Estratégias de comunicação mercadológica em rótulos de alimentos consumidos por crianças
DOI:
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057004614Palavras-chave:
Saúde da Criança, Rotulagem de Alimentos, Publicidade de Alimentos, Nutrição da CriançaResumo
OBJETIVO: Analisar estratégias de comunicação mercadológica (ECM) presentes em rótulos de produtos efetivamente consumidos por crianças menores de 5 anos usuárias do Sistema Único de Saúde na cidade do Rio de Janeiro. MÉTODOS: Foram analisados 390 rótulos de alimentos ultraprocessados e papas infantis industrializadas. Os produtos foram organizados por similaridade em 24 grupos. Realizou-se a análise das fotografias dos rótulos de cada grupo para a identificação das ECM, que foram categorizadas em: “presença de personagens e/ou celebridades”, “apelo emocional”, “oferta de brindes”, “apelo à saúde”, “estímulos aos sentidos”, “uso da marca ou slogan”, “preço promocional”, “propaganda sob propaganda” e “apelo à sustentabilidade”. Foram computadas: frequência percentual de rótulos segundo número de ECM por rótulo; frequência total e média de ECM segundo grupo de alimentos; frequência do tipo de ECM segundo grupo de alimentos; e recursos comunicacionais por tipo de ECM. RESULTADOS: Constataram-se de uma a 19 estratégias por rótulo e média de 7,2 ECM por rótulo, totalizando 2.792 ocorrências. As ECM “estímulo aos sentidos”, “apelo à saúde”, “uso da marca ou slogan” e “propaganda sob propaganda” foram observadas em todos os grupos de alimentos. Já “oferta de brindes” e “preço promocional” apareceram em oito e seis grupos de alimentos, respectivamente. Nos grupos pães, lácteos e doces, balas e guloseimas, foram identificados os nove tipos de ECM incluídos no estudo. Os grupos que apresentaram menos tipos de ECM (n = 5) foram: amendoins, macarrões instantâneos e margarinas. Do total de ECM identificadas nos rótulos, as mais recorrentes foram “estímulo aos sentidos” (29,4%) e “apelo à saúde” (18,2%); e as menos frequentes foram “oferta de brindes” (0,8%) e “preço promocional” (0,4%). A ECM “apelo emocional” apresentou a maior diversidade de recursos comunicacionais. CONCLUSÃO: São necessárias medidas regulatórias rigorosas que protejam o consumidor da massiva exposição às ECM em rótulos de alimentos.
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