Infraestrutura de pesquisa e a dinâmica de hierarquização da ciência

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14201/reb20231021135150

Palavras-chave:

Ciência e tecnologia, hierarquização da ciência, periferização, Agroenergia, arranjos precários

Resumo

Esse artigo é resultado de pesquisa empírica, que buscou discutir processos de hierarquização do conhecimento na pesquisa em Agroenergia no Brasil. O texto parte da ideia de que a Ciência brasileira é descrita por seus cientistas como “periférica”, o que acaba influenciando suas dinâmicas de produção de conhecimento. Argumenta-se que tal autodescrição é generalizada historicamente e que, a despeito dos avanços sistêmicos notados em toda a América Latina – pessoal empregado, impacto do conhecimento e infraestrutura de pesquisa –, ela continua valendo como modo de inserção no sistema internacional de ciência e tecnologia, influenciando processos de hierarquização do conhecimento. No trabalho aqui apresentado, o foco recai sobre a infraestrutura de pesquisa e seu papel no processo de reprodução dessa autodescrição “periférica”. Os resultados apontam para uma simetria material entre laboratórios internacionais e nacionais. Não obstante, indicam também que problemas burocráticos e organizacionais impactam mais aqui que alhures, constituindo o que se chamou “arranjos precários”, que influenciam a dimensão temporal da pesquisa, uma das mais importantes no processo de hierarquização científica.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Fabrício Monteiro Neves, Universidade de Brasília

    Professor associado do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB, Brasil).

Referências

Andrade, T., & Silva, L. (2011). A internacionalização do conhecimento científico e tecnológico e seus efeitos nos Institutos Públicos de Pesquisa. In M. Hayashi, C. Sousa, & D. Rothberg (Orgs). Apropriação social da ciência e da tecnologia: contribuições para uma agenda (pp. 281-316). Campina Grande: EdUEPB.

Bijker, W. E., T. P. Hughes, & T. J. Pinch. (1989). The social construction of Technological Systems: new directions in the Sociology and History of Technology. MIT Press. https://books.google.com.br/books?id=SUCtOwns7TEC.

Bourdieu, P. (1993). The Field of Cultural Production. Nova York: Columbia University Press.

Burgos, M. B. (1999). Ciência na periferia: a luz síncrotron brasileira. Juiz de Fora: EdUFJF.

Calkins, S. (2021). “Between the Lab and the Field: Plants and the Affective Atmospheres of Southern Science”. Science, Technology, & Human Values: 01622439211055118.

Carlotto, M. C. (2013). Veredas da mudança na ciência brasileira: discurso, institucionalização e práticas no cenário contemporâneo. São Paulo: Editora 34.

CT-Infra. (s. d.). Recuperado em 29 de setembro de 2022, de http://www.finep.gov.br/a-finep-externo/fndct/estrutura-orcamentaria/quais-sao-os-fundos-setoriais/ct-infra.

Cunha-Melo, J. R. da. (2015). Indicadores efetivos da internacionalização da ciência. Rev. Col. Bras. Cir., Vol. 42, supl. 1, pp. 20-25. https://doi.org/10.1590/0100-69912015S01007.

De Negri, F., Cavalcante, L. R., & Alves, P. F. (2013). Relações universidade-empresa no brasil: o papel da infraestrutura pública de pesquisa. Texto para discussão / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Brasília: Rio de Janeiro: Ipea.

De Negri, F., Ribeiro, P. V. V. (2012). Infraestrutura de pesquisa no Brasil: resultados do levantamento realizado junto às instituições vinculadas ao MCTI. Radar: tecnologia, produção e comércio exterior (pp. 75-87, nº 24). Brasília: Ipea.

Frenken, K., Hölzl, W., & de Vor, F. (2005). The citation impact of research collaborations: the case of European biotechnology and applied microbiology (1988–2002). Research on Social Networks and the Organization of Research and Development, 22(1), 9-30.

Hanafi, S. (2011). University systems in the Arab East: Publish globally and perish locally vs publish locally and perish globally. Current Sociology, 59(3), 291-309.

Herrera, A. (2015). Ciencia y política en América Latina. Ministerio de Ciencia, Tecnología e Innovación Productiva. Buenos Aires: Biblioteca Nacional.

Jensen, C. B., & Morita, A. (2015). Infrastructures as ontological experiments. Engaging Science, Technology, and Society, nº 1, 81-87.

Keim, W. (2011). Counterhegemonic currents and internationalization of Sociology: Theoretical reflections and an empirical example. International Sociology, 26(1), 123-45.

Lacey, H. (2008). Valores e atividade científica 1. São Paulo: Associação Filosófica ‘Scientiae Studia’/Editora 34.

Lacey, H. (2010). Valores e atividade científica 2. São Paulo: Associação Filosófica ‘Scientiae Studia’/Editora 34.

Lamont, M. (2012). Toward a Comparative Sociology of Valuation and Evaluation. The Annual Review of Sociology.

Latour, B. (1987). Science in action: How to follow scientists and engineers through society. Cambridge: Harvard University Press.

Limoges, C. et al. (1994). The new production of knowledge: The dynamics of science and research in contemporary societies. The New Production of Knowledge, 1-192.

Lin, W.-Y., & Law, J.. (2014). A correlative STS: Lessons from a Chinese medical practice. Social Studies of Science, 44(6), 801-24.

Luhmann, N. (2016). Sistemas sociais. Petrópolis: Vozes.

Mazzucato, M., Penna, C. (2016). The Brazilian Innovation System: A Mission-Oriented Policy Proposal. Avaliação de Programas em CT&I. Apoio ao Programa Nacional de Ciência (Plataformas de conhecimento). Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos.

Merton, R. K. (1979), Os imperativos institucionais da ciência. In J. Dias de Deus (Org.). A crítica da ciência: Sociologia e ideologia da ciência. Rio de Janeiro: Zahar Editores.

Merton, R. K. (1984). Ciencia, tecnología y sociedad en la Inglaterra del siglo XVII. Madri: Alianza Editorial.

Miguel, J. C. H., Mahony, M., & Monteiro, M. S. A. (2019). A ‘geopolítica infraestrutural’ do conhecimento climático: o Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre e a divisão Norte-Sul do conhecimento. Sociologias, nº 21, 44-75.

Neves, F. M. (2020). A periferização da Ciência e os elementos do regime de administração da irrelevância. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 35(104). https://doi.org/10.1590/3510405/2020

Neves, F. M. (2022). Some elements of the regime of management of irrelevance in science. Tapuya: Latin American Science, Technology and Society, 5(1), 2035951.

“Objetivos”. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Recuperado de 27 de setembro de 2022, de https://www.gov.br/cnpq/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/programas/ciencia-sem-fronteiras/apresentacao-1/objetivos.

Pacheco, C. (2020). Auge e Declínio dos Fundos Setoriais: Uma Proposta de Reestruturação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -FNDCT. Texto para Discussão, nº 1522, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Brasília.

Parsons, T. (2005). The social system. Londres: Routledge.

Partha, D., & David, P. A. (1994). Toward a new economics of science. Special Issue in Honor of Nathan Rosenberg, 23(5), 487-521.

Price, D. J. De S. (1963). Little Science, Big Science. Columbia University Press. https://doi.org/10.7312/pric91844.

Santin, D. M., Vanz, S. A. De S., & Stumpf, I. R. C. (2016). Internacionalização da produção científica brasileira: políticas, estratégias e medidas de avaliação. Revista Brasileira de Pós-Graduação, 13(30). DOI: 10.21713/2358-2332.2016.v13.923

Serger, S. S., & Wise, E. (2010). Internationalization of Research and Innovation – new policy developments. Contributed paper for the 2 nd Conference on corporate R&D.

Shapin, S. (1994). A social history of truth: civility and science in seventeenth-century England. Chicago: The University of Chicago Press.

Shapin, S., & Schaffer, S. (2011). Leviathan and the Air-Pump: Hobbes, Boyle, and the Experimental Life. Princeton: Princeton University Press.

Stengers, I. (2018). Another science is possible: A manifesto for slow science. Cambridge: Polity Press.

Toledo Ferreira, M. (2019). Periferia pensada em termos de falta: uma análise do campo da genética humana e médica. Sociologias, 21(50). https://seer.ufrgs.br/index.php/sociologias/article/view/87686.

Ureta, S. (2021). Ruination Science: Producing Knowledge from a Toxic World. Science, Technology, & Human Values, 46(1), 29-52.

Velho, R., & Ureta, S. (2019). Frail modernities: Latin American infrastructures between repair and ruination. Tapuya: Latin American Science, Technology and Society, 2(1): 1-14.

Zarur, G. de C. L. (1994). A arena científica. Campinas/Brasília: Autores associados/ FLACSO.

Zilsel, E. (2000). The Sociological Roots of Science. Social Studies of Science, 30(6), 935-949.

Downloads

Publicado

2023-10-03

Como Citar

Infraestrutura de pesquisa e a dinâmica de hierarquização da ciência. (2023). Revista De Estudios Brasileños, 10(21), 135-150. https://doi.org/10.14201/reb20231021135150