Coinfecção TB-HIV: distribuição espacial e temporal na maior metrópole brasileira
DOI:
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002108Palavras-chave:
Tuberculose, epidemiologia, Infecções por HIV, epidemiologia, Análise Espacial, Estudos de Séries TemporaisResumo
OBJETIVO: Descrever a distribuição espacial e temporal da coinfecção TB-HIV, assim como o perfil das características da população coinfectada no município de São Paulo. MÉTODOS: E studo e cológico e d e s érie t emporal c om d ados d o S istema d e C ontrole d e Pacientes com Tuberculose (TBWeb), incluindo todos os casos novos de tuberculose coinfectados pelo HIV residentes no município no período de 2007 a 2015. Tendências temporais do agravo foram analisadas por regressão de Prais-Winsten. Os casos foram geocodificados pelo endereço de residência para a elaboração de mapas com as taxas de incidência suavizadas pelo método bayesiano empírico local. Os índices de Moran global e local avaliaram a autocorrelação espacial. O perfil dos indivíduos foi descrito e as características dos casos com e sem residência fixa foram comparadas pelos testes de qui-quadrado ou exato de Fisher. RESULTADOS: Foram analisados 6.092 casos novos de coinfecção TB-HIV (5.609 com residência fixa e 483 sem residência fixa). A proporção de coinfecção TB-HIV variou de 10,5% a 13,7%, com queda de 3,0% ao ano (IC95% -3,4 – -2,6), e foi maior nos indivíduos sem residência fixa em todo o período. As taxas de incidência apresentaram diminuição de 3,6% ao ano (IC95% -4,4% – -2,7%), declinando de 7,0 para 5,3 por 100 mil habitantes/ano. A coinfecção apresentou autocorrelação espacial positiva e significativa, com padrão espacial heterogêneo e um aglomerado de alto risco na região central do município. A cura foi alcançada em 55,5% dos casos com residência fixa e em 32,7% daqueles sem residência. CONCLUSÕES: Os dados indicam um importante avanço no controle da coinfecção TB-HIV no período analisado. Todavia, foram identificadas áreas e populações que se apresentaram desigualmente afetadas pelo agravo, e que devem ser priorizadas no aprimoramento das ações de prevenção e controle da coinfecção.
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