Livros que as mulheres (não) devem ler: impressos licenciosos no Brasil no final do Oitocentos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/va.i43.197168

Palavras-chave:

século XIX, literatura luso-brasileira, literatura licenciosa, Amar gozar morrer, Cocotes e conselheiros

Resumo

Extremamente populares entre os leitores das principais cidades do país, os livros licenciosos eram uma preocupação constante entre a sociedade conservadora. Sem poder contar com a lei para reprimir e exterminar definitivamente o consumo de pornografia, clamava-se às autoridades políticas que agissem em favor do pudor público. A popularidade do gênero é revelada sobretudo pelos anúncios das livrarias e pelas críticas preocupadas quanto ao efeito pernicioso desses livros. Anônimos ou não, os impressos forneciam um arsenal farto de informações sobre sexo que poderiam ser aprendidas por moças e mulheres de família. Era uma literatura perigosamente pedagógica: ensinava como sentir prazer, estando uma mulher só ou acompanhada. Mostrava mulheres vivendo de maneira autônoma, sem punições ou consequências. Neste artigo, vamos conhecer dois desses livros: o anônimo Amar, gozar, morrer (c.1878) e Cocotes e conselheiros (1887), do pseudônimo Rabelais. Percorrendo as fontes primárias e comentando estes e outros livros, buscamos ampliar o nosso conhecimento sobre a literatura – e as leitoras – do período.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Aline Moreira, Universidade Estadual do Rio de Janeiro

    Doutoranda em Literaturas Portuguesa e Brasileira no Departamento de Espanhol e Português da UCSB (início em 2020). Doutoranda em Teoria da Literatura e Literatura Comparada no Programa de Pós-graduação em Letras da UERJ (início em 2019). Mestrado em Estudos Literários pelo Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da Faculdade de Formação de Professores da UERJ (2018). Especialização em Estudos Literários pela mesma instituição (2015). Graduação em Letras - Português/Literatura pela Universidade Veiga de Almeida (2013). Entre 2016 e 2018, foi bolsista de dedicação exclusiva da CAPES (2016-2018). Atualmente, desenvolve pesquisa sobre a circulação de livros licenciosos portugueses no Rio de Janeiro a partir da segunda metade do século XIX e início do XX, com base em informações coletadas na imprensa periódica. Tem interesse na prosa de ficção oitocentista brasileira, portuguesa e francesa; naturalismo literário; literatura pornográfica; história cultural; e história do livro e da leitura. Atualmente, também atua como Teaching Assistant no Departamento de Espanhol e Português da UCSB, ensinando cursos de português como língua estrangeira para alunos da graduação. Ainda, membro do Centro de Estudos Portugueses e da revista Santa Barbara Portuguese Studies, também na UCSB.

Referências

AMAR, Gozar, Morrer: recordações da mocidade. Nova edição integral, revista e anotada. Lisboa: INDEX ebooks, 2020.

BRASIL. Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890. Código Penal. Promulgação. Decretos do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, Poder Executivo, Rio de Janeiro, Coleção de Leis do Brasil - 1890, Página 2664 Vol. Fasc.X. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 28 jul. 2018.

CLELAND, John. Fanny Hill: memórias de uma mulher do prazer. Trad. D. P. Ramos. São Paulo: Nova Época Editorial, 1979.

DARNTON, Robert. Sexo dá o que pensar. In: NOVAES, Adauto (Org.). Libertinos libertários. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p. 21-42.

DAS NEVES, L. M. B. P.; VILLALTA, L. C. (Orgs.). A Impressão Régia e as novelas. In: DAS NEVES, L. M. B. P.; VILLALTA, L. C. Quatro novelas em tempos de D. João. Rio de Janeiro: Casa da Palavras, 2008. pp. 9-66.

EL FAR, Alessandra. Páginas de sensação: literatura popular e pornográfica no Rio de Janeiro (1870-1924). São Paulo: Cia. das Letras, 2004.

FINDLEN, Paula. Humanismo, política e pornografia no Renascimento italiano. In: HUNT, Lynn (Org.). A invenção da pornografia: obscenidade e as origens da modernidade. São Paulo: Hedra, 1999. p. 49-114.

JACOB, Margaret C. O mundo materialista da pornografia. In: HUNT, Lynn (Org.). A invenção da pornografia: obscenidade e as origens da modernidade. São Paulo: Hedra, 1999. p. 169-215.

LAJOLO, M. P. Eça de Queirós e suas leitoras mal comportadas. In: MINÉ, Elza; CANIATO, Benilde Justo Lacorte (Orgs.). 150 anos com Eça de Queirós. III Encontro Internacional de Queirosianos. São Paulo: Centro de Estudos Portugueses/FFLCH/USP, 1997. p. 438-445.

MAIA, Helder Thiago; LUGARINHO, Mário César. Litera(mão): Os serões do convento de José Feliciano de Castilho (prefácio). In: M.L. Os serões do convento. Lisboa: INDEX Ebooks, 2018.

MAIA, Helder Thiago; LUGARINHO, Mário; CUROPOS, Fernando. A lesbianidade gasta: prazer e regeneração em Amar, gozar, morrer. In: AMAR, Gozar, Morrer: recordações da mocidade. Nova edição integral, revista e anotada. Lisboa: INDEX ebooks, 2020.

MENDES, Leonardo; MOREIRA, Aline. Alfredo Gallis (1859-1910), pequeno naturalista. Convergência Lusíada, Rio de janeiro, v.32, n. 46, p 156-183, jul-dez 2021.

MENDES, Leonardo. Livros para homens: sucessos pornográficos no Brasil no final do século XIX. Cadernos do IL, Porto Alegre, n. 53, p. 173-191, jan. 2016.

MOREIRA, Aline. As matrizes da pornografia de Alfredo Gallis (1859-1910). Revista Letras, Curitiba, UFPR, n. 100, pp.133-151, jul./dez. 2019.

PEAKMAN, Julie. Mighty lewd books: the development of pornography in eighteenth-century England. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2003.

PIMENTEL, Figueiredo. O aborto. Organização de Leonardo Mendes e Pedro Paulo Garcia Ferreira Catharina. 1. ed. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015.

QUEIRÓS, José Maria Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Martin Claret, 2009.

RABELAIS (pseud. Alfredo Gallis). Cocotes e conselheiros. 2ª. ed. Porto: Empresa Literária e Tipográfica, 1907.

RENAULT, Delso. O dia-a-dia no Rio de Janeiro: segundo os jornais, 1870-1889. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1982.

Downloads

Publicado

2023-04-28

Edição

Seção

Dossiê 43: Sexo e sensibilidades eróticas na literatura luso-brasileira de Oitoc

Como Citar

MOREIRA, Aline. Livros que as mulheres (não) devem ler: impressos licenciosos no Brasil no final do Oitocentos. Via Atlântica, São Paulo, v. 24, n. 1, p. 48–82, 2023. DOI: 10.11606/va.i43.197168. Disponível em: https://periodicos.usp.br/viaatlantica/article/view/197168.. Acesso em: 21 nov. 2024.