A “Caixa de Pandora”. Representação, diferença e tecnologias nativas de reprodução entre os Rikbaktsa (Macro-Jê) do Sudoeste Amazônico
DOI:
https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.165225Palavras-chave:
Povos indígenas sulamericanos, homossexualidade, etnografiaResumo
Este artigo analisa o modo pelo qual os Rikbaktsa falam sobre e produzem suas “diferenças”, incluindo aquelas de gênero, sexo e outras modalidades de relação, com destaque para as práticas homoeróticas femininas. Centrado nas biotecnologias nativas e investigando sobre seus “dados bio-lógicos de base”, ele destaca a maestria exercida pelas mulheres sobre a produção de “pessoas” e de suas relações, em uma sociedade patrilinear e com ideias patricentradas sobre concepção, praticante da paternidade múltipla. A etnografia rikbaktsa sugere a reconsideração dos modelos hegemônicos para explicar os regimes de socialidade ameríndios e as sexualidades de povos indígenas brasileiros, diante do ressurgimento contemporâneo do tema. Por fim, o artigo explora alguns dilemas do fazer etnográfico e da representação na teoria antropológica.
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