Diagnóstico precoce do autismo e outros transtornos do desenvolvimento, Brasil, 2013–2019
DOI:
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057004710Palavras-chave:
Transtorno do Espectro Autista, Epidemiologia, Transtornos Globais do Desenvolvimento Infantil, Diagnóstico Precoce, Epidemiologia Analítica, Sistemas de Apoio Psicossocial, Sistema Único de SaúdeResumo
OBJETIVO: Investigar os fatores associados ao diagnóstico precoce do autismo e de outros tipos de transtorno global do desenvolvimento (TGD) de crianças atendidas no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil do Sistema Único de Saúde, no período de 2013 a 2019, no Brasil. MÉTODOS: Estudo transversal exploratório, com base nos dados do Registro das Ações Ambulatoriais de Saúde (RAAS) do primeiro atendimento de crianças de 1 a 12 anos. Foram estimados o risco relativo bruto (RRb) e ajustado (RRa), e respectivo intervalo de confiança de 95% (IC95%), utilizando o modelo de regressão de Poisson com estimativa de variância robusta. RESULTADOS: Das 22.483 crianças incluídas no estudo, a maioria era do sexo masculino (81,9%), residia no mesmo município em que foi diagnosticada (96,8%) e na região Sudeste (57,7%). O diagnóstico precoce foi maior para autismo infantil (RRb = 1,48; IC95% 1,27–1,71), TGD sem designação de subtipo (RRb = 1,55; IC95% 1,34–1,80), outros TGD (RRb = 1,48; IC95% 1,21–1,81) e TGD não especificado (RRb = 1,44; IC95% 1,22–1,69) do que para autismo atípico. As crianças que residiam no mesmo município onde foi realizado o diagnóstico tiveram maior índice de diagnóstico precoce (RRb = 1,31; IC95% 1,10–1,55) do que as demais; bem como aquelas encaminhadas pela atenção básica (RRb = 1,51; IC95% 1,37–1,68) e por demanda espontânea (RRb = 1,45; IC95% 1,31–1,61) do que as oriundas de outros tipos de encaminhamento. O diagnóstico precoce foi maior a partir de 2014 e menor na região Norte quando comparada às demais. Na análise múltipla, a magnitude do RRa foi similar ao do RRb. CONCLUSÕES: A identificação precoce de autismo e outros TGD tem melhorado no país, mas ainda representa cerca de 30% dos diagnósticos realizados. As variáveis incluídas no modelo foram significativas, mas ainda explicam pouco do diagnóstico precoce de crianças com autismo e outros TGD.
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