Da cor à imagem urbana: paradigmas contemporâneos nas cores do patrimônio cultural brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.1590/1982-02672021v29e55Palavras-chave:
Intervenções cromáticas, Cor, Imagem urbana, Patrimônio cultural, ParadigmasResumo
A segunda metade do século XX foi marcada pela revisão e crítica à ideologia do movimento moderno e por novas abordagens dos conceitos de cultura e de história, cujas reverberações estenderam-se aos bens culturais. O objeto do patrimônio começou a abranger novas temporalidades e naturezas de valor patrimonial e passou a ser aplicado a tipologias materiais e imateriais, momento em que produz uma mercadoria e um objeto de consumo. Inseridas nesse contexto, as cores das superfícies arquitetônicas refletem as práticas de preservação e os princípios gerais que norteiam as intervenções. Nesse cenário, este artigo enfatiza as narrativas imagéticas e identifica a recorrência de atitudes estruturantes na base das intervenções cromáticas em bens culturais edificados. Identificadas como paradigmas, fundamentam-se no culto ao valor de novidade, em tendências cromáticas como o uso do amarelo na arquitetura historicista e no turismo cultural. O artigo analisa a existência de tais paradigmas a partir de intervenções cromáticas realizadas em bens culturais edificados no Brasil. O referencial teórico aborda o conceito de imagem urbana e é fundamentado nas reflexões de Jean Baudrillard, Guy Debord, Pierre Jeudy, no restauro crítico de Cesare Brandi e na interpretação cultural contemporânea de Flávio Carsalade. Os resultados demonstram que apesar do discurso teórico consolidado que preconiza a análise caso a caso, na prática as decisões projetuais cromáticas não refletem as tendências atuais da teoria da restauração e revelam que a questão da cor no patrimônio cultural não foi superada e deve ser discutida em toda sua complexidade histórica, teórica e fenomenológica.
Downloads
Referências
AGUIAR, José. Cor e cidade histórica: estudos cromáticos e conservação do patrimônio. Lisboa: Faup Publicações, 2002.
BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio d’Água, 1991.
BEZERRA, Ana Luísa Furquim; NAPPI, Sérgio Castelo Branco. Identificação das cores de fachadas de edificações históricas. Museologia e Patrimônio, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 69-86, 2012.
BRANDI, Cesare. Il restauro: teoria e pratica. Roma: Riuniti, 2009.
BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. Cotia: Ateliê, 2008.
CARBONARA, Giovanni. Avvicinamento al restauro: teoria, storia, monumenti. Napoli: Liguori, 1997.
CARBONARA, Giovanni. Brandi e a restauração arquitetônica hoje. Desígnio, São Paulo, n. 6, p. 3547, 2006.
CARBONARA, Giovanni. Il tema del colore in architettura con una riflessione sul caso del
Quartiere Coppedé in Roma. Recupero e Conservazione Magazine, Arona, v. 158, p. 10-19, 2020.
CARBONARA, Giovanni. Trattato di restauro architettonico. Torino: Utet, 2004. v. 1.
CARSALADE, Flavio de Lemos. A pedra e o tempo: arquitetura como patrimônio cultural. Belo Horizonte: UFMG, 2014.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1998.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade, 2001.
COLQUHOUN, Alan. Modernidade e tradição clássica: ensaios sobre arquitetura. São Paulo:
Cosac & Naify, 2004.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2007.
JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das cidades. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005.
KÜHL, Beatriz Mugayar. História e ética na conservação e na restauração de monumentos
históricos. Revista do IEEE América Latina, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 1-11, 2005.
KÜHL, Beatriz Mugayar. O tratamento das superfícies arquitetônicas como problema teórico
da restauração. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 12, p. 309-330, 2004.
KUHN, Thomas Samuel. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1998.
LANCASTER, Michael. Colourscape. Londres: Academy, 1996.
LENCLOS, Jean-Philippe; LENCLOS, Dominique. Colors of the World. The Geography of Color.
London: W. W. Norton & Company, 2004.
LIRA, Flaviana Barreto. Patrimônio cultural e autenticidade: montagem de um sistema de
indicadores para o monitoramento. 2009. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Urbano) –
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2009.
LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
MACHADO, Erika Pereira. A cobertura do Theatro Municipal do Rio de Janeiro: restauração
ou reconstrução? 2012. Dissertação (Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural) –
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, 2012.
MAGAR MEURS, Valerie; SCHNEIDER GLANDZ, Renata (orgs.). Construir teoría. Ciudad de
México: Instituto Nacional de Antropología e Historia, 2018.
MONTANER, Josep Maria. Depois do movimento moderno: Arquitetura da segunda metade do
século XX. Barcelona: Editora Gustavo Gili, 2011.
MONTANER, Josep Maria; MUXÍ, Zaida. Arquitetura e Política. Barcelona: Gustavo Gili, 2014.
NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para arquitetura: antologia teórica (1965-1995). São
Paulo: Cosac Naify, 2008.
PHILIPPOT, P. La notion de patine et le nettoyage des peintures. Bulletin de l’Institut Royale
du Patrimoine Historique, Bruxelles, v. 9, p. 138-143, 1966.
RIEGL, Aloïs. O culto moderno dos monumentos: a sua essência e a sua origem. Goiânia:
Editora da UCG, 2006.
ROCHA-PEIXOTO, Gustavo. A estratégia da aranha: ou: da possibilidade de um ensino
metahistórico em arquitetura. Rio de Janeiro: Riobooks, 2013.
ROSADA, Mateus; BORTOLUCCI, Maria Angela Pereira. Os dilemas do restauro da pintura
eclética nas igrejas barrocas paulistas. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE REABILITAÇÃO
DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO E EDIFICADO, 12., 2014, Bauru. Anais […]. Bauru: Faac,
p. 365-373.
SANT’ANNA, Marcia. A cidade-atração: a norma de preservação de áreas centrais no Brasil
dos anos 1990. Salvador: Edufba, 2017.
TIRELLO, Regina. Restaurar não é pintar os edifícios de amarelo. Questões sobre técnicas
construtivas tradicionais. In: FONTES, Maria Solange Gurgel de Castro; CONSTANTINO, Norma
Regina Truppel; BITTENCOURT, Luiz Cláudio (orgs.). Arquitetura e urbanismo: novos desafios
para o século XXI. Bauru: Editora Unesp, 2009. p. 21-35.
VITIELLO, Maria. Identità cromatica e paesaggio. In: ROSSI, Maurizio; SINISCALCO, Andrea
(orgs.). Colore e colorimetria: contributi multidisciplinari. Santarcangelo di Romagna: Maggioli, 2012. v. VIII/A, p. 215-221.
VITIELLO, Maria. Il testo e il contesto: per una scrittura narrativa della facies urbana attraverso
le superfici e le cromie. In: ROSSI, Maurizio (org.). Colore e colorimetria: contributi multidisciplinari. Santarcangelo di Romagna: Maggioli, 2011. v. VII/A, p. 604-610.
YAÑES, Celia Martinez. Carta Internacional de Turismo Cultural do Icomos de 1999: primeira
aproximação para sua revisão e atualização. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, DF, n. 39, p. 71-90, 2019.
ZONNO, Fabiola do Valle. Lugares complexos: poéticas da complexidade: entre arquitetura,
arte e paisagem. Rio de Janeiro: FGV, 2014.
SITE
DALLA NEGRA, Ricardo. Forma formante: il progetto di restauro come processo critico.
Architetti, [S. l.], 21 abr. 2015. Disponível em: <https://bit.ly/3zrQkmK>. Acesso em: 16 nov. 2020.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Luciana da Silva Florenzano, Rosina Martins Trevisan Ribeiro

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
Dados de financiamento
-
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Números do Financiamento 001