ludwik. Gênese e desenvolvimento de um fato científico: introdução à doutrina dos estilos de pensamento e coletivos de pensamen-to. Trads. Georg Otte e Mariana Camilo de Oliveira. Belo Hori-zonte: Frabrefactum, 2010.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Trads. Sérgio Henriques, Marco Aurélio Nogueira e Carlos Nelson Coutinho. Rio de Ja-neiro: Civilização Brasileira, 2000.

HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Trad. Flávio R. Kothe. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.

HUSSAIN, Azhar et al. The ani-vaccination movement: a regression in modern medicine. Cureus, 6 (7): p. e219, 2018. DOI: https://doi.org/107759/cureus.2919.

LEASK, Julie. Should we do battle with antivaccination activists?. Public Health Research & Practice, 25 (2): p. e2521515, 2015. DOI: https://doi.org/10.17061/phrp2521515.

LOUREIRO, Robson; GONÇALVES, Emerson Campos. (Semi) Formação no contexto das fake news e da pós-verdade na soci-edade excitada: de Adorno a Türcke. Educação em Revista, 37 (1): p. 1-21, 2021. DOI: https://doi.org/10.1590/0102-4698225778.

LÖWY, Michael. A teoria da revolução do jovem Marx. São Paulo: Boi-tempo Editorial, 2012.

MARTINS, Roberto de Andrade; MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pe-reira; TOLEDO, Maria Cristina Ferraz de; FERREIRA, Renata Ri-vera. Contágio. História da prevenção das doenças transmissíveis. 3. Im-pres-são. São Paulo: Editora moderna, 1997.

MONASTERIO, Leonardo Monteiro; EHRL, Phillip. Colônias de povoamento versus colônias de exploração: de heeren a acemo-glu. Texto para Discussão, 2119 (1): p. 7-32, 2015. Disponível em: <https://www.econstor.eu/handle/10419/121609>. Acesso em: 17 jun. 2024.

MORAES, Dênis. Comunicação, hegemonia e contra-hegemonia: a contribuição teórica de Gramsci. Revista Debates, 4 (1): p. 54-77, 2010. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-5269.12420.

PRATES, Vinicius. O engano, a doença, a morte: como as fake News simularam técnicas canônicas do jornalismo durante a pandemia de Covid-19. ECCOM: Educação, Cultura e Comunicação, 14 (27): p. 91-104, 2023. Disponível em: <https://openurl.ebsco.com/results?sid=ebsco:ocu:record&bquery=IS+2177-5087+AND+VI+14+AND+IP+27+AND+DT+2023>. Aces-so em: 27 jun. 2024.

RADZIKOWSKI, Jacek et al. The measles vaccination narrative in Twitter: a quantitative analysis. JMIR public health and surveillance, 2 (1): p. e1, 2016. DOI: https://doi.org/10.2196/publichhealth.5059.

SARAIVA, Luiza J. C da; FARIA, Joana Frantz de. A Ciência e a Mídia: a propagação de Fake News e sua relação com o movi-mento anti-vacina no Brasil. In: Anais do 42º Congresso Brasi-leiro de Ciência da Computação, Belém, PA, 2019. Disponível em: <https://portalintercom.org.br/anais/nacional2019/resumos/R14-1653-1.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2024.

STUCKEY, Marc et al. The philosophical works of Ludwik Fleck and their potential meaning for teaching and learning science. Science & Education, 24 (1): p. 281-198, 2015. DOI: https://doi.org/10.1007/s11191-014-9723-9.

SUCCI, Regina Célia de Menezes. Vaccine refusal-what we need to Know. Jornal de pediatria, 91 (6): p. 574-581, 2018. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jped.2018.01.008.

TAKAHASHI, Bruno Tadashi. A formação inicial de professores de ciências no estágio supervisionado: compreendendo a identidade docente a partir da teoria das representações sociais e da epistemologia de Ludwik Fleck. 2018. 142 f. Tese (doutorado em Educação para a Ciência e a Matemática) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2018. Disponível em: <http://repositorio.uem.br:8080/jspui/handle/1/4655>. Aces-so em: 27 jun. 2024.

TOLEDO JÚNIOR, Antônio Carlos de Castro. História da Varío-la. Revista Médica de Minas Gerais, 15 (1): p. 58-65, 2005. Disponível em: <https://rmmg.org/artigo/detalhes/1461>. Acesso em: 13 jun. 2024.

VIEIRA, Pâmela Rocha; GARCIA, Leila Posenato; MACIEL, Ethel Leonor Noia. Isolamento social e o aumento da violência do-méstica: o que isso nos revela?. Revista Brasileira de Epidemiologia, 23 (1): p. e200033, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/1980-549720200033.

capa

Downloads

Publicado

2024-06-29

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

ROSA, Marllon; ANDRADE, Mariana Aparecida Bologna Soares de. Contribuições de uma leitura fleckiana do movimento Anti-Vaxx para a compreensão do negacionismo científico. Filosofia e História da Biologia , São Paulo, Brasil, v. 19, n. 1, p. 65–80, 2024. DOI: 10.11606/issn.2178-6224v19i1p65-81. Disponível em: https://periodicos.usp.br/fhb/article/view/fhb-v19-n1-04.. Acesso em: 2 jul. 2024.