A “libertação” entre cristãos e o conceito antropológico de ritual

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2021.182376

Palavras-chave:

Libertação, Ritual, Padrão, Etnografia, Cristianismo

Resumo

Este artigo advém de pesquisa etnográfica realizada entre os anos de 2013 e 2016 com católicos na cidade de São Paulo/SP e se volta ao tema da “libertação”. Trata-se de descrever que para esses cristãos libertar, quando envolve o demônio, não acarreta necessariamente formas ditas rituais. Com isto em perspectiva, o propósito da  argumentação é sublinhar algumas questões relativas ao recorrente entrelaçamento analítico entre a libertação e o conceito  antropológico de ritual. Debato que este conceito, ao sugerir a replicação de um padrão, tem pouco alcance analítico diante de formas de vida cristãs carismáticas, pois empalidece algo crucial: as ações divinas não são passíveis de serem subsumidas a uma classe de eventos que se caracteriza por sucessões, sequências ou  repetições.

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Biografia do Autor

  • Ypuan Garcia, Universidade Federal do Paraná

    Ypuan Garcia é Pesquisador associado do Núcleo de Antropologia da Política, do Estado e das Relações de Mercado da Universidade Federal do Paraná (NAPERUFPR), Paraná, PR, Brasil. Doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil.

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Publicado

2021-02-26

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Garcia, Y. (2021). A “libertação” entre cristãos e o conceito antropológico de ritual. Revista De Antropologia, 64(1), e182376. https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2021.182376