Entre o técnico e o político: os estudos sociais da ciência e da tecnologia e o debate sobre a expertise
DOI:
https://doi.org/10.14201/reb2023102185102Palavras-chave:
Expertise, Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia, pós-verdade, negacionismos, Ciência e PolíticaResumo
O artigo examina o debate sobre a expertise, que mobilizou os estudos sociais da ciência e da tecnologia (Science, Technology and Society/STS) nas duas primeiras décadas do século XXI. Esse debate colocou em questão não apenas as agendas investigativas e os balizamentos teóricos do campo, mas também as implicações políticas e sociais do próprio ofício de seus estudiosos. O tema da expertise ganha relevância tanto em situações em que se reivindica maior participação social na agenda pública envolvendo conhecimentos técnicos quanto em face dos negacionismos que atacam a credibilidade da ciência. Que papel os STS, empenhados em evidenciar os nexos entre ciência e sociedade, devem desempenhar nesses cenários? Como reconhecer a autoridade dos cientistas sem reiterar as antigas concepções positivistas sobre a ciência? Analisamos dois momentos-chaves em que o campo se debruçou sobre tais questões: a discussão suscitada pela Sociologia normativa da expertise de Harry Collins e Robert Evans no início dos anos 2000 e os debates sobre “pós-verdade” desencadeados a partir de 2016, com a ascensão das novas direitas. Um exame dessas discussões se faz necessário à luz dos desafios contemporâneos, ao mesmo tempo acadêmicos e políticos, envolvendo o fortalecimento das instituições científicas como dimensão crucial da democracia.
Downloads
Referências
Ávila, G. da C. (2013). Epistemologia em conflito: uma contribuição à história das guerras da ciência. Belo Horizonte: Fino Traço.
Baker, E., & Oreskes, N. (2017). It’s No Game: Post-truth and the Obligations of Science Studies. Social Epistemology Review and Reply Collective, 6(8), 1-10.
Bertanha, C. F. (2020, jul.) Universalização do princípio da simetria? Debates em torno da democratização epistêmica e da emergência de uma “era da pós-verdade”. Rev. Sociologias Plurais, 6(2), 102-121.
Bloor, D. (2009 [1976]). Conhecimento e imaginário social. São Paulo: Unesp.
Callon, M., Lascoumes, P., & Barthe, Y. (2001). Agir dans un monde uncertain: essai sur la Démocratie Technique. Paris: Éditions du Seuil [edição em inglês em 2009].
Collins, H., & Evans, R. (2002). The Third Wave of Science Studies: Studies in Expertise and Experience. Social Studies of Science, 32(2), 235-296.
Collins, H., & Evans, R. (2003, jun.). King Canute Meets the Beach Boys: Responses to The Third Wave. Social Studies of Science, 33(3), 435-452.
Collins, H., & Evans, R. (2007). Rethinking Expertise. Chicago/Londres: University of Chicago Press.
Collins, H., Evans, R., & Weinel, M. (2017). STS as Science or Politics? Social Studies of Science, 47(4), 580-586.
Collins, H., Evans, R., Durant, D., & Weinel, M. (2020). Experts and the Will of the People. Society, Populism and Science. Palgrave Macmillan.
Durant, D. (2011). Models of Democracy in Social Studies of Science. Social Studies of Science, 41(5), 691-714.
Eyal, G. (2019). The Crisis of Expertise. Cambridge: Polity Press.
Felt, U., Fouché, R., Miller, C. A., & Smith-Doerr, L. (Eds.). (2016). The Handbook of Science and Technology Studies (4ª ed.). Cambridge: The MIT Press.
Fonseca, P. (2021, out.-dez.). Negacionismo, desinformação e Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia: amostra de um debate emergente. Boletim CTS em Foco, 5, 8-17
Fuller, S. (2007). Science vs Religion? Intelligent Design and the Problem of Evolution. Cambridge: Polity Press.
Fuller, S. (2016a, 15 de dez.). Science Has Always Been a Bit “Post-truth”. The Guardian. Recuperado em 1º de novembro de 2022, de https://www.theguardian.com/science/political-science/ 2016/dec/15/sciencehas-always-been-a-bit-post-truth.
Fuller, S. (2016b). Embrace the Inner Fox: Post-truth as the STS Symmetry Principle Universalized. Social Epistemology Review and Reply Collective. Recuperado em 1º de novembro de 2022, de https://social-epistemology.com/2016/12/25/embrace-the-inner-fox-post-truth-as-the-sts-symmetry-principle-universalized-steve-fuller/.
Fuller, S. (2017a). Is STS All Talk And No Walk? EASST Review, 36(1).
Fuller, S. (2017b). What are You Playing At? On the Use and Abuse of Games in STS. Social Epistemology Review and Reply Collective, 6(9), 39-49. Recuperado em 30 de outubro de 2022, de https://social-epistemology.com/2017/08/21/what-are-you-playing-at-on-the-use-and-abuse-of-games-in-sts-steve-fuller/.
Harambam, J. (2020). The Corona Truth Wars: Where Have All the STS’ers Gone When We Need Them Most? Science & Technology Studies, 33(4), 60-67.
Jasanoff, S. (2003). Breaking the Waves in Science Studies: Comment on H. M. Collins and Robert Evans, “The Third Wave of Science Studies”. Social Studies of Science, 33(3), 389-400.
Jasanoff, S. (Ed.) (2004). States of Knowledge: The Co-Production of Science and Social Order. Londres: Routledge.
Jasanoff, S., & Simmet, H. R. (2017). No Funeral Bells: Public Reason in a “Post-truth” Age. Social Studies of Science, 47(5), 751-770.
Kropf, S. P., Cerqueira, E., Lopes, T. C., & Marcondes, S. (2024). Modulando o tempo pandêmico: a ciência e a urgência da covid-19. Tempo, 30(1).
Kuhn, T. (1962). The Structure of Scientific Revolutions. Chicago: University of Chicago Press.
Latour, B. (1987). Ciência em ação. São Paulo: Editora Unesp.
Latour, B. (2004). Why Has Critique Run Out of Steam? From Matters of Fact to Matters of Concern. Critical Inquiry, 30(2), 225-248.
Latour, B. (2007). Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network-Theory. Nova York: Oxford University Press.
Lynch, M. (2003). Editorial. Social Studies of Science, 33(3), 325.
Lynch, M. (2017). STS, Symmetry and Post-truth. Social Studies of Science, 47(4), 593-599.
Miguel, J. C. (2021, out.-dez.). Pós-verdade ou produção da ignorância? Boletim CTS em Foco, 5, 54-59.
Mitre, M. (2016). As relações entre ciência e política, especialização e democracia: a trajetória de um debate em aberto. Estudos Avançados, 30(87).
Oreskes, N., & Conway, E. M. (2011). Merchants of Doubt: How a Handful of Scientists Obscured the Truth on Issues from Tobacco Smoke to Global Warming. Nova York: Bloomsbury.
Prasad, A. (2022). Anti-science Misinformation and Conspiracies: COVID–19, Post-truth, and Science & Technology Studies (STS). Science, Technology & Society, 27(1), 88-112.
Rip, A. (2003). Constructing Expertise in a Third Wave of Science Studies? Social Studies of Science, 33(3), 419-34.
Shapin, S., & Schaffer, S. (1985). Leviathan and the Air-Pump: Hobbes, Boyle, and the Experimental Life. Princeton: Princeton University Press.
Silva, V. C., & Videira, A. A. P. (2020, dez.) Como as ciências morrem? Os ataques ao conhecimento na era da pós-verdade. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 37(3), 1041-1073.
Sismondo, S. (2017a). Post-truth? Editorial. Social Studies of Science, 47(1), 3-6.
Sismondo, S. (2017b). Casting a Wider Net: a Reply to Collins, Evans and Weinel. Social Studies of Science, 47(4), 587-592.
Vicente, A. M. (2014, jun.) Estudos sociais da ciência e tecnologia e engajamento: novas tendências. Mediações, Revista de Ciências Sociais, 19(1).
Wynne, B. (1996). May the Sheep Safely Graze? A Reflexive View of the Expert-Lay Knowledge Divide. In S. Lash, B. Szerszynski, & B. Wynne (Eds). Risk, Environment and Modernity: Towards a New Ecology (pp. 44-83). Londres: Sage.
Wynne, B. (2003). “Seasick on the Third Wave? Subverting the Hegemony of Propositionalism: Response to Collins & Evans (2002)”. Social Studies of Science, 33(4). 401-417.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Thiago da Costa Lopes, Ede Cerqueira, Simone Petraglia Kropf

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.