A reescrita dos mitos bíblicos em José Saramago: a re-historização do sagrado a partir da ficção
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v10i20p71-96Palavras-chave:
Releitura, Metaficção historiográfica, dialogismo, dessacralizaçãoResumo
Uma das temáticas predominantes na obra de José Saramago é a releitura e a intertextualidade com a história e com os mitos fundadores do ideário ocidental. Essa prática se constrói a partir de uma desconstrução dos textos com os quais as obras dialogam, por meio do uso da paródia, da metaficção historiográfica e da alegoria. Nesses textos, Saramago, ao mesmo tempo em que questiona crenças inabaláveis, apresenta-nos a desmistificação da História oficial, oportunizando, assim, o emanar das histórias silenciadas, a partir daquilo que poderia ter sido. O presente artigo pretende analisar o processo de releitura que o autor realiza na obra O Evangelho segundo Jesus Cristo (2005), ao utilizar como fonte as ruínas históricas deixadas pela leitura dogmática do Novo Testamento do Judaísmo Cristão. Para tanto, faremos uso da teoria moderna da alegoria desenvolvida por Walter Benjamin, com amparo nos preceitos da Literatura Comparada, a partir do dialogismo bakhtiniano que o texto de Saramago constrói, não só com as versões canônicas dos textos bíblicos, mas também com os escritos apócrifos, também utilizando dados da história e da cultura moderna.
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