Entre ingredientes, cozinhas e afetos: aspectos socioculturais de uma vida dedicada à comida
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v2i1p251-273Palavras-chave:
Alimentação, Afetos, Culinária, Memória, ConvívioResumo
É possível afirmar que, em alguma medida, todos os seres humanos são afetados pela culinária. Entre diferentes intensidades de afinidade com a comida, há um grupo que se destaca por nutrir uma relação mais intensa com a alimentação: os cozinheiros. Cozinheiras e cozinheiros podem ser vistos como humanos que trilham suas vidas junto à dos alimentos e dedicam-se a eles diariamente. Essa caminhada conjunta faz parte de uma jornada de vidas construída historicamente, composta por muitos momentos de experiência culinária, bem como por diversos aspectos simbólicos e culturais que antecedem a vivência dentro da cozinha. Nesse sentido, voltar a atenção para questões socioculturais e simbólicas que englobam a alimentação é essencial para compreender como a relação entre cozinheiros e culinária é formada. Cozinheiros não nasceram com uma conexão inata com os alimentos, eles criaram um poderoso afeto pela comida ao longo de suas vidas. Sendo assim, como é estabelecida esta íntima relação entre humanos que cozinham e a culinária? Quais aspectos socioculturais e simbólicos ajudam a construir essa rede de afetos? Este artigo se volta à análise teórica de três aspectos considerados importantes para essa relação: a memória, a comensalidade e o afeto. A comida deixa trilhas na vida dos seres humanos; cria memórias poderosas nos imaginários, convoca pessoas para o convívio e evoca sentimentos duradouros. Relatar esses aspectos mais abrangentes da alimentação é descrever uma parte da história da comida fundamental para todos os seres humanos, em especial, os cozinheiros.
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