Violência, afetos e luta por reconhecimento na criminalidade pauperizada

Autores

  • Artur Pires Universidade Federal do Ceará

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2023.212282

Palavras-chave:

Violência, Afetos, Luta por reconhecimento, Complexos, Revolta

Resumo

O artigo analisa em uma perspectiva compreensiva como as afetividades dos agentes criminais pauperizados – apreendendo dentro desta abordagem aspectos psicoemocionais – se relacionam com suas maneiras de operar as atividades ilegais e com sua luta por reconhecimento. O objetivo central deste trabalho é debater como a opressão estrutural da semiologia dominante provoca, de diferentes formas, afetividades desequilibradas nas pessoas envolvidas com as relações criminais. A pesquisa que deu origem a este trabalho vem sendo desenvolvida desde 2013 nas periferias de Fortaleza, de forma sistemática desde 2016, principalmente em um conjunto de favelas de aproximadamente 30 mil habitantes na região sudeste da capital cearense. Para coleta dos dados empíricos, os métodos utilizados foram conversas espontâneas no campo, entrevistas semiestruturadas, observação direta e diário de campo. Para obtenção dos dados teóricos, os métodos foram leitura, fichamento e sistematização de conceitos. Conclui-se que, diante das opressões estruturais, os agentes criminais pauperizados enfrentam um processo contínuo e recorrente de desgaste emocional, devido principalmente aos riscos de suas atividades. E é a partir de suas práticas violentas que empreendem uma luta por reconhecimento para compensar uma subjetividade marginalizada e oprimida.     

 

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Publicado

2023-09-05

Edição

Seção

Dossiê Afetividades Marginais, Grupos Armados e Mercados Ilegais

Como Citar

Pires, A. (2023). Violência, afetos e luta por reconhecimento na criminalidade pauperizada. Plural, 30(02), 108-126. https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2023.212282