Participação social na gestão de tecnologias em saúde em âmbito federal no Brasil

Autores

  • Ana Carolina de Freitas Lopes Universidade de São Paulo
  • Hillegonda Maria Dutilh Novaes Universidade de São Paulo
  • Patricia Coelho de Soárez Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002453

Palavras-chave:

Participação da Comunidade, Participação Social, Participação dos Interessados, Tecnologia Biomédica, Avaliação da Tecnologia Biomédica, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Saúde Suplementar

Resumo

OBJETIVO: Caracterizar e discutir os processos formais de participação social previstos e implementados pelas instituições Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). MÉTODOS: Estudo exploratório, descritivo, comparativo, conduzido por meio de análise de documentos publicados até 2018 no sítio eletrônico e da legislação específica de cada instituição. RESULTADOS: Os espaços de participação social identificados incluem a representação em colegiados e participação direta por meio de uma demanda inicial ou em consultas públicas, audiências públicas e ouvidorias. A Anvisa conduziu 187 consultas públicas entre 1999 e 2018, e contabilizou 10.699 contribuições. Em 76 (41%) consultas públicas não há informações sobre as contribuições recebidas. A Conitec conduziu 234 consultas públicas, e recebeu 53.174 contribuições entre 2011 e 2018. Identificou-se que 70 (23%) recomendações da Conitec foram emitidas sem consulta pública, e 26 (8%) recomendações preliminares foram alteradas após consulta pública. As alterações de recomendação aconteceram especialmente em casos com grande volume de contribuições. A ANS conduziu 8 consultas públicas sobre o rol de procedimentos e eventos em saúde entre 2000 e 2018, e recebeu pelo menos 31.498 contribuições. Em três consultas públicas não há informações sobre o número de contribuições recebidas. CONCLUSÕES: Observa-se recente avanço normativo e de desempenho institucional em favor da participação social em espaços decisórios notadamente técnicos, embora de forma bastante heterogênea entre as instituições analisadas. O poder deliberativo da participação social de influenciar as decisões em saúde ainda necessita de estudo aprofundado, incluindo a caracterização dos participantes e a legitimidade das decisões subsequentes.

Biografia do Autor

  • Ana Carolina de Freitas Lopes, Universidade de São Paulo

    Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. São Paulo, SP, Brasil

  • Hillegonda Maria Dutilh Novaes, Universidade de São Paulo

    Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva. São Paulo, SP, Brasil

  • Patricia Coelho de Soárez, Universidade de São Paulo

    Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva. São Paulo, SP, Brasil

Referências

Osorio J. O Estado no centro da mundialização: a sociedade civil e o tema do poder. São Paulo: Outras Expressões; 2014.

Lechner N. Las transformaciones de la política. Rev Mex Sociol. 1996;58(1):2-16.

Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF; 1988.

Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, DF; 1990.

Brasil. Lei nº 8.142, de 21 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Brasília, DF; 1990.

Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Política Nacional de Gestão Estratégica e Participativa no SUS – ParticipaSUS. 2. ed. Série B. Textos Básicos de Saúde. Brasília, DF: Editora do Ministério da Saúde; 2009.

Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Gestão de Tecnologias em Saúde. Brasília, DF: Editora do Ministério da Saúde; 2011.

Brasil. Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e dá outras providências. Brasília, DF; 1999.

Brasil. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Resolução Normativa nº 439, de 3 de dezembro de 2018. Dispõe sobre processo de atualização periódica do rol de procedimentos e eventos em saúde, no âmbito da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Rio de Janeiro; 2018.

Nascimento ÁC, Paula FA. Controle social e regulação da propaganda de medicamentos. R Eletr Com Inf Inov Saúde. 2010;4(4):62-71.

Barbosa H. Comunicação, transparência e consultas públicas on-line: a importância da participação em políticas de saúde. C&S – São Bernardo do Campo. 2015;37(3):127-52.

Cruz V. Transparência e accountability na regulação da vigilância sanitária no Brasil. Rev Direito Sanitário. 2010;10(3):90-114.

Trettel DB, Leão LN. Teoria e prática da participação na Agência Nacional de Saúde Suplementar. R Dir sanit. 2015;15(3):91-121.

Silva AS, Sousa MSA, Silva EV, Galato D. Participação social no processo de incorporação de tecnologias em saúde no Sistema Único de Saúde. Rev Saúde Publica. 2019;53(109).

Brasil. Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei nº 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Brasília, DF; 2011.

Brasil. Decreto nº 8.243, de 23 de maio de 2014. Institui a Política Nacional de Participação Social – PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS, e dá outras providências. Brasília, DF; 2014.

Mega TP, Lopes ACF, Santos VCC, Petramale CA. Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas no SUS: histórico, desafios e perspectivas. Gestão & Saúde. 2015;6(Supl. 4):3275-85.

Gauvin FP, Abelson J, Giacomini M, Eyles J, Lavis JN. “It all depends”: conceptualizing public involvement in the context of health technology assessment agencies. Soc Sci Med. 2010;70(10):1518-26.

Caetano R, Silva RM, Pedro ÉM, Oliveira IAG, Biz AN, Santana P. Incorporação de novos medicamentos pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS, 2012 a junho de 2016. Cien Saude Colet. 2017;22(8):2513-25.

Yuba TY, Novaes HMD, Soárez PC. Challenges to decision-making processes in the national HTA agency in Brazil: operational procedures, evidence use and recommendations. Heal Res Policy Syst. 2018;16(1):1-9.

Carvalho VKS, Sousa MSA, Barreto JOM, Silva EN. Public engagement in health technology assessment in Brazil: the case of the Trastuzumab public consultation. BMC Health Serv Res. 2019;19(762):1-11.

Weeks L, Polisena J, Scot AM, Holtorf A-P, Staniszewska S. Evaluation of patient and public involvement initiatives in health technology assessment: a survey of international agencies. Int J Technol Assess Heal Care. 2017;33(6):715-23.

Hailey D, Werko S, Bakri R, Cameron A, Gohlen B, Myles S, et al. Involvement of consumers in health technology assessment activities by INAHTA agencies. Int J Technol Assess Health Care. 2013;29(1):79-83.

Gagnon MP, Desmartis M, Lepage-Savary D, Gagnon J, St-Pierre M, Rhainds M, et al. Introducing patients’ and the public’s perspectives to health technology assessment: a systematic review of international experiences. Int J Technol Assess Health Care. 2011;27(1):31-42.

Novaes HMD, Soárez PC. Organizações de avaliação de tecnologias em saúde (ATS): dimensões do arcabouço institucional e político. Cad Saúde Pública. 2016;32(Sup 2):1-14.

Kreis J, Schmidt H. Public participation and deliberation, public engagement in health technology, assessment and coverage decisions: a study of experiences in France, Germany, and the United Kingdom. J Health Polit Policy Law. 2013;38(1):89-122.

Whitty JA. An international survey of the public engagement practices of health technology assessment organizations. Value Heal. 2013;16(1):155-63.

Castro R, Elias FTS. Envolvimento dos usuários de sistemas de saúde na avaliação de tecnologias em saúde (ATS): uma revisão narrativa de estratégias internacionais. Interface Commun Heal Educ. 2018;22(64):97-108.

Lopes E, Street J, Carter D, Merlin T. Involving patients in health technology funding decisions: stakeholder perspectives on processes used in Australia. Heal Expect. 2015;19:331-44.

OHTAC Public Engagement Subcommittee. Public engagement for health technology assessment at Health Quality Ontario: final report from the Ontario Health Technology Advisory Committee. [Internet]. Toronto: Queen’s Printer for Ontario; 2015. [citado 23 out 2020]. Disponível em: http://www.hqontario.ca/evidence/publications-and-ohtac-recommendations/other-reports/special-reports.

Publicado

2020-12-12

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Lopes, A. C. de F., Novaes, H. M. D., & Soárez, P. C. de. (2020). Participação social na gestão de tecnologias em saúde em âmbito federal no Brasil. Revista De Saúde Pública, 54, 136. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002453