Fatores associados aos transtornos mentais comuns: estudo baseado em clusters de mulheres

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003124

Palavras-chave:

Mulheres, Transtornos Mentais, epidemiologia, Fatores de Risco, Fatores Socioeconômicos, Análise de Classes Latentes

Resumo

OBJETIVO: Identificar fatores associados aos transtornos mentais comuns (TMC) em uma amostra de mulheres adultas no Sul do Brasil. MÉTODOS: Em estudo de base populacional composto por 1.128 mulheres, foram investigadas variáveis explicativas demográficas, socioeconômicas, comportamentais e de saúde/doença. Cinco grupos-resposta foram explorados: um grupo com transtornos mentais comuns – ponto de corte 6/7 no Self-Reporting Questionnaire 20 (SRQ-20) – e outros quatro correspondentes aos diferentes clusters encontrados através da técnica de clusterização por classe latente, também a partir do SRQ-20. Esses quatro clusters (baixo, médio-depressivo, médio-digestivo e alto) foram denominados com base nas pontuações médias do SRQ-20 em cada grupo e nos padrões de resposta das variáveis e características fatoriais. O cluster “baixo” compreendeu mulheres com menores escores no SRQ-20 e, portanto, com menor probabilidade de apresentarem TMC. Já o cluster “alto”, com valores médios elevados no SRQ-20, esteve relacionado a maior morbidade psiquiátrica. Utilizou-se a técnica de regressão de Poisson, com comparação entre os achados dos diferentes grupos. RESULTADOS: Foram identificadas 10 variáveis como fatores associados aos TMC. Idade, escolaridade, tabagismo, atividade física, percepção de saúde e número de consultas foram as variáveis comuns para as análises com ponto de corte assim como nas baseadas em clusters. Etilismo pesado esteve associado somente quando avaliada a amostra como ponto de corte. Já classe econômica, situação laboral e presença de doenças crônicas estiveram associadas somente quando analisada a amostra por clusters. No cluster “alto”, houve associação significativa com classes econômicas mais baixas (D ou E), tabagismo, inatividade física, presença de doenças crônicas e percepção de saúde negativa. CONCLUSÕES: Diferentes fatores associados foram identificados segundo os grupos-resposta considerados. Novos enfoques que possibilitem identificar subgrupos de indivíduos com características e fatores associados específicos poderiam contribuir para um entendimento mais apurado dos TMC, servindo de base para intervenções em saúde.

Referências

Goldberg DP, Huxley P. Common mental disorders: a bio-social model. New York: Tavistock Books; 1992.

Nunes MA, Pinheiro AP, Bessel M, Brunoni AR, Kemp AH, Benseñor IM, et al. Common mental disorders and sociodemographic characteristics: baseline findings of the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil). Braz J Psychiatry. 2016;38(2):91-7. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2015-1714

Silva M, Loureiro A, Cardoso G. Social determinants of mental health: a review of the evidence. Eur J Psychiatr. 2016;30(4):259-92.

Steel Z, Marnane C, Iranpour C, Chey T, Jackson JW, Patel V, et al. The global prevalence of common mental disorders: a systematic review and meta-analysis 1980-2013. Int J Epidemiol. 2014;43(2):476-93. https://doi.org/10.1093/ije/dyu038

Gonçalves DA, Mari JJ, Bower P, Gask L, Dowrick C, Tófoli LF, et al. Brazilian multicentre study of common mental disorders in primary care: rates and related social and demographic factors. Cad Saude Publica. 2014;30(3):623-32. https://doi.org/10.1590/0102-311x00158412

Coutinho LMS, Matijasevich A, Scazufca M, Menezes PR. Prevalence of common mental disorders and the relationship to the social context: multilevel analysis of the São Paulo Ageing & Health Study (SPAH). Cad Saude Publica. 2014;30(9):1875-83. https://doi.org/10.1590/0102-311X00175313

Ali GC, Ryan G, De Silva MJ. Validated screening tools for common mental disorders in low and middle income countries: a systematic review. PLoS One. 2016;11(6):e0156939. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0156939

Iacoponi E, Mari JJ. Reliability and factor structure of the Portuguese version of Self-Reporting Questionnaire. Int J Soc Psychiatry. 1989;35(3):213-22. https://doi.org/10.1177/002076408903500301

Westhuizen C, Wyatt G, Williams JK, Stein DJ, Sorsdahl K. Validation of the Self Reporting Questionnaire 20-Item (SRQ-20) for use in a low- and middle-income country emergency centre setting. Int J Ment Health Addict. 2016;14(1):37-48. https://doi.org/10.1007/s11469-015-9566-x

Santos KOB, Araújo TM, Pinho PS, Silva ACC. Avaliação de um instrumento de mensuração de morbidade psíquica: estudo de validação do Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20). Rev Baiana Saude Publica. 2010;34(3):544-60. https://doi.org/10.22278/2318-2660.2010.v34.n3.a54

Gonçalves DM, Stein AT, Kapczinski F. Avaliação de desempenho do Self-Reporting Questionnaire como instrumento de rastreamento psiquiátrico: um estudo comparativo com o Structured Clinical Interview for DSM-IV-TR. Cad Saude Publica. 2008;24(2):380-90. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2008000200017

Patel V, Araya R, Lima M, Ludermir A, Todd C. Women, poverty and common mental disorders in four restructuring societies. Soc Sci Med. 1999;49(11):1461-71. https://doi.org/10.1016/s0277-9536(99)00208-7

Moraes RSM, Silva DAS, Oliveira WF, Peres MA. Social inequalities in the prevalence of common mental disorders in adults: a population-based study in Southern Brazil. Rev Bras Epidemiol. 2017;20(1):43-56. https://doi.org/10.1590/1980-5497201700010004

Patel V, Kleinman A. Poverty and common mental disorders in developing countries. Bull World Health Organ. 2003;81(8):609-15.

Soares PSM, Meucci RD. Epidemiologia dos transtornos mentais comuns entre mulheres na zona rural de Rio Grande, RS, Brasil. Cienc Saude Coletiva. 2020;25(8):3087-95. https://doi.org/10.1590/1413-81232020258.31582018

Silva Júnior FJG, Monteiro CFS. Uso de álcool, outras drogas e sofrimento mental no universo feminino. Rev Bras Enferm. 2020;73(1):1-8. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0268

Soldera M, Ribeiro CL. Consumo e dependência de álcool. In: Barros MBA, Cesar CLG, Carandina L, Goldbaum M, organizadores. As dimensões da saúde: inquérito populacional em Campinas. São Paulo: Hucitec; 2008.

Andrade LH, Benseñor IM, Viana MC, Andreoni S, Wang YP. Clustering of psychiatric and somatic illnesses in the general population: multimorbidity and socioeconomic correlates. Braz J Med Biol Res. 2010;43(5):483-91. https://doi.org/10.1590/s0100-879x2010007500024

Soni A, Fahey N, Byatt N, Prabhakaran A, Simas TAM, Vankar J, et al. Association of common mental disorder symptoms with health and healthcare factors among women in rural western India: results of a cross-sectional survey. BMJ Open. 2016;6(7):e010834. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2015-010834

Costa JSD, Menezes AMB, Olinto MTA, Gigante DP, Macedo S, Brito MAP, et al. Prevalência de distúrbios psiquiátricos menores na cidade de Pelotas, RS. Rev Bras Epidemiol. 2002;5(2):163. https://doi.org/10.1590/S1415-790X2002000200004

Senicato C, Azevedo RCS, Barros MBA. Common mental disorders in adult women: identifying the most vulnerable segments. Cienc Saude Coletiva. 2018;23(8):2543-54. https://doi.org/10.1590/1413-81232018238.13652016

Lindström M, Rosvall M. Marital status, social capital, economic stress, and mental health: a population-based study. J Soc Sci. 2012;49(3):339-42. https://doi.org/10.1016/j.soscij.2012.03.004

Matsudo S, Araújo T, Matsudo V, Andrade D, Andrade E, Oliveira LC, et al. Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ): estudo de validade e reprodutibilidade no Brasil. Rev Bras Ativ Fis Saude. 2001;6(2):5-18.

Magidson J, Vermunt JK. Latent class models for clustering: a comparison with K-means. Can J Mark Res. 2002;20(1):36-43.

Vermunt JK, Magidson J. Latent class cluster analysis. In: Hagenaars JA, McCutcheon AL, editors. Applied latent class analysis. Cambridge (UK): Cambridge University Press; 2002, p. 89-106.

Santos EG, Siqueira MM. Prevalência dos transtornos mentais na população adulta brasileira: uma revisão sistemática de 1997 a 2009. J Bras Psiquiatr. 2010;59(3):238-46 https://doi.org/10.1590/S0047-20852010000300011

Scott KM, Bruffaerts R, Tsang A, Ormel J, Alonso J, Angermeyer MC, et al. Depression-anxiety relationships with chronic physical conditions: results from the World Mental Health Surveys. J Affect Disord. 2007;103(1-3):113-20. https://doi.org/10.1016/j.jad.2007.01.015

Bekhuis E, Boschloo L, Rosmalen JG, Schoevers RA. Differential associations of specific depressive and anxiety disorders with somatic symptoms. J Psychosom Res. 2015;78(2):116-22. https://doi.org/10.1016/j.jpsychores.2014.11.007

Bastos JLD, Durquia RP. Um dos delineamentos mais empregados em epidemiologia: estudo transversal. Sci Med. 2007;17(4):229-32.

Zangirolami-Raimundo J, Echeimberg JO, Leone C. Tópicos de metodologia de pesquisa: estudos de corte transversal. J Hum Growth Dev. 2018;28(3):356-60. https://doi.org/10.7322/jhgd.152198

Publicado

2021-11-22

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Grapiglia, C. Z., Costa, J. S. D. da, Pattussi, M. P., Paniz, V. M. V., & Olinto, M. T. A. (2021). Fatores associados aos transtornos mentais comuns: estudo baseado em clusters de mulheres. Revista De Saúde Pública, 55, 77. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003124

Dados de financiamento