Xerafins, tangas e bazarucos: a moeda no Estado da Índia nos séculos XVI e XVII
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2024.215975Palabras clave:
cambista, Estado da Índia, história da moeda, Império Colonial Português, sarrafos, sistema monetárioResumen
A conquista de Goa e a formação do Estado da Índia foram acompanhadas pelo estabelecimento de uma zona monetária particular, diferenciada do regime da moeda de Portugal e baseada na tradução e no uso de espécies locais que tinham valor extrínseco referendados pelos poderes delegados. Os portugueses, assim, se utilizavam de uma milenar tradição monetária indiana. Para além da criação de Casas da Moeda e de oficinas monetárias que cunhavam peças de ouro, prata e cobre, com valores referenciados ao padrão monetário português (o real), o funcionamento dessa zona monetária dependia também da atividade dos xaraffo (do árabe ṣarrāf) ou sarrafo (na versão aportuguesada), como eram designados esses cambistas, especialistas no teste e na troca de moedas, que se encontravam em todas as feiras e mercados. Neste texto, além de compreender a formação dessa zona específica do sistema monetário do Império Português, queremos destacar o papel desempenhado por esses intermediários da moeda (sarrafos).
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