Caçando os devoradores
Agência, “meninas indígenas” e enquadramento neocolonial
DOI:
https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.156129Palavras-chave:
Gênero, sexualidade, violência, exploração sexual, Amazônia, fronteirasResumo
Este artigo é resultado de uma pesquisa antropológica sobre gênero e territórios de fronteira conduzida desde 2010 na Amazônia brasileira. Aqui me aproximo da violência através de uma análise das relações entre “indígenas” e “brancos” no enquadramento da construção de uma cidade amazônica, como expressões de políticas corporais (neo)coloniais. Focando na perspectiva de mulheres indígenas que habitam a cidade, presto atenção a seus envolvimentos conjugais, sexuais e econômicos com o “mundo dos brancos” (incluídos os corpos, a cidade e o Estado). Estes envolvimentos são entendidos em termos de agenciamentos indígenas e generificados: a capacidade dessas jovens de lidar com, resistir, sofrer e se apropriar dos bens, dos presentes e dos corpos do projeto colonial.
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