Imaginar a comunidade nacional no sistema-mundo orientalista: o caso dos fundadores do romantismo português
DOI:
https://doi.org/10.11606/va.i1.201872Palavras-chave:
Alexandre Herculano, Almeida Garrett, orientalismo, sistema-mundo moderno, PortugalResumo
A obra dos portugueses Almeida Garrett (1799-1854) e Alexandre Herculano (1810-1877), tidos por iniciadores do romantismo português, não são de todo associadas ao Oriente, quanto mais ao orientalismo. Em trabalhos de carácter seja literário, seja historiográfico, Garrett e Herculano trataram, essencialmente, foi do domínio arábico-muçulmano da Península Ibérica durante a Idade Média, o que fez com que, na tradição crítica, as suas obras com essa temática ficassem circunscritas ao domínio do medievalismo romântico nacional. No nosso entender, a representação que esses dois importantes intelectuais fizeram do Islão contribuiu em muito para os seus desígnios estético-literários, ao mesmo tempo que a civilização arábico-muçulmana tivera especial relevo no conjunto das suas preocupações programáticas atinentes ao campo da cultura, da política e da pedagogia modernas. A partir da teoria do sistema-mundo moderno de Immanuel Wallerstein, defender-se-á que o orientalismo foi necessariamente importante para os dois escritores imaginarem a comunidade nacional portuguesa.
Downloads
Referências
BALIBAR, Étienne. We, the People of Europe?: Reflections on Transnational Citizenship. Trad. James Swenson. Princeton: Princeton University Press, 2004.
BOXER, Charles. Race Relations in the Portuguese Colonial Empire (1450-1825). Londres: Clarendon, 1963.
BUESCU, Helena Carvalhão. O poeta na cidade: a literatura portuguesa na história. Lisboa: Imprensa Nacional, 2019.
BUESCO, Helena Carvalhão.. Introdução. In Garrett, A. Camões. Lisboa: Imprensa Nacional, 2018, p. 11-24.
CATROGA, Fernando. Os passos do homem como restolho do tempo: memória e fim do fim da história. Coimbra: Almedina, 2009.
CATROGA, Fernado. A história começou a oriente. In: Hespanha, A. M. (org.). O orientalismo em Portugal: séculos XVI-XX. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1999, p. 197-239.
DJAIT, Hichem. Europe and Islam. Trad. Peter Heinegg. Oakland: University of California Press, 1985.
DOMÍNGUEZ, César. The South European Orient: A Comparative Reflection on Space in Literary History. Modern Language Quarterly, v. 67, nº 4, p. 419-449, 2006.
GARRETT, Almeida. Camões. Lisboa: Imprensa Nacional, 2018.
GARRET, Almeida. Dona Branca ou A conquista do Algarve. Paris: J.P. Aillaud, 1826.
GARRET, Almeida. Discursos parlamentares e memorias biographicas. Lisboa: Imprensa Nacional, 1871.
GARRET, Almeida. Obras. Vol. 2. Porto: Lello e Irmão Editores, 1966.
GARRET, Almeida. Portugal na balança da Europa: do que tem sido e do que ora lhe convem ser na nova ordem de coisas do mundo civilizado. Londres: S. W. Sustenance, 1830.
GROSRICHARD, Alain. Structure du sérail: la fiction du despotisme asiatique dans l'Occident Classique. Paris: Seuil, 1994.
HALL, Stuart. The West and the Rest: Discourse and Power. In HALL, S. e GIEBEN, B. (Orgs.). Formations of Modernity. Maidenhead: Open University Press, 1992, p. 275–320.
HALL, Stuart. Opúsculos. Vol. 8. Lisboa: Bertrand, 1843.
HALL, Stuart. Eurico, o presbítero. 41º ed. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d.
HALL, Stuart. Opúsculos. Vol. 5. Lisboa: Bertrand, 1886.
HALL, Stuart. História de Portugal: desde o começo da monarquia até ao fim do reinado de Afonso III. Vol. 1. Lisboa: Livraria Bertrand, 1980.
HERCULANO, Alexandre. O bobo. Lisboa: Livraria Bertrand, 1988.
HERCULANO, Alexandre. O Monge de Cister. 23º ed. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d.
HUGO, Victor. Oeuvres poétiques 1. Paris: Gallimard, 1964.
JOSEPH, Clara A. B. Christianity in India: The Anti-Colonial Turn. Londres e Nova Iorque: Routledge, 2019.
KAPS, Klemens (2016). Orientalism and the geoculture of the world system: discursive othering, political economy and the cameralist division of labor in Habsburg Central Europe (1713–1815). Journal of World-Systems Research, v. 22, nº 2, p. 315–348, 2016.
LOURENÇO, Eduardo. O labirinto da saudade. psicanálise mítica do destino português. 9ª ed. Lisboa: Gradiva, 2013.
LOURENÇO, Eduardo. Camões e a Europa. Matraga, nº 10, p. 27-39, 1988.
LOURENÇO, Eduardo. O orientalismo português e as jornadas de Tomás Ribeiro: caracterização de um problema. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, 2018.
LOURENÇO, Eduardo. De la clausura cristiana al cautiverio musulmán en Dona Branca (1826) de Almeida Garrett o el orientalismo del homo sentimentalis. Comunicação apresentada no CONGRESO VIRTUAL INTERNACIONAL Discursos cautivos: mujer, escritura y reclusión, Universitat de València, Valência, Espanha, Abril de 2021.
MACHADO, Everton V. Ficção romântica e orientalismo: projectando o futuro da colectividade humana através da lei em O monge de Cister (1848) de Alexandre Herculano. Comunicação apresentada no 14° CONGRESSO ALEMÃO DE LUSITANISTAS, Associação Alemã de Lusitanistas, Leipzig, Alemanha, Setembro de 2021.
MARTINS, Serafina. O oriente na literatura portuguesa: uma hipótese de sistematização. In Tocco, V. (org). L’Oriente nella língua e nella letteratura portoghese. Pisa: Edizioni ETS, 2010, p. 67-78.
NEUMANN, Iver B. Uses of the Other: “The East” in European Identity Formation. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1999.
PAGEAUX, Daniel-Henri. L’orientalisme littéraire. In Le grand atlas des littératures. Paris: Encyclopedia Universalis, 1990, p. 310-311.
SAID, Edward W. Orientalism: Western Conceptions of the Orient. Nova Iorque: Pantheon Books, 1978.
SAMMAN, Khaldoun e AL-ZO’BY, Mazhar. (orgs.). Islam and the Orientalist World-System. Londres: Paradigm Publishers, 2008.
SARAIVA, António José. A cultura em Portugal: teoria e história (livro ii). 2ª ed. Lisboa: Bertrand Editora, 1984.
SOUSA SANTOS, Boaventura de (2019). O Estado e a sociedade na semiperiferia do sistema mundial: o caso português. In SOUSA SANTOS, B. de, MENESES, M. P. et. al. (Orgs.). Construindo as epistemologias do Sul: para um pensamento alternativo de alternativas. Vol. 1. Buenos Aires: CLACSO, 2019, p. 347-396.
TAMDGIDI, Mohammad H. From Utopistics to Utopystics: Integrative Reflections on Potential Contributions of mysticism to World-Systems analyses and Praxes of historical alternatives. In: SAMMAN, K. e AL-ZO’BY, M. (orgs.). Islam and the Orientalist World-System. Londres: Paradigm Publishers, 2008, p. 202-219.
THOMAZ, Luís Filipe F. R. Estudos arabo islâmicos e orientais em Portugal. In KEMNITZ, E. von (org.). Estudos orientais. volume comemorativo do primeiro decénio do Instituto de Estudos Orientais (2002 -2012). Lisboa: Universidade Católica Editora, 2012, p. 13-32.
VAKIL, Abdoolkarim. Questões inacabadas: colonialismo, Islão e portugalidade. In CALAFATE RIBEIRO, M. e FERREIRA, A. P. (orgs.). Fantasmas e fantasias imperiais no imaginário português contemporâneo. Porto: Campo das Letras, 2003, p. 255 294.
WALLERSTEIN, Immanuel. The Modern World–System IV: Centrist Liberalism Triumphant, 1789–1914. Oakland: University of California Press, 2011.
WALLERSTEIN, Immanuel. Culture as the Ideological Battleground of the Modern World-System. Theory, Culture & Society, v. 7, nº 2-3, 1990, p. 31-55.
WALLERSTEIN, Immanuel. European Universalism: The Rhetoric of Power. Nova Iorque: The New Press, 2006.
WALLERSTEIN, Immanuel. World System’s Analysis: An Introduction. Durham: Duke University Press, 2004.
XAVIER, Ângela Barreto e ZUPANOV, Ines G. Catholic Orientalism: Portuguese Empire, Indian knowledge (16th-18th centuries). Nova Deli: Oxford University Press, 2015.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Everton V. Machado
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).