“Defendendo a paz social”: entre a naturalização e o racismo em decisões de decretação de prisão preventiva.
DOI:
https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2024.223308Palabras clave:
Ordem pública, Prisão preventiva, RacismoResumen
Este trabalho foi realizado com o objetivo de analisar os argumentos mobilizados por juízes para justificar a decretação de prisão preventiva, além de observar a existência de relação entre esses argumentos e os fatores de classe e raça. Utilizamos como metodologia a análise documental de decisões interlocutórias que convertem prisões em flagrante em prisões preventivas, referentes a imputações de roubos e furtos ocorridos entre os anos 2015 e 2018 na região metropolitana de Salvador. Foram analisadas 322 decisões interlocutórias de decretação de prisão preventiva, retiradas do arquivo de prontuários do Presídio de Salvador/BA, unidade destinada a presos provisórios. Ao final da pesquisa pode-se concluir que, entre as justificativas vigentes no artigo 312 do Código de Processo Penal, 100% das decisões analisadas se baseavam na categoria de garantia da ordem pública, entendida como harmonia social ofendida pela periculosidade do preso. Essa periculosidade é expressa pelos conceitos de contumácia criminal e modus operandi. Também se chegou à conclusão de que esses argumentos reproduzem estereótipos de classe e raça, tendo em vista que utilizam mecanismos de naturalização do grupo mais atingido pela malha do sistema de justiça penal (jovens negros), retirando-os do gozo da cidadania e proteção de direitos fundamentais.
Descargas
Referencias
Adorno, Sergio. (1994), “Crime, justiça penal e desigualdade jurídica: as mortes que se contam no Tribunal do Júri”. USP: Dossiê Judiciário, São Paulo, pp. 132-151.
Alexander, Michelle. (2017), A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. São Paulo, Boitempo.
Alvarez, Marcos Cesar. (1996), Bacharéis, criminologistas e juristas: saber jurídico e nova escola penal no Brasil (1889-1930). São Paulo, tese de doutorado, Departamento de Sociologia, Universidade de São Paulo.
Banton, Michael. (2010), A ideia de raça. São Paulo, Edições 70.
Baratta, Alessandro. (2011), Criminologia crítica e crítica do Direito Penal: introdução à sociologia do direito penal. Rio de Janeiro, Revan.
Batista, Vera Malaguiti. (2003), Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Revan.
Brasil. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Sistema integrado de informações penitenciárias – Infopen. (2019), Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias Atualização. Disponível em http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen, consultado em 09/2022.
Cerneka, Heidi Ann et al. (2012), Tecer justiça: presas e presos provisórios na cidade de São Paulo. São Paulo, ITTC.
Comissão Interamericana de Direitos Humanos – CIDH. (2013), Relatório sobre o uso da prisão preventiva nas Américas: introdução e recomendações. Disponível em relatorio-pp-2013-pt.pdf (oas.org).
Defensoria Pública do Estado da Bahia. (2019), Relatório das audiências de custódias na comarca de Salvador/BA: anos de 2015-2018. Defensoria Pública do Estado da Bahia. Salvador, Esdep.
Fernandes, Florestan. (2005), A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo, Ática.
Freitas, Felipe da Silva. (2016), “Novas perguntas para criminologia brasileira: poder, racismo e direito no centro da roda”. Cadernos do Ceas, Salvador, 238: 488-499.
Gonzalez, Lélia. (2020), Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios intervenções e diálogos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar.
Guimarães, Antônio Sérgio Alfredo. (2021), Modernidades negras: a formação racial brasileira (1930-1970). São Paulo, Editora 34.
Guimarães, Antônio Sérgio Alfredo. (2009), Racismo e antirracismo no Brasil. São Paulo, Editora 34.
Guimarães, Antônio Sérgio Alfredo. (2016). “Formações nacionais de classe e raça”. Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, São Paulo, 28 (2): 161-182. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2016.109752.
Heard, Catherine & Fair, Helen. (2019), Pre-trial detention and its over-use: evidence from ten countries. Birkbeck, University of London. Disponível em pre-trial_detention_final. pdf (prisonstudies.org).
Jesus, Maria Gorete Marques de. (2016), O que está no mundo não está nos autos: a construção da verdade jurídica nos processos criminais de tráfico de drogas. São Paulo, tese de doutorado em Sociologia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Lajes, Lívia Bastos & Ribeiro, Ludmila. (2019), “Os determinantes da prisão preventiva na Audiência de Custódia: reforço de estereótipos sociais?”. Revista Direito FGV, São Paulo, 15 (3): e1933. Disponível em https://www.scielo.br/j/rdgv/a/P9RFdXM8RgtrBSK59hcS6LM/.
Lemgruber, Julita & Fernandes, Marcia. (2015), “Tráfico de drogas na cidade do Rio de Janeiro: prisão provisória e direito de defesa”. Boletim Segurança e Cidadania, 17: 1-50.
Lima, Renato Sérgio. (2004), “Atributos raciais no funcionamento do sistema de justiça criminal paulista”. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, 18 (1): 60-65. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/spp/v18n1/22227.pdf, consultado em 09/2020.
Lourenço, L. C. (coord.) et al. (2019), Dispositivo punitivo e prisão: um estudo dos prontuários de uma unidade destinada a presos provisórios, Salvador/BA (2017-2018). Salvador/BA, Lassos. [Relatório de pesquisa]. Disponível em http://www.lassos.ffch.ufba.br/wp-content/uploads/relatório-2019-dispositivo-punitivo-em-ação-relatório-de-pesquisa-dez-1.pdf, consultado em 06/06/2020.
Misse, M. (2008), “Sobre a construção social do crime no Brasil”. In: Esboços de uma interpretação. Acusados e acusadores: estudos sobre ofensas, acusações e incriminações. Rio de Janeiro, Revan.
Santos, Rogério Dultra dos. (2015), Excesso de prisão provisória no Brasil: um estudo empírico sobre a duração da prisão nos crimes de furto, roubo e tráfico (Bahia e Santa Catarina, 2008-2012). Brasília, Ipea, Ministério da Justiça.
Sinhoretto, Jacqueline; Silvestre, Giane & Schlittler, Maria Carolina. (2014), Desigualdade racial e segurança pública em São Paulo: letalidade policial e prisões em flagrante. Sumário executivo. São Paulo, Universidade Federal de São Carlos — Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos. Disponível em http://www.ufscar.br/gevac/#sthash.KiXLiLc4.dpuf, consultado em 11/2020.
Vargas, Joana Domingues. (1999), “Indivíduos sob suspeita: a cor dos acusados de estupro no fluxo do Sistema de Justiça Criminal”. Dados, Rio de Janeiro, 42 (4) . Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0011-52581999000400004, consultado em 09/2020.
Vinuto, Juliana. (2022), “Contribuições de Lélia Gonzalez aos estudos sociológicos sobre controle social e punição do Brasil”. Civitas: Revista de Ciências Sociais/ puc/rs, 22: e40428. Disponível em https://doi.org/10.15448/1984-7289.2022.1.40428, consultado em 05/2024.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2024 Luiz Henrique Gamboa Marques, Luiz Cláudio Lourenço
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial 4.0.