A invenção da infância
Mudança geracional na comunidade de Feira Nova (Orobó – PE) a partir do Programa Bolsa Família
DOI:
https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2018.148951Palavras-chave:
Crianças, Infância, mudança geracional, Programa Bolsa Família, trabalho infantilResumo
Na comunidade de Feira Nova, um pequeno povoado rural, pertencente à cidade de Orobó, no Agreste pernambucano, Nordeste do Brasil, há um ideal de infância que se encontra relacionado ao não trabalho, à escolarização e à ludicidade. Contudo, essa compreensão de infância não foi vivenciada pelas gerações de avós e mães das crianças da geração contemporânea. Essa negação está, sobretudo, assentada na necessidade que lhes foi imposta pelo trabalho precoce e pela ausência total ou parcial de escolarização. Diferente das predecessoras, a geração atual de crianças encontra-se determinantemente marcada pela escolarização e largamente ausente do trabalho infantil, o que vem configurando uma importante mudança na forma em que a infância é vivenciada nesse contexto. O presente texto refletirá sobre essas mudanças que reverberam em uma maior atenção para as crianças no meio rural e surgem a partir de um processo de institucionalização da infância. Esse processo ganha força a partir da implementação e efetivação de programas sociais de transferência condicionada de renda, a exemplo do Programa Bolsa Família, que nesse contexto vem mudando, entre outras coisas, o lugar de socialização das crianças rurais e as marcas geracionais da infância.
Downloads
Referências
ABRAMOWICZ, Anete. 2011. A pesquisa com crianças em infâncias e a sociologia da infância. In FARIA, Ana Lúcia Goulart de e FINCO, Daniela (orgs.). Sociologia da infância no Brasil. Campinas, Autores Associados.
ARIÈS, Philippe. 1981. História social da criança e da família. Trad. D.
Flakasman. 2ª ed. Rio de Janeiro, LTC Editora.
AZEVEDO, José Sérgio Gabrielli. de; MENEZES, Wilson Ferreira.; e FERNANDES, Cláudia Monteiro. 2000. Fora de lugar. Crianças e adolescentes no mercado de trabalho. São Paulo, Abet.
BRANDÃO, Carlos R. 1986. “A criança que cria: conhecer o seu mundo”. In A educação como cultura. 2ª ed. São Paulo, Brasiliense.
BRANDÃO, Carlos R. 1990. O trabalho de saber: cultura camponesa e escola rural. São Paulo, FTD.
CANDIDO, Antonio. 1971. Os parceiros do Rio Bonito. São Paulo, Duas Cidades.
CARNEIRO, Maria. José (org.). 2012. Modos de viver e pensar o rural na sociedade brasileira. Rio de Janeiro, Mauad.
CARVALHO, Inaiá Maria M. de. 2004. “Algumas lições do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil”. São Paulo em Perspectiva, 18(4): 50-61.
CIPOLA, Ari. 2001. O trabalho infantil. São Paulo, Publifolha.
COHN, Clarice. 2005. Antropologia da criança. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.
DAMASCENO, Maria Nobre e BEZERRA, Bernadete. 2004. “Estudos sobre educação rural no Brasil: estado da arte e perspectiva”. Educação e Pesquisa, 30 (1):73-89.
DEBERT, Guita Guin. 1994. “Pressupostos da reflexão antropológica sobre a velhice”. In: ______ (org.). Antropologia e velhice (Textos Didáticos, 13). Campinas, IFCH/Unicamp, pp. 7-30.
GARCIA JR., Afrânio Raul. 1989. O sul: caminho do roçado: estratégias de reprodução camponesa e transformação social. São Paulo, Marco Zero.
GOMES, Ana Maria Rabelo. 2008. “Outras crianças, outras infâncias?” In: SARMENTO, Manuel e GOUVEA, Maria Cristina Soares de (orgs.). Estudos da infância: educação e práticas sociais. Petrópolis, Vozes.
HEREDIA, Beatriz Maria Alásia de. 2013. A morada da vida: trabalho familiar entre pequenos produtores do Nordeste do Brasil . Rio de Janeiro, Centro Edelstein de Pesquisas Sociais. Biblioteca Virtual de Ciências Humanas.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2010. IBGE Cidades.
JAMES, Allison. 2007. “Giving Voice to Children’s Voices: Practices and Problems, Pitfalls and Potentials”. American Anthropologist, 109 (2).
JAMES, Allison e PROUT, Alan. 1997. Constructing and Reconstructing Childhood: Contemporary Issues in the Sociological Study of Childhood. Basingstoke, Falmer Press.
KASSOUF, Ana Lúcia. 2007. “O que conhecemos sobre o trabalho infantil?”. Nova economia, v. 17, n. 2.
KRAMER, Sônia. 1996. Infância: fios e desafios da pesquisa. Campinas, Papirus.
LIBÓRIO, Renata M. C. e UNGAR, Michael. 2010. “Children’s Perspectives on Their Economic Activity as a Pathway to Resilience”. Children & Society, 24 (4): 326-338.
MARIN, Joel Orlando Bevilaqua. 2008. “Infância camponesa: processos de socialização”. In NEVES, Delma P e SILVA, Maria Aparecida de M. (orgs.). Processos de reconstituição e reprodução do campesinato no Brasil. Formas tuteladas de condição camponesa. Vol I. São Paulo, Ed. Unesp.
MAYALL, Berry. 2005. “Conversas com crianças. Trabalhando problemas geracionais”. In CHRISTENSEN, Pia e JAMES, Allison (orgs.). Investigação com crianças: perspectivas e práticas. Porto, Edições Escola Superior de Educação Paula Frassinetti.
MAYBLIN, Maya. 2010. Gender, Catholicism and Morality in Brazil. Virtuous Husbands, Powerful Wives. Nova York, Palgrave / Macmillan.
MELLO, João Manuel Cardoso de e NOVAIS, Fernando. 1998. “Capitalismo tardio e sociabilidade moderna”. In SCHWARCZ, Lilia Moritz (org.). História da vida privada no Brasil. Vol. 4. Contrastes da intimidade contemporânea. São Paulo, Companhia das Letras, pp. 559-658.
NEVES, Delma. P. 1981. Lavradores e pequenos produtores de cana: Estudo das formas de subordinação dos pequenos produtores agrícolas ao capital. Rio de Janeiro, Zahar.
NEVES, Delma. P. 1999. A perversão do trabalho infantil: lógicas sociais e alternativas de prevenção. Niterói, Intertexto.
PAULO, Maria de Assunção Lima de. 2011. Juventude rural: suas construções identitárias. Recife, Ed. Universitária da UFPE.
PIRES, Flávia F. 2007a. Quem tem medo de mal-assombro? Religião e infância no semiárido Nordestino. Rio de Janeiro, tese de doutorado, UFRJ/Museu Nacional.
PIRES, Flávia F. 2007b. “Ser adulta e pesquisar crianças: explorando
possibilidades metodológicas na pesquisa antropológica”. Revista de Antropologia, 50 (1): 225-270.
PIRES, Flávia F. 2012. “Crescendo em Catingueira: criança, família e organização social no semiárido nordestino”. Mana, (18): 539-561.
PIRES, Flávia F. 2014. “Child as Family Sponsor: An Unforeseen Effect of Programa Bolsa Familia in Northeastern Brazil”. Childhood , (21): 134-147.
PIRES, Flávia F. e REGO, Walquiria Leão. 2013. “10 Anos de Programa Bolsa Família: apresentação do dossiê”. Política & Trabalho, (38): 13-19.
PIRES, Flávia F. e SILVA JARDIM, George Ardilles da. 2014. “Geração Bolsa Família: educação, trabalho infantil e consumo na casa sertaneja (Catingueira/PB)”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, (29): 99-112.
PIRES, Flávia; SANTOS, Patrícia Oliveira S. dos; e SILVA, Jéssica K. Rodrigues da 2010. “Elas decidem? Analisando o papel familiar da mulher a partir do Programa Bolsa Família”. CAOS. Revista Eletrônica de Ciências Sociais, v. 16: 108-119.
RIZZINI, Irma. 2010. “Pequenos trabalhadores do Brasil”. In: DEL PRIORE, Mary (org.). História das crianças no Brasil. São Paulo, Contexto, pp. 376-406.
SÁNCHEZ, Martha Areli Ramírez. 2007. “‘Helping at Home’: The Concept of Childhood and Work among the Nahuas of Tlaxcala, Mexico”. In HUNGERLAND, Beatrice; LIEBEL, Manfred; MILNE, Brian; e WIHSTUTZ, Anne (orgs.). Working to be Someone – Child Focused Research and Practice with Working Children. Londres e Philadelphia, Jessica Kingsley Publishers, pp. 87-95.
SANTOS, Patrícia Oliveira S. dos. 2011. “Deixa eu falar!”: uma análise antropológica do Programa Bolsa Família a partir das crianças beneficiadas do Alto Sertão Paraibano. João Pessoa, trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal da Paraíba.
SANTOS, Patrícia Oliveira S. dos. 2014. A invenção da infância: o Programa Bolsa Família e as crianças da comunidade de Feira Nova (Orobó) no Agreste pernambucano. João Pessoa, dissertação de mestrado, Universidade Federal da Paraíba.
SANTOS, Patrícia Oliveira S. dos e PIRES, Flávia Ferreira. 2011. “Conversando com crianças sobre o Programa Bolsa Família: uma análise antropológica no semi-árido”. Trabalho apresentado no XXVII Congresso Internacional Associação Latino Americana de Sociologia, 6 a 11 de Setembro, Recife, UFPE.
SARMENTO, Manuel Jacinto. 2005. “Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância”. Educação & Sociedade, Campinas, 26 (91): 361-378.
SILVA, Ana Paula S. da; PASUCH, Jacqueline; e SILVA, Juliana Bezzon. 2012. Educação infantil no campo. São Paulo, Cortez.
SOUSA, Emilene Leite de. 2004a. “Que trabalhais como se brincásseis”: trabalho e ludicidade na infância Capuxu. Campina Grande, dissertação de mestrado, Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba.
SOUSA, Emilene Leite de. 2004b. “Relativizando o trabalho infantil a partir de uma experiência etnográfica: o caso das crianças Capuxu”. Caderno Pós Ciências Sociais, 1 (2): 75-94.
SOUSA, Emilene Leite de. 2014. Umbigos enterrados: corpo, pessoa e identidade Capuxu através da infância. Florianópolis, tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina.
SOUSA, Emilene Leite de. 2015. “As crianças e a etnografia: criatividade e imaginação na pesquisa de campo com crianças”. Iluminuras, Porto Alegre, v. 16, n. 38: 140-164.
STROPASOLAS, Valmir. 2012. “Trabalho infantil no campo: do problema social ao objeto sociológico”. Revista Latino-americana de Estudos do Trabalho, ano 17, n. 27: 249-286.
SUÁREZ Mireya et al. 2006. “O Programa Bolsa Família e o enfrentamento das desigualdades de gênero – o desafio de promover o reordenamento do espaço doméstico e o acesso das mulheres ao espaço público”. Relatório Compreensivo de Pesquisa. Apresentado ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e ao Department for International Development (DFID) por Agende Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento.
TAVARES DOS SANTOS, José Vicente. 1978. Colonos do vinho: estudo sobre a subordinação do trabalho camponês ao capital. São Paulo, Hucitec.
VASCONCELLOS, Eduardo Alcântara de. 1991. “Crianças rurais e acesso à escola: sugestões de política pública”. São Paulo em Perspectiva, 5 (1): 93-98.
WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. 2004. “Olhares sobre o “rural” brasileiro”. Revista Raízes, 23 (1-2).
WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. 2006. “Juventude rural: vida no campo e projetos para o futuro”. Relatório de pesquisa.
WOORTMANN, Klass. 1990. “Migração, família e campesinato”. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 7, n. 1: 35-53.
WOORTMANN, Ellen F. e WOORTMANN, Klaas. 1997. O trabalho da terra: a lógica simbólica da lavoura camponesa. Brasília, Editora da UnB.
YAMIN, Giane Amaral e MELLO, Roseli Rodrigues. 2004. “Um estudo de caso para a compreensão da infância rural”. II Seminário Internacional de Pesquisa e Estudos Qualitativos: a pesquisa qualitativa em debate. Bauru. II Seminário Internacional de Pesquisa e Estudos Qualitativos: a pesquisa qualitativa em debate.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2018 Revista de Antropologia
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Revista de Antropologia concordam com os seguintes termos:
a) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) após o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).