O consumo de calmantes e o "problema de nervos" entre lavradores

Autores/as

  • Brani Rozemberg Escola Nacional de Saúde Pública; Departamento de Ciências Biológicas

DOI:

https://doi.org/10.1590/S0034-89101994000400010

Palabras clave:

Psicotrópicos^i1^suso tera, População rural, Hábitos de consumo de medicamentos

Resumen

O "problema de nervos" surgiu como tema de estudo durante inquérito de morbidade referida, quando foram entrevistados 93 adultos, lavradores, em 25 comunidades rurais da região serrana do Estado do Espirito Santo, Brasil, sobre os problemas de saúde nas últimas 48h. Dentre os entrevistados, 30% relataram "problema de nervos" para si e/ou familiares, o que resultou em 34 depoimentos sobre esse problema distribuídos proporcionalmente entre colonos e proprietários e entre os sexos. Em 11 relatos (32%) o excesso de trabalho aparece como desencadeador privilegiado de "nervos". Em 88% dos casos, o uso de pelo menos uma dentre 26 drogas psicotrópicas referidas é regular, sendo a dependência explicitada em 47% deles. A referência a esses remédios sobrepõe-se ou substitui a descrição do problema em 18 relatos (53%), refletindo a introjeção do discurso e práticas médicas pela população. A fragilidade dos limites entre normal e patológico, evidente nas descrições de "nervos" obtidas, reforça o caráter de síndrome interpretada culturalmente. O consumo de calmantes concorre para a manutenção de "nervos" como fenômeno individual e do "nervoso" no papel de "doente crônico", obscurecendo os motivos de seu sofrimento. A facilidade de obtenção das drogas é discutida em relação aos macro-determinantes do consumo de medicamentos.

Publicado

1994-08-01

Número

Sección

Artigos Originais

Cómo citar

Rozemberg, B. (1994). O consumo de calmantes e o "problema de nervos" entre lavradores . Revista De Saúde Pública, 28(4), 300-308. https://doi.org/10.1590/S0034-89101994000400010