Evolução da ingestão de energia e nutrientes no Brasil entre 2008–2009 e 2017–2018

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003343

Palavras-chave:

Consumo de Alimentos, Ingestão de Energia, Deficiências Nutricionais, epidemiologia, Alimentos, Dieta e Nutrição, Inquéritos sobre Dietas

Resumo

OBJETIVO:

Avaliar a evolução da ingestão de energia e nutrientes e a prevalência de inadequação da ingestão de micronutrientes segundo características sociodemográficas e regiões brasileiras.

MÉTODOS:

Foi analisado o consumo alimentar de 32.749 indivíduos do Inquérito Nacional de Alimentação da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008–2009, por dois registros alimentares, e de 44.744 indivíduos a partir de dois recordatórios de 24 horas em 2017–2018. Estimaram-se a ingestão usual e o percentual de indivíduos com consumo abaixo da necessidade média para cálcio, magnésio, fósforo, cobre e zinco, vitaminas A, C, D, E, tiamina, riboflavina, piridoxina e cobalamina. A ingestão de sódio foi comparada ao valor de referência para reduzir risco de doenças crônicas. As análises foram estratificadas por sexo, faixa etária, região e renda.

RESULTADOS:

A ingestão energética diária média foi de 1.753 kcal em 2008–2009 e 1.748 kcal em 2017–2018. As prevalências de inadequação mais elevadas (> 50%) nos dois períodos foram de cálcio, magnésio, vitaminas A, D e E, piridoxina e, somente entre adolescentes, fósforo. Houve aumento na prevalência de inadequação de vitamina A, riboflavina, cobalamina, magnésio e zinco entre as mulheres, e de riboflavina entre os homens. A prevalência de inadequação diminuiu para a tiamina. A ingestão de sódio foi excessiva em aproximadamente 50% da população nos dois períodos. As variações mais altas (cerca de 50%) nas prevalências de inadequação entre os extremos de renda (< 0,5 salário-mínimo e > 2 salários-mínimos per capita) foram observadas para vitamina B12 e C nos dois períodos. As regiões Norte e Nordeste apresentaram maiores prevalências de inadequação.

CONCLUSÃO:

Ambos os inquéritos verificaram prevalências elevadas de inadequação de ingestão de nutrientes e consumo excessivo de sódio. A inadequação varia de acordo com os estratos de renda, aumentando nas regiões mais pobres do país.

 

Referências

Afshin A, Sur PJ, Fay KA, Cornaby L, Ferrara G, Salama JS, et al; GBD 2017 Diet Collaborators. Health effects of dietary risks in 195 countries, 1990-2017: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2017. Lancet. 2019;393(10184):1958-72. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(19)30041-8

Food and Agriculture Organization; International Fund for Agricultural Development; United Nations International Children’s Emergency Fund; World Food Programme; World Health Organization. The State of Food Security and Nutrition in the World, 2020: transforming food systems for affordable healthy diets. Rome (IT): FAO; 2020.

United Nations, Department of Economic and Social Affairs. The Millennium Development Goals Report 2015. New York: UN; 2015 [cited 2021 Mar 9]. Available from: https://www.un.org/development/desa/publications/mdg-report-2015.html

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa Nacional de Saúde, 2019: atenção primária à saúde e informações antropométricas: Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2020 [cited 2020 Out 29]. Available from: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101758.pdf

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: análise da segurança alimentar no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2020 [cited 2020 Oct 29]. Available from: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101749.pdf

Segal L, Opie RS. A nutrition strategy to reduce the burden of diet related disease: access to dietician services must complement population health approaches. Front Pharmacol. 2015;6:160. https://doi.org/10.3389/fphar.2015.00160

Bourre JM. Effects of nutrients (in food) on the structure and function of the nervous system: update on dietary requirements for brain. Part 1: micronutrients. J Nutr Health Aging. 2006;10(5):377-85.

Tardy AL, Pouteau E, Marquez D, Yilmaz C, Scholey A. Vitamins and minerals for energy, fatigue and cognition: a narrative review of the biochemical and clinical evidence. Nutrients. 2020;12(1):228. https://doi.org/10.3390/nu12010228

European Food Safety Authority. Panel on Dietetic Products, Nutrition, and Allergies (NDA). Scientific opinion on principles for deriving and applying Dietary Reference Values. EFSA J. 2010;8(3):1458. https://doi.org/10.2903/j.efsa.2010.1458

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2020 [cited 2020 Oct 29]. Available from: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101742.pdf

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2011 [cited 2020 Oct 29]. Available from: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv50063.pdf

Moshfegh AJ, Rhodes DG, Baer DJ, Murayi T, Clemens JC, Rumpler WV, et al. The US Department of Agriculture Automated Multiple-Pass Method reduces bias in the collection of energy intakes. Am J Clin Nutr. 2008;88(2):324-32. https://doi.org/10.1093/ajcn/88.2.324

Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA). Versão 7.1. São Paulo: Universidade de São Paulo, Food Research Center; 2020 [cited 2020 Oct 29]. Available from: http://www.tbca.net.br

International Network of Food Data Systems. Standards and guidelines. Rome (IT): FAO; 2019 [cited 2020 Oct 29]. Available from: http://www.fao.org/infoods/infoods/standards-guidelines/en/

Tooze JA, Midthune D, Dodd KW, Freedman LS, Krebs-Smith SM, Subar AF, et al. A new statistical method for estimating the usual intake of episodically consumed foods with application to their distribution. J Am Diet Assoc. 2006;106(10):1575-87. https://doi.org/10.1016/j.jada.2006.07.003

Institute of Medicine (US), Subcommittee on Interpretation and Uses of Dietary Reference Intakes. Dietary Reference Intake: applications in dietary assessment. Washington, DC: National Academies Press; 2000. https://doi.org/10.17226/9956

National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine; Health and Medicine Division; Food and Nutrition Board; Committee to Review the Dietary Reference Intakes for Sodium and Potassium. Dietary reference intakes for sodium and potassium. Washington, DC: National Academies Press; 2019. https://doi.org/10.17226/25353

Stover PJ, Garza C, Durga J, Field MS. Emerging concepts in nutrient needs. J Nutr. 2020;150 Suppl 1:2593S-601S. https://doi.org/10.1093/jn/nxaa117

Souza AM, Barufaldi LA, Abreu GA, Giannini DT, Oliveira CL, Santos MM, et al. ERICA: intake of macro and micronutrients of Brazilian adolescents. Rev Saude Publica. 2016;50 Suppl 1. https://doi.org/10.1590/s01518-8787.2016050006698

Institute of Medicine (US), Standing Committee on the Scientific Evaluation of Dietary Reference Intakes. Dietary reference intakes for calcium, phosphorus, magnesium, vitamin d, and fluoride. Washington (DC): National Academies Press; 1997. https://doi.org/10.17226/5776

Batista RMBF, Martins DE, Wajchenberg M, Lazaretti M, Puertas EB, Hayashi LF. Association between vitamin d levels and adolescent idiopathic scoliosis. Coluna/Columna. 2014;13(4):275-8. https://doi.org/10.1590/S1808-18512014130400432

Roman Viñas B, Ribas Barba L, Ngo J, Gurinovic M, Novakovic R, Cavelaars A, et al. Projected prevalence of inadequate nutrient intakes in Europe. Ann Nutr Metab. 2011;59(2-4):84-95. https://doi.org/10.1159/000332762

Beal T, Massiot E, Arsenault JE, Smith MR, Hijmans RJ. Global trends in dietary micronutrient supplies and estimated prevalence of inadequate intakes. PLoS One. 2017;12(4):e0175554. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0175554

Han S, Wu L, Wang W, Li N, Wu X. Trends in dietary nutrients by demographic characteristics and BMI among US adults, 2003-2016. Nutrients. 2019;11(11):2617. https://doi.org/10.3390/nu11112617

Martini LA, Verly Jr E, Marchioni DM, Fisberg RM. Prevalence and correlates of calcium and vitamin D status adequacy in adolescents, adults, and elderly from the Health Survey-São Paulo. Nutrition. 2013;29(6):845-50. https://doi.org/10.1016/j.nut.2012.12.009

Willett WC, Ludwig DS. Milk and health. N Engl J Med. 2020;382(7):644-54. https://doi.org/10.1056/nejmra1903547

Mill JG, Malta DC, Machado IE, Pate A, Pereira CA, Jaime PC, et al. Estimativa do consumo de sal pela população brasileira: resultado da Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Rev Bras Epidemiol. 2019;22 Supl 2:E190009.Supl.2.

Malta DC, Morais Neto OL, Silva Junior JB. Apresentação do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis no Brasil, 2011 a 2022. Epidemiol Serv Saude. 2011;20(4):425-38. https://doi.org/10.5123/S1679-49742011000400002

World Health Organization. Guideline: sodium intake for adults and children. Geneva (CH): WHO; 2012 [cited 2020 Oct 29]. Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/77985

O’Donnell MJ, Xavier D, Liu L, Zhang H, Chin SL, Rao-Melacini P, et al. Risk factors for ischaemic and intracerebral haemorrhagic stroke in 22 countries (the INTERSTROKE study): a case-control study. Lancet. 2010;376(9735):112-23. https://doi.org/10.1016/s0140-6736(10)60834-3

Saedisomeolia A, Ashoori M. Riboflavin in human health: a review of current evidences. Adv Food Nutr Res. 2018;83:57-81. https://doi.org/10.1016/bs.afnr.2017.11.002

Bailey RL, Akabas SR, Paxson EE, Thuppal SV, Saklani S, Tucker KL. Total usual intake of shortfall nutrients varies with poverty among US adults. J Nutr Educ Behav. 2017;49(8):639-46.e3. https://doi.org/10.1016/j.jneb.2016.11.008

Araujo MC, Verly Junior E, Junger WL, Sichieri R. Independent associations of income and education with nutrient intakes in Brazilian adults: 2008-2009 National Dietary Survey. Public Health Nutr. 2014;17(12):2740-52. https://doi.org/10.1017/s1368980013003005

Verly Junior E, Cesar CLG, Fisberg RM, Marchioni DM. Socio-economic variables influence the prevalence of inadequate nutrient intake in Brazilian adolescents: results from a population-based survey. Public Health Nutr. 2011;14(9):1533-8. https://doi.org/10.1017/s1368980011000760

Park Y, Dodd KW, Kipnis V, Thompson FE, Potischman N, Schoeller DA, et al. Comparison of self-reported dietary intakes from the Automated Self-Administered 24-h recall, 4-d food records, and food-frequency questionnaires against recovery biomarkers. Am J Clin Nutr. 2018;107(1):80-93. https://doi.org/10.1093/ajcn/nqx002

Swinburn BA, Kraak VI, Allender S, Atkins VJ, Baker PI, Bogard JR, et al. The Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change: The Lancet Commission report. Lancet. 2019;393(10173):791-846. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)32822-8

High Level Panel of Experts, Committee on World Food Security. Investing in smallholder agriculture for food security: a report by the High Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition. Rome (IT): HLPE; 2013 [cited 2020 Oct 29]. Available from: http://www.fao.org/3/a-i2953e.pdf

Brasil. Lei N° 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Brasília, DF; 2006 [cited 2021 Mar 9]. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11346.htm

Brasil. Emenda Constitucional, N° 64, de 4 de fevereiro de 2010. Altera o art. 6° da Constituição Federal, para introduzir a alimentação como direito social. Brasília, DF; 2010 [cited 2021 Mar 9]. Available from: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc64.htm

Publicado

2021-12-08

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Verly Junior, E., Marchioni, D. M. ., Araujo, . M. C., De Carli, E. ., Oliveira, D. C. R. S. de ., Yokoo, E. M. ., Sichieri, R., & Pereira, R. A. (2021). Evolução da ingestão de energia e nutrientes no Brasil entre 2008–2009 e 2017–2018. Revista De Saúde Pública, 55(Supl.1), 1-22. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003343

Dados de financiamento