Judicialização de medicamentos: efetivação de direitos ou ruptura das políticas públicas?

Autores

  • Yonara Monique da Costa Oliveira Universidade Federal de Campina Grande
  • Bárbara Suellen Fonseca Braga Universidade Federal do Rio Grande do Norte
  • Sylvia Patrícia Dantas Pereira Universidade Federal do Rio Grande do Norte
  • Maria Angela Fernandes Ferreira Universidade Federal do Rio Grande do Norte

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002301

Palavras-chave:

Acesso a Medicamentos Essenciais e Tecnologias em Saúde, Judicialização da Saúde, legislação & jurisprudência, Política Nacional de Assistência Farmacêutica, Direito à Saúde

Resumo

OBJETIVO: Analisar se as demandas judiciais por medicamentos movidas contra o estado do Rio Grande do Norte estão de acordo com critérios médico-sanitários e de gestão da assistência farmacêutica estabelecidos pelas políticas públicas de acesso a medicamentos vigentes no Brasil. MÉTODOS: Foi conduzido um estudo descritivo e retrospectivo das ações judiciais individuais que pleiteavam medicamentos no estado do Rio Grande do Norte entre 2013 e 2017. Foram coletadas informações nos autos processuais sobre os medicamentos solicitados, os diagnósticos referidos e a origem da prescrição médica, a fim de se analisar as características médicosanitárias e de gestão da assistência farmacêutica. RESULTADOS: Foram analisados 987 processos, em que foram solicitados 1.517 medicamentos. Desses, 60,7% não faziam parte do elenco da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais, e em 75% dos casos havia alternativa terapêutica no Sistema Único de Saúde. Em 13,6% das ações, ao menos um medicamento foi prescrito para uso off label. Os prescritores dos serviços filantrópicos e privados solicitam frequentemente medicamentos não contemplados pela política de assistência farmacêutica. Mesmo os medicamentos judicializados que fazem parte da relação nacional são constantemente solicitados para indicações não padronizadas. CONCLUSÕES: As decisões judiciais para o fornecimento de medicamentos violam regras sanitárias e dificultam a gestão da assistência farmacêutica, o que pode enfraquecer a execução dessas políticas.OBJETIVO: Analisar se as demandas judiciais por medicamentos movidas contra o estado do Rio Grande do Norte estão de acordo com critérios médico-sanitários e de gestão da assistência farmacêutica estabelecidos pelas políticas públicas de acesso a medicamentos vigentes no Brasil. MÉTODOS: Foi conduzido um estudo descritivo e retrospectivo das ações judiciais individuais que pleiteavam medicamentos no estado do Rio Grande do Norte entre 2013 e 2017. Foram coletadas informações nos autos processuais sobre os medicamentos solicitados, os diagnósticos referidos e a origem da prescrição médica, a fim de se analisar as características médicosanitárias e de gestão da assistência farmacêutica. RESULTADOS: Foram analisados 987 processos, em que foram solicitados 1.517 medicamentos. Desses, 60,7% não faziam parte do elenco da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais, e em 75% dos casos havia alternativa terapêutica no Sistema Único de Saúde. Em 13,6% das ações, ao menos um medicamento foi prescrito para uso off label. Os prescritores dos serviços filantrópicos e privados solicitam frequentemente medicamentos não contemplados pela política de assistência farmacêutica. Mesmo os medicamentos judicializados que fazem parte da relação nacional são constantemente solicitados para indicações não padronizadas. CONCLUSÕES: As decisões judiciais para o fornecimento de medicamentos violam regras sanitárias e dificultam a gestão da assistência farmacêutica, o que pode enfraquecer a execução dessas políticas.

Biografia do Autor

  • Yonara Monique da Costa Oliveira, Universidade Federal de Campina Grande

    Universidade Federal de Campina Grande. Centro de Educação e Saúde. Curso de Bacharelado em Farmácia. Cuité, PB, Brasil

  • Bárbara Suellen Fonseca Braga, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Natal, RN, Brasil

  • Sylvia Patrícia Dantas Pereira, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Natal, RN, Brasil

  • Maria Angela Fernandes Ferreira, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Odontologia. Natal, RN, Brasil

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Publicado

2020-12-12

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Oliveira, Y. M. da C., Braga, B. S. F., Pereira, S. P. D., & Ferreira, M. A. F. (2020). Judicialização de medicamentos: efetivação de direitos ou ruptura das políticas públicas?. Revista De Saúde Pública, 54, 130. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002301