O quarto ao lado: terror, intimidade e processos de Estado em meio a um conflito agrário.
DOI:
https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.218724Palavras-chave:
conflito agrário, terror, intimidade, processos de Estado, silêncioResumo
Neste artigo, volto-me a um conflito agrário que contou com um episódio de violência sexual. Persigo os processos de Estado e as relações de intimidade em que se articula o terror no transcurso desse conflito. Em estreito diálogo com os argumentos de Michael Taussig e Veena Das, discuto acerca: a) da incomensurabilidade do terror produzida em meio a práticas policiais e judiciais; e b) do silêncio que permite a vida após o evento traumático. Para tanto, valho-me das anotações e memórias do que vivi durante os dois anos de acompanhamento do caso, de uma entrevista em profundidade junto a uma liderança da comunidade de posseiros e da análise dos autos judiciais em torno do conflito agrário e do episódio de violência sexual.
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